Autor: Luiz Eduardo Corrêa Lima (*)
"Muitas vezes os aplicativos são apenas indicativos de soluções, ou seja, quando muito, são apenas sedativos, porque acabam não são nada conclusivos em várias situações e assim, ficam deixando muito a desejar na tarefa que se propõem resolver e geram costumes indevidos e ineficazes, além de grandes frustações em seus respectivos usuários".
(Luiz Eduardo Corrêa Lima - 2025)
Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que não tenho nada contra aplicativos, ao contrário reconheço a necessidade e a utilidade desses programas de informática na resolução de inúmeros problemas, entretanto, há tanto aplicativo por aí, que nós estamos começando a "colocar o carro na frente dos bois" e esquecendo que saber ainda é mais importante do que apenas fazer.
Hoje em dia há aplicativos para quase tudo e os aplicativos resolvem os problemas sem se preocupar com os implicativos que possam ocorrer a partir da resolução do problema em si. Ou seja, os aplicativos são específicos nas suas ações e muitas vezes há necessidade de outro aplicativo para corrigir a ação do primeiro. Outras vezes, o aplicativo apenas ameniza uma situação, porém não é capaz de resolver toda a questão, atuando apenas como um facilitador ou um paliativo para determinada situação. Obviamente, como qualquer coisa sempre é melhor do que nada, este aplicativo, ainda que não totalmente eficaz, acaba sendo preferido em relação a questão proposta.
Deste modo, a geração cotidiana de aplicativos não tão aplicáveis assim, tem seguido em frente na vida moderna. Porque sempre existe um aplicativo para melhorar o outro, mas nem sempre para resolver eficazmente o problema proposto. Como eu já disse acima, penso que muitos aplicativos são placebos ou, no máximo, sedativos para problemas maiores, ou seja, não passam de paliativos. Entretanto, eles acabam sendo usados e tornam-se conclusivos de alguma coisa que alguém quer vender e que sempre tem alguém na comunidade a fim de comprar. Aplicativos são planos "A" para o comércio, mas nem sempre são soluções efetivas. Infelizmente, essa também é uma grande verdade.
Em tempos de Inteligência Artificial, os aplicativos passaram a ser meras contingência necessárias aos interesses da área de Informática e, obviamente, como o nome diz, são aplicáveis ativamente para tudo e para todos. Aliás, eu quero aqui fazer um desafio: será que há 15 anos o cidadão comum já tinha ouvido ou utilizado o vocábulo "aplicativo" com o mesmo sentido e a mesma frequência que se tem hoje? Além daqueles indivíduos que atuam cotidianamente na área de Informática, certamente, não.
Entretanto, hoje, tanto a palavra, como o produto "aplicativo" é uma das coisas mais repetidas das e usadas pela sociedade, como um todo. Embora, pouca gente, saiba realmente o que seja um aplicativo, todos conhecem a palavra e sabem como usar algum tipo de aplicativo, mesmo sem saber exatamente o que esse “negócio chamado aplicativo” seja de fato. É isso mesmo, a Informática é meio mágica para a grande maioria das pessoas, porque elas usam mais não entendem.
Isto é, o cidadão comum não entende, mas sabe onde e como aplicar o aplicativo e isso parece bastar. O Aplicativo é aplicável e não precisa ser entendido. O Aplicativo é assim uma espécie de Programa de Informática que alguém planejou, desenvolveu, vendeu e que outras pessoas compram e aplicam, porque "sabem que vai dar certo". Não sei, mas isso parece ser uma mágica, um milagre da tecnologia e obviamente, nem sempre dá certo. Contudo, o usuário só descobre as falhas, depois de adquiri-lo.
Aliás, na verdade, é mágica mesmo, ou melhor, é um truque e como todo truque pode, ocasionalmente, falhar. Entretanto, a falha, ainda que possa acontecer e muitas vezes acontece realmente, nunca está prevista no pacote de venda e compra do produto aplicativo. Então, meus amigos, é exatamente sobre isso que eu quero conversar um pouco neste artigo. Como ficam os usuários (compradores da ideia) quando os aplicativos falham ou simplesmente não funcionam como previsto? Ah! Eu sei, sempre existe o "famoso" desligue e ligue outra vez, que agora vai funcionar e às vezes funciona mesmo. Mas, ainda assim, na maioria das vezes continua falhando e aí, como resolver?
Existem várias palavras que podem descrever o sentimento de incapacidade dos usuários, quando eles passam por uma situação desse tipo. Eles ficam atônitos, desesperados, aterrorizados, aborrecidos, assustados e outras coisas. Porém, a melhor expressão que define esse trágico momento é a seguinte: "o usuário está numa sinuca de bico" e só a sorte poderá tirá-lo desta enrascada, haja vista que ele não faz nem ideia da possível solução, se é que existe uma solução para o caso.
E mais, geralmente a questão só poderá ser resolvida por quem desenvolveu o aplicativo e, na maioria das vezes não é possível encontrar quem seja essa pessoa (física ou jurídica) na hora e no local necessário. Pois então, meus amigos, a situação é realmente muito difícil. Entretanto, o pior ainda, é que nesses casos, quase nunca há solução, porque o aplicativo que corrige aquele aplicativo que deu problema, na maioria das vezes, ainda não foi inventado.
Em suma, alguém está vendendo aplicativos aos usuários e, ao mesmo tempo, também está brincando com a sorte deles. Quer dizer, o usuário de aplicativo é um apostador de loteria que, graças a Deus, acerta (ganha) mais do que erra (perde). Contudo, quando o apostador perde, ele está correndo sério risco de perder absolutamente tudo. Pois então, é preciso desenvolver um aplicativo contra os panes dos aplicativos, para garantir a segurança e a felicidade dos usuários.
Como esse aplicativo quase sempre não existe, há necessidade de partir para o plano "B" convencional, isto é, sem uso de aplicativos. Mas, nesse momento surge outro problema, muito maior do que o inicial. O problema é que a maioria das pessoas (usuários de aplicativos), se quer, sabem da existência de um plano "B". As pessoas não estão preparadas para resolver problemas, elas apenas usam aplicativos. Desta maneira, quando os aplicativos ou as soluções eletrônicas falham, tudo que estava caminhando bem, simplesmente acaba e o caos se instala.
Vou dar um exemplo real que presenciei no período da Pandemia. Uma senhora teve que ir ao laboratório porque o médico solicitou uma série de exames sanguíneos. Bom, até aí tudo bem, porque fazer exames é algo corriqueiro que acontece com qualquer pessoa. A Senhora foi levada a um grande e conhecido laboratório e achou estranho que já era relativamente tarde e a recepção do laboratório ainda estivesse lotada e que o trabalho não tivesse começado. Ainda mais, que estávamos em plena Pandemia.
A hora foi passando e num espaço que cabia relativamente bem, cerca de 30, já havia umas 50 pessoas e chegando sempre mais. Quando já tinha muita gente do lado de fora, alguém resolveu perguntar a uma das atendentes o que estava acontecendo e a coitada da funcionária respondeu: "deve ser algo muito simples, o aplicativo que faz toda a organização dos exames e que elabora as planilhas para identificação e orientação dos pacientes e consequentemente apresenta os resultados depois dos exames não está funcionando e estão procurando o responsável ou alguém para resolver o problema". Já era mais de 10 horas e tinha gente ali desde as 7 horas da manhã, sem comer nada, desde a noite anterior, porque essa é uma exigência dos exames de sangue (12 horas de jejum).
Nesse momento, há um empurra-empurra na porta e entra um Senhor, bastante idoso e debilitado, que tinha urgência para alguns exames e a coisa complicou bastante porque o filho do Senhor se alterou, em função daquele absurdo que estava acontecendo. Nessas alturas, muitos já haviam desistido e ido embora, mas ainda havia cerca de 80 pessoas no local, esperando para serem atendidas e as meninas do atendimento não sabiam como proceder, exatamente porque nunca fizeram as fichas manualmente, haja vista que o Aplicativo fazia tudo e depois elas só imprimiam.
Eu também resolvi desistir e não sei como a história terminou, mas o fato é que sem o aplicativo ninguém resolveu o problema que era "muito simples". Era realmente muito simples, bastava apenas seguir um plano "B", onde as atendentes fariam as fichas manualmente e encaminhariam as pessoas para as salas de exames, mas, aparentemente, ninguém sabia como fazer isso. As Técnicas de enfermagem que coletam o sangue ficaram paradas porque não podiam fazer os exames sem ter as fichas e as assinaturas dos pacientes e o trabalho não andou no laboratório.
Ninguém sabia como proceder. Não houve orientação e nem coordenação e o caos se instalou. É triste, mas esta é a verdade do vício e da dependência total dos aplicativos. Se não tem o aplicativo, não é possível resolver o problema. Caramba! Então, como é que as coisas funcionavam antes dos aplicativos? Essas "metodologias antigas" necessitam continuar sendo ensinadas nas escolas, independentemente da existência dos aplicativos, para que não corramos o risco de criar problemas maiores, quando esses aplicativos não funcionarem.
Penso que está na hora das pessoas serem menos dependentes dos aplicativos e mais capazes de, pelo menos, tentar resolver problemas de outra maneira que não sejam os aplicativos. Antes eles não existiam, mas o mundo seguia normalmente e as coisas aconteciam porque todos estavam preparados, mas agora o aplicativo parece ser a única solução e isso é muito perigoso. Está parecendo que as pessoas estão realmente acreditando nos "milagres dos aplicativos" e esquecendo que "milagres não existem" e se até existirem, eles são prerrogativas divinas e não são programáveis como os aplicativos.
Talvez a Inteligência Artificial também venha resolver essa questão, mas, por enquanto, ainda continuaremos perdidos, como cegos em tiroteio, haja vista que todo mundo usa e abusa dos aplicativos, mas quase ninguém entende das mágicas que fazem eles funcionarem. Está na hora de começarmos a compreender que as máquinas e os aplicativos são ferramentas e como tal, às vezes não funcionam direito e nós, os humanos, é quem temos que produzir soluções para os problemas
Os aplicativos são boas ferramentas, mas não são perfeitos e somos nós que temos que desenvolver os mecanismos de respostas, quando surgem os problemas. Para isso, precisamos ter gente capaz na realização das atividades com ou sem máquinas e aplicativos. Não basta apenas ficarmos apertando botões ou teclas e esperando que a mágica aconteça, precisamos ter sempre um plano "B" que seja capaz de ser operado, mas, sobretudo, precisamos ter gente que sabe o que está fazendo e reconhece a importância e a responsabilidade daquilo que faz. Quando o milagre não acontecer, tem que existir alguém que resolva operacionalmente o problema, sem que tenha de ocorrer um novo milagre.
Eu sei que não parece, mas isso também é uma questão de Educação. É preciso ter claro na mente de nossos aprendizes e principalmente na mente de nossos professores, que fazer sem entender é macaquear e muitos de nós (inclusive eu), quando utilizamos um aplicativo qualquer somos meros consumidores, pois não temos a devida dimensão do que seja o produto comprado e, o que é pior ainda, é que somos geralmente ilustres "macacos de imitação", que apenas repetimos aquela "coisa". É preciso cuidar para que não ocorram surpresas inesperadas no uso dos Aplicativos.
A Escola e a Educação são responsáveis diretos por fazer essa curadoria e assim evitar problemas atuais e futuros oriundos com o uso cotidiano de aplicativos que dispensam qualquer ação cognitiva, além de simplesmente decorar uma sequência de cliques numa tecla. As pessoas estão viciadas nos aplicativos, mas eles não resolvem tudo e muitas vezes não resolvem nem as questões básicas que necessitam de entendimento e algum raciocínio. Os Aplicativos são ferramentas úteis, mas são incapazes de fazer os milagres do entendimento e do aprendizado. A escola deve se preocupar mais em formar cabeças pensantes e não papagaios falantes e ou macacos repetidores.
Sempre é bom lembrar que somos humanos e que tudo o que existe de tecnologia, inclusive os aplicativos, são coisas produzidas por humanos. Cabe ressaltar também, que os Aplicativos e a própria Inteligência Artificial dependem exclusivamente da capacidade e da Inteligência Natural humana para se desenvolverem e para tentar criar soluções melhores para os velhos e novos problemas que afligem a humanidade.
Meus amigos, não existe mágica na natureza. O que existe é ensinamento e estudo, aprendizado e compreensão e só depois deve vir o trabalho efetivo e aplicação consciente. Não é possível inverter essa ordem de eventos. Com o uso de Aplicativos não pode ser diferente. Pensem nisso!
*LUIZ EDUARDO CORRÊA LIMA
Biólogo (Zoólogo);
Professor;
Pesquisador;
Escritor;
Revisor; e
Ambientalista
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