Não sei bem o porquê, mas a verdade é que eu nunca gostei de padrões. Padronizar as situações, entidades ou mesmo os objetos sempre me pareceu algo desagradável e estranho, além de ser uma maneira de descaracterizar essas mesmas situações, entidades ou objetos.
Aliás, na minha maneira particular de entender, considero que padronizar é um absurdo, porque padronizar é artificializar as situações, as entidades e objetos num interesse qualquer, definido por alguém, que muitas vezes não tem a ver e nem sabe nada sobre a situação, a entidade ou o objeto em questão.
No que se refere as escolas, que são entidades que tratam com pessoas (seres humanos), isso me parece mais estranho, mais ilógico e mais absurdo ainda. Até porque a escola é uma entidade diferente e especial, que trata sobre a educação e o aprendizado de pessoas e sempre é bom lembrar que pessoas, além de não serem objetos quaisquer, pensam e respondem a estímulos e obviamente não podem nem devem ser tratados de uma maneira comum e padronizada.
Padronizar é uma atitude comum aos burocratas, os sujeitos que praticam e adoram a burocracia, aqueles indivíduos que criam entraves e sempre se acham mais importantes do que de fato são.
A burocracia é algo que me incomoda muito e o burocrata é alguém que procura padronizar tudo o que pode. Isto é, um sujeito que sempre cria uma condição artificial no seu próprio interesse, tornando as questões quase sempre mais complicadas do que fato elas realmente são. E mais, esse sujeito faz isso, sempre visando o seu próprio interesse, mudando a realidade à sua volta e principalmente, deixando de lado, muitas vezes, por puro capricho, a verdadeira natureza das coisas e das pessoas envolvidas, as quais passam a ter que seguir a nova condição criada artificialmente por ele.
Se fizermos uma rápida investida ao dicionário à procura de encontrar um melhor conceito para as palavras burocracia e padronização, certamente encontraremos algumas definições que, em certo sentido, nos dirigirão a uma quase sinonímia entre ambas por vários aspectos. Essas duas palavras, embora tenham grafias muito distintas, tratam de assuntos muito próximos e comuns no que se refere a organização das instituições. Ambas visam estabelecer obediências hierárquicas organizacionais dentro de um sistema classificatório. Mas isso, na grande maioria das vezes, não condiz com a verdade que se observa nos sistemas institucionais em questão.
Uma cria a regra (padronização) e a outra desenvolve o modelo rígido dentro daquela regra (burocracia), entretanto, nenhuma das duas procura saber especificamente sobre a natureza daquilo que está sendo trabalhado. É como se fosse um saco genérico cheio de coisas distintas, mas onde tudo o que está dentro desse saco é considerado exatamente igual, sob todos os aspectos e assim, tudo é tratado da mesma maneira, sem nenhum respeito às peculiaridades e às individualidades.
Por outro lado, é preciso que seja dito, que a educação e as escolas têm feito com as pessoas, ao longo da história, é exatamente isso, ou seja, artificializar as suas naturezas, criando padrões imaginários que se supõem sejam corretos. Isto é, as escolas vêm padronizando, ou melhor, "coisificando" as pessoas histórica e progressivamente e consequentemente burocratizando (complicando) o ensino.
Mas, a questão educacional está entravada exatamente aí. O que deve ser considerado correto? Por que isso deve ser considerado correto? Qual o critério para definir o que é correto? Quem estabeleceu que esse critério ou essa condição como correta? Enfim, por que tem que existir uma padronização curricular, se a realidade e a necessidade podem ser e geralmente são diferentes?
É claro e óbvio que há necessidade de se estabelecer um mecanismo de orientação e um certo balizamento, quando se fala de ensino e educação, mas isso não quer dizer que se deva engessar toda a educação dentro de normas rígidas e intransponíveis, como se o processo educacional estivesse numa redoma totalmente fechada. Até porque, ao meu ver, isso além de restringir a capacidade individual, acaba mascarando a inteligência e obstruindo a criatividade do aluno (estudante), o que certamente são atitudes antipedagógicas, ou melhor, são atitudes que deseducam.
A história tem nos mostrado que nem sempre os grandes gênios das artes e das ciências foram "bons alunos". Aliás, ao contrário, em geral esses gênios foram (são) pessoas inconformadas e insatisfeitas com as escolas e com os padrões nelas estabelecidos. Esses sujeitos eram (são) pessoas avessas às normas das escolas e por isso mesmo não eram (são) "bons alunos", ou pelo menos não eram (são) "bons alunos" no conceito padronizado esperado pelas escolas e seus tutores. Há inclusive quem defenda que eles só foram efetivamente gênios porque fugiram aos padrões tradicionais estabelecidos.
Assim, tem me preocupado bastante o fato de que o país está criando e estabelecendo (já estabeleceu) um "novo modelo" curricular para o Ensino Médio, desenvolvido por burocratas e que pretende ser mais um "padrão nacional". Será que o Brasil, o quinto país do mundo em área geográfica (muito maior que toda a Europa), com a sexta população do planeta (208 milhões de habitantes) deve mesmo estabelecer um "novo modelo" curricular assim?
Peço vênia, aos mais entendidos no assunto, mas penso que isso é mais uma ilogicidade nacional e, o que é pior ainda, trata-se de uma inconveniência grotesca com a nação brasileira. Penso que ao invés de um "novo modelo" rígido, deveríamos ter critérios amplos e deveríamos estabelecer possibilidades de favorecimento àquilo que transcendesse aos padrões criados. Um país como o nosso não precisa e não pode ter padrões curriculares e vou tentar demonstrar porque penso assim.
Na educação, infelizmente estamos cheios de burocratas e assim a questão educacional emperra e se complica muito mais por conta dessa burocracia idiotizante do que qualquer outra coisa pertinente. Mas, obviamente, eu e quero crer que a maioria das pessoas de senso, acredita que isso não deveria, de maneira alguma, ser dessa forma. Isto é, o processo educacional deveria ser mais leve, mais flexível e menos emperrado. Até porque a educação é uma questão especial, que destaca o homem das demais formas vivas e não deveria ser tratada como uma questão qualquer dentro de um saco onde existem outras coisas. A educação tem que ser algo de trato diferenciado e a burocracia, filha pródiga da padronização, com sua característica genérica, vulgariza a educação e só complica e prejudica o processo educacional.
A educação é certamente a mais importante das questões humanas e deve ser considerada como prioridade absoluta sobre todas as demais questões que dizem respeito a humanidade, mormente em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. A burocracia educacional atravanca todo o processo e isso é inadmissível num país que precisa educar seu povo para se desenvolver mais e galgar um lugar melhor entre as diferentes nações do mundo.
Estou convencido de que "quanto mais se burocratiza e padroniza a educação, menos se educa efetivamente". Assim, a ideia de desenvolver e investir em modelos únicos num país como o nosso, além de ser uma falácia impraticável e um retrocesso sociológico, também significa esquecer os possíveis padrões naturais do Brasil e culturais do povo brasileiro. Ora, certamente, esse esquecimento não é nada conveniente, principalmente quando se trata de educação, pois como será possível educar as pessoas desconsiderando a realidade à sua volta?
Os Padrões Curriculares Nacionais (PCNs) estabelecidos pelo Ministério da Educação como modelos educacionais para o país, falam o tempo todo na necessidade de contextualização, mas agora mesmo, só para dar um exemplo, o governo está estabelecendo a padronização do currículo do Ensino Médio e gritando aos quatro ventos que isso é um grande negócio. Ora, isso não faz nenhum sentido. Talvez até seja preciso padronizar mecanismos (procedimentos) de ensino, mas não se deve padronizar currículos jamais, haja vista que os currículos devem surgir da necessidade próxima.
Penso que deveriam ser estabelecidos princípios educacionais claros e suficientemente abrangentes, a partir dos quais seriam desenvolvidos os currículos, de acordo com as realidades e as necessidades regionais, ou mesmo locais, desse país continental.
A padronização curricular, imposta pela burocracia governamental, a meu ver, certamente irá prejudicar o processo educacional como um todo. Os alunos terão sua realidade modificada por um conhecimento irreal e muitas vezes aviltada por informações menos importantes do que aquelas que lhes são mais próximas. Por sua vez, os professores deverão ter sérias dificuldades de adequação dos seus conteúdos disciplinares aos diferentes interesses estabelecidos pela nova ordem legal imposta, apesar de todo apelo promocional mentiroso feito pela propaganda que circula na mídia, pois os modelos estabelecidos são genéricos e não consideram a regionalização.
Meus Deus, será que é tão difícil entender que a informação fornecida no Rio Grande do Sul não pode ser a mesma que a do Amazonas?
Mas, é melhor eu me explicar, antes que me critiquem e me chamem de preconceituoso ou mesmo separatista. O nível do ensino deve ser o mesmo, a metodologia pode até ser a mesma, mas a informação necessariamente é diferente, porque as realidades ambientais, sociais e culturais são diferentes, por vários motivos. Temos que parar com esse negócio de achar que todo mundo é igual, porque isso acaba sendo uma afirmação mais perigosa e comprometedora do que simplesmente entender que todos são diferentes e que devem ser aceitadas, respeitadas, entendidas e trabalhadas essas diferenças.
A cultura humana se forma da diversidade e a padronização interfere drasticamente nesse processo. A padronização é bastante preconceituosa, quando trata todos de uma única maneira, porque ela pressupõe uma maneira (certa ou errada) a ser tratada e assim desconsidera as outras maneiras, não respeitando a diversidade cultural e isso sim, me desculpem os entendidos, é que se traduz numa forma de preconceito. Por isso mesmo, é que, a meu ver, a educação tem que ser livre de padrões que possam engessá-la, mesmo que seja parcialmente.
A educação presa e engessada obviamente é antipedagógica e sobre tudo preconceituosa e anticultural. Desta forma esse tipo de educação não deve servir para um país com tamanha diversidade como o Brasil e que pretende e precisa crescer no cenário internacional. Baseado nessa fato, creio que precisamos regionalizar a educação brasileira para poder torna-la mais verdadeira e para que a nação possa colher os frutos dessa educação mais produtivamente.
A burocracia é um mecanismo que sobremaneira é costumeiramente tem atrapalhado, cada vez mais, ao processo ensino-aprendizagem com sua "coisificação" humana e a padronização, quando põe tudo dentro da mesma regra, acaba fazendo o mesmo. Assim, esses dois conceitos, não deveriam ter tanta importância na educação. Aliás, não deveriam ter importância nenhuma. Desta maneira, devo concluir que tanto a burocracia quanto a padronização não servem aos interesses da educação desse país e por isso resolvi produzir essa pequena reflexão.
Por favor, tentem avaliar o meu raciocínio e, se puderem, digam que estou errado. Precisamos ter coragem de "sair da caixinha", se é que queremos realmente melhorar a educação desse país e sair do marasmo do subdesenvolvimento. Os exemplos que outros países emergentes nos trazem pelo mundo afora são diametralmente opostos ao que se está pretendendo fazer aqui no Brasil e observem ainda que esses outros países têm tamanhos, populações, ambientes e condições culturais, extremamente menores e menos diversificadas que as nossas.
POR LUIZ EDUARDO CORRÊA LIMA
POR LUIZ EDUARDO CORRÊA LIMA
-Biólogo, Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista e
-Presidente da Academia Caçapavense de Letras (ACL)
-Professor Titular de Biologia UNFATEA/Lorena/SP;
-Monitor de Educação Profissional – SENAC Guaratinguetá/SP e
-Professor de Biologia do Ensino Médio – DAMASCO/Caçapava/SP.
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