A língua concorre para a
constituição e validação das práticas sociais, de modo que, atualmente, após
tantos estudos e pesquisas nessa área, não cabe mais concebê-la isolada de tais
práticas, como se tivesse um sentido imanente, independente do uso e do
contexto. É na prática, na interação, que a língua constitui e se constitui, ao
mesmo tempo.
Ao considerarmos a língua como prática social, é inquestionável que os aspectos estruturais deixam de ser o eixo da abordagem, pois tão (ou mais) relevantes do que as questões gramaticais ou sintáticas, são as de ordem discursiva, que consideram a língua em uso, ou seja, o foco passa a ser, segundo Cook (1989) investigar como e porque palavras e frases adquirem significados conforme colocadas em uso em situações comunicativas, tendo em vista nosso conhecimento de mundo e nosso conhecimento linguístico. Esse deslocamento do foco explicita que os enunciados não carregam consigo um sentido pronto, unívoco, mas sim produzem sentidos a partir do contexto de uso, validando diferentes práticas.
Há que se considerar o aspecto ideológico da linguagem já apontado por Bakthin (2000), que afirma ser essa – a linguagem – uma arena onde se dão embates, com acordos e conflitos, numa tensão constante pelo poder. A prática discursiva instaura práticas sociais que, por sua vez, realimentam esse ciclo. Cabe citar aqui a assertiva de Gnerre (1997) sobre a relação entre linguagem e poder: uma variedade linguística vale o que valem na sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais.
Nessa perspectiva, mostra-se bastante pertinente, ao trabalharmos no ensino de língua, seja materna ou estrangeira, adotarmos a noção de letramento já que ela, como salienta Marcuschi (2001, p.25), abarca as dimensões sociais, culturais, cognitivas, políticas e ideológicas da língua. Considerar o letramento como forma de capacitar o indivíduo para os usos sociais da língua amplia o conceito do que seja "proficiência":
não basta ler e escrever, é preciso saber fazer uso do ler e do
escrever, saber responder às exigências de leitura e escrita que
a sociedade faz continuamente (SOARES, 2001, p.20)
Letramento é um conjunto de práticas sociais, cujos modosespecíficos de funcionamento têm implicações importantespara as formas pelas quais os sujeitos envolvidos nessaspráticas constroem relações de identidade e poder.
Referências:
BAKHTIN, Mikhail M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992;
GNERRE, Maurizzio. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1987;
KLEIMAN, A. B. (Org.). Os significados do
letramento. Campinas: Mercado de Letras, 1995;
MARCUSCHI, L.A. Letramento e oralidade no contexto das
práticas sociais e eventos comunicativos;
In: SIGNORINI, I. (Org.). Investigando a relação
oral/escrito e as teorias do letramento. Campinas: Mercado de Letras, 2001;e
SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001.
- Licenciada em Língua Portuguesa e Língua Inglesa – Faculdades Integradas de Cruzeiro (1996);
-Professora efetiva na rede estadual paulista desde 2000;
-Mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté (2003);
-Pós-graduada em Ensino de Língua Inglesa pela UNESP REDEFOR (2012) e
- Designada no Programa de Ensino Integral desde 2014, na EE Oswaldo Cruz (Cruzeiro/SP)
Área de Linguagens (Português / Inglês)