Autora:Márcia Stochi (*)
RESUMO
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE, é um órgão responsável pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos – PISA. Este órgão tem promovido avaliações com estudantes de 15 anos de diversos países.
O objetivo desse artigo é relatar o desempenho obtido por nossos estudantes, pois estes são desconhecidos por parte da população brasileira, que não está diretamente envolvida com Educação.
A última avaliação foi realizada no ano de 2018, e seus resultados serão publicados ao final de 2019. No ano de 2000, nossos alunos apresentaram um fraco desempenho nessa avaliação, ficando em penúltimo lugar.
Desse modo, a discussão do tema é de interesse de todos, pois uma melhor compreensão sobre esta avaliação leva a um maior engajamento da população nas questões educacionais de nosso país.
Nas últimas eleições gerais em 2018, a educação não se apresentava como uma questão primordial para a maioria dos brasileiros. Esse fato não seria relevante se estivéssemos nas primeiras posições do ranking internacional. Esse fato gera um paradoxo: estamos entre os últimos colocados no ranking educacional mundial e, na última eleição geral de 2018, ao escolher nossos governantes, a educação não foi considerada como prioridade, por parte dos eleitores.
Palavras-chave: ensino no Brasil; resultados do PISA; PISA Brasil.
INTRODUÇÃO
O PISA é uma avaliação internacional, trienal, aplicada à jovens de 15 anos por meio de provas de Leitura, Matemática e Ciências, em estudantes de diversos países. Nessa avaliação, a cada edição é dada ênfase a uma dessas áreas de estudo. No ano 2000 a ênfase foi para leitura, em 2003 o foco foi a matemática e em 2006 em ciências, e assim sucessivamente. A partir do ano de 2000, os resultados tem sido indicadores que colaboram com a reflexão sobre as questões educacionais dos países participantes.
Os estudantes brasileiros participam desde 2000, ano da primeira avaliação, e seus resultados estão sempre abaixo das médias dos países membros da OCDE, nas três áreas de conhecimento.
Os resultados obtidos pelos nossos estudantes em 2000, e publicados 2001, classificava o Brasil na penúltima colocação no quadro Internacional, ficando à frente apenas do Peru.
Enquanto aguardamos os resultados da avaliação aplicada no ano de 2018, que deve ser publicado ao final de 2019, aproveitamos para fazer algumas colocações sobre resultados anteriores. O conhecimento sobre esse tipo de avaliação, nos leva a uma melhor compreensão sobre a questão educacional no Brasil, evitando críticas generalistas e proposta de soluções simplistas.
RESULTADOS
DE ESTUDANTES BRASILEIROS NO PISA
Após 18 anos de resultados modestos, nossa percepção sobre o quadro atual, nos dá a impressão de que ainda há muito o que se fazer sobre as questões relacionadas à educação brasileira e especificamente ao ensino da matemática no Brasil.
As questões dessa prova não cobram diretamente o conteúdo escolar, mas sim habilidades e competências em cada área de conhecimento.
Sobre o letramento em matemática, segundo relatório do INEP do ano de 2000, as questões pretendiam avaliar a capacidade individual de identificar e compreender o papel da Matemática e aplicar esses conhecimentos para fazer escolhas, análises e julgamentos, fundamentados em dados. As habilidades esperadas nos alunos são: raciocínio quantitativo; capacidade de realizar estimativas; perceber mudanças em situações de crescimento e/ou decrescimento; ter noções de espaço e forma e grandezas; perceber situações de incertezas. O conhecimento matemático é necessário para formação de um cidadão construtivo, consciente, crítico e reflexivo.
Para uma melhor compreensão de nossos resultados, elaboramos uma tabela (TABELA 1), apresentando a média geral obtida nas três áreas de conhecimento e a de matemática especificamente, da Finlândia e do Brasil.
TABELA 1: Resultados sobre a Avaliação Educacional internacional do PISA
Média Geral
|
Média em Matemática
|
|||
Ano
|
Finlândia
|
Brasil
|
Finlândia
|
Brasil
|
2000
|
540
|
368
|
546
|
334
|
2003
|
545
|
383
|
543
|
356
|
2006
|
535
|
384
|
547
|
370
|
2009
|
543
|
401
|
536
|
386
|
2012
|
529
|
402
|
534
|
391
|
2015
|
552
|
401
|
564
|
377
|
Fonte: A autora
Nesses 18 anos de participação no PISA, nossos estudantes, têm apresentado um desempenho modesto em todas as edições da prova.
No ano 2000 fomos o penúltimo colocado dentre os 32 países participantes com média geral de 368 pontos e em matemática 334 pontos, ficando atrás do México, que obteve 410 pontos na média geral e 387 pontos em matemática; o último colocado foi o Peru com 317 pontos na média geral e 292 pontos em matemática.
Após a participação na primeira edição dessa avaliação, a mídia brasileira passou a divulgar esses resultados. O fraco desempenho apresentado por nossos jovens, em relação aos demais países, levou profissionais da Educação a escrever artigos e apresentar suas análises sobre essa questão.
Em 2003, o Jornal Folha de São Paulo publicou um artigo de Suely Druck, intitulado O drama do ensino da matemática, nele, a autora, afirma que:
"Resultados tão desastrosos mostram muito mais do que a má formação de uma geração de professores e estudantes: evidenciam o pouco valor dado ao conhecimento matemático e a ignorância em que se encontra a esmagadora maioria da população no que tange à matemática. Não é por acaso que o Brasil conta com enormes contingentes de pessoas privadas de cidadania por não entenderem fatos simples do seu próprio cotidiano, como juros, gráficos, etc. — os analfabetos numéricos."
Druck (2003) procurou desmistificar a aversão das crianças pela matemática e como argumento ressaltava a participação voluntária de 150 mil jovens e crianças nas Olimpíadas Brasileiras de Matemática de 2002.
Em 2003, na classificação geral do PISA ficamos à frente apenas da Tunísia (373 pontos) e da Indonésia (374 pontos), e em último lugar em relação ao conhecimento matemático (Brasil: 356 pontos; Indonésia: 360 pontos; Tunísia: 359 pontos), nesse ano o Peru não participou da avaliação.
Em 2006 foi houve um aumento no número de países participantes, incluindo Catar, Colômbia e Quirguistão dentre outros. Nosso desempenho foi melhor que o do Catar; Quirguistão; Argentina e Tunísia, e obtivemos resultados muito próximos da Colômbia. Continuamos pontuando atrás da maioria de países sul-americanos como Chile e Uruguai com média geral de 431 e 427 pontos, respectivamente.
Na avaliação de 2009 vários países participaram da prova, sendo que o Brasil apresentou uma pequena melhora em seu desempenho em relação à última edição.
Em 2012 nossos resultados ficaram estatisticamente estáveis, mas abaixo da média de países sul-americanos como o Chile e Uruguai com média geral de 436 e 412 pontos (Brasil 402) e média em matemática de 423 e 409 pontos respectivamente, enquanto o Brasil obteve 391.
Em 2015, o Brasil se manteve praticamente estável na média geral e apresentou um declínio em sua média em matemática quebrando assim sua tendência de crescimento. Nessa adição ficamos a frente apenas dos seguintes países: Peru, Líbano, Tunísia, República Iugoslava da Macedônia, Kosovo, Argélia e República Dominicana.
Embora esses dados
revelem a fragilidade da educação brasileira, destacamos alguns pontos positivos,
sobre nossa educação ocorridos nesse segundo milênio. Primeiramente,
salientamos que o Brasil participou da avaliação em todas suas edições, o que
não aconteceu com outros países, inclusive de nosso continente como: Argentina,
Chile e Peru, o que demonstra uma preocupação do Ministério da Educação, em
avaliar a nossa Educação.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Quanto aos resultados obtidos, nas cinco edições da aplicação da prova, destacamos que houve uma melhora na média geral de aproximadamente 10% comparando dados de 2000 com os de 2015. A matemática apresentou uma melhora de aproximadamente 17% em 2012 comparada com a média da edição de 2000, apresentando uma queda em 2015.
No relatório da OCDE de 2015, sobre o desempenho do Brasil nessa edição, afirma que houve um aumento nos gastos com os alunos de 6 a 15 anos passando para 42% do valor relativo ao gasto dos países membros da OCDE em 2015, contra os 32% que eram gastos em 2012. Ainda nesse relatório, a OCDE, apresenta observações positivas sobre a educação no Brasil, destacando que houve um aumento de aproximadamente 70% de jovens na faixa etária de 15 anos que estavam matriculados na escola a partir 8º ano, o que corresponde a um crescimento de 15% em relação a 2003. O órgão classificou essa ampliação, como um fator extremamente positivo sobre a escolarização de nossos jovens, e destaca que essa expansão se deu sem declínio no desempenho médio dos alunos.
No momento, nossa preocupação com os rumos que a educação de nosso país irá tomar, é com relação ao tratamento que o novo governo irá dar ao setor da educação, pois até o momento não conseguimos constatar uma linha de atuação.
Esperamos que o atual ministro apresente um desempenho melhor que seus sucessores e não interrompa o trabalho realizado pelos governos anteriores. Destacamos a necessidade de novas políticas educacionais que promovam a tão esperada melhora no ensino. Assim, espero ter motivado os brasileiros a permanecerem vigilantes em relação às Política Públicas voltadas à Educação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DRUCK, Sueli. O drama do ensino da matemática. Folha de São Paulo – SP, 25.mar.2003. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u343.shtml>. Acesso em 24.abr.2011;
Relatório Brasil no PISA: http://portal.inep.gov.br/pisa-no-brasil <último acesso em 23.04.2019> ;
Relatório OCDE – PISA – 2015 – Brasil: https://www.oecd.org/pisa/PISA-2015-Brazil-PRT.pdf <último acesso em 23.04.2019>
-Atua há 20 anos na docência em vários níveis: Educação Básica; Graduação e Pós-graduação;
- Bacharel e Licenciada em Matemática Pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1993);
- Mestra em Educação pela Pontifícia Universidade católica de São Paulo (2003) ; e
- Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade católica de São Paulo (2016).
- Bacharel e Licenciada em Matemática Pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1993);
- Mestra em Educação pela Pontifícia Universidade católica de São Paulo (2003) ; e
- Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade católica de São Paulo (2016).
Nota do Editor:
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