EMPODERAMENTO
em·po·de·ra·men·to
Substantivo Masculino.
SOCIOL.Ação coletiva desenvolvida por parte de indivíduos que participam de grupos privilegiados de decisões. Envolve consciência social dos direitos individuais para que haja a consciência coletiva necessária e ocorra a superação da dependência social e da dominação política. É um processo pelo qual as pessoas aumentam a força espiritual, social, política ou econômica de indivíduos carentes das comunidades, a fim de promover mudanças positivas nas situações em que vivem. Implica um processo de redução da vulnerabilidade e do aumento das próprias capacidades dos setores pobres e marginalizados da sociedade e tem por objetivo promover entre eles um índice de desenvolvimento humano sustentável e a possibilidade de realização plena dos direitos individuais.
Essa é a definição da palavra EMPODERAMENTO encontrada em Michaelis, dicionário moderno e atualizado da língua falada no Brasil, da editora Melhoramentos, o conceito sociológico, acima transcrito, foi extraído da versão online do dicionário (1)
Não é preciso ter receios de mencionar que empoderamento é a palavra da moda. No entanto, a palavra tem sido usada de forma equivocada em diversos casos e mais que isso, o uso excessivo da palavra para definir todo e qualquer tipo de ação a descaracteriza, e acaba por descaracterizar todo tipo de movimento coletivo e individual que, de forma correta e idônea, pratica o empoderamento.
Empoderar-se é ter poder, é quando alguém toma para si o poder, ou concede poder a algo ou alguém. Mas, é importante ressaltar que poder nem sempre é sinônimo de dominação. A estética atual enraizada na sociedade, concede a impressão de que ter poder é poder dominar, algo ou alguém.
O passo principal para compreendermos o empoderamento, é afastá-lo da ideia de dominação, empoderar-se é tomar a consciência do poder que tens sobre você mesmo na esfera privada e transformar esta consciência em ações na esfera coletiva. Empoderar-se não é buscar privilégios, ao contrário disso, é está ciente de que não tens nenhum direito a mais que ninguém e não aceitar ter direito a menos que alguém em situações de equiparações.
Dominação está distante do que é empoderar-se, muito embora, a linha que separa seus conceitos coloquiais, hoje, seja tênue. Não é empoderamento se você tenta impor o seu poder individual sobre uma classe, uma pessoa ou um grupo. O empoderamento, peço até perdão pela repetição do termo, trata-se de um olhar consciente sobre o poder estético e sobre o seu poder individual de aceitação de si mesmo para combater a dominação, não aceitar ser dominado, não necessita de dominar a outrem.
Quem em nome do empoderamento quer impor suas ideias, seu padrão, seu poder, não está empoderando, pelo contrário, está apenas querendo ocupar o lugar daquele que diz lutar para combater.
Acredito que empoderamento e conscientização devem caminhar juntos, a consciência é pontapé inicial para o empoderamento. Pesquisando sobre o termo, e analisando os diversos conceitos e suas diversas áreas de utilização, notei que, Paulo Freire utiliza o termo demonstrando preocupação com seu uso. Segundo o autor, o empoderamento traz uma ideia de solução simples, solução esta que ele acredita não existir. Combativo na ideia de que autolibertação existe, Paulo Freire menciona em livro do qual tem coautoria, Medo e Ousadia (1986), que:
"Mesmo quando você se sente, individualmente, mais livre, se esse sentimento não é um sentimento social, se você não é capaz de usar sua liberdade recente para ajudar os outros a se libertarem através da transformação global da sociedade, então você só está exercitando uma atitude individualista no sentido do empowerment ou da liberdade. (...). Vamos tomar (...) o exemplo dos alunos que trabalham com meu amigo físico. Apesar de se sentirem e se perceberem, no final do semestre, como alunos de primeira qualidade, alunos mais críticos, cientistas e pessoas melhores, esta sensação de liberdade ainda não é suficiente para a transformação da sociedade (Freire & Shor, 1986, p. 71) (2)".
É importante ressaltar que, muito embora, essa que vos escreve siga correntes de pensamento diversas daquela do autor supramencionado, com todo respeito à Paulo Freire, é claro, não tem como discordar que o conceito de empoderamento nasceu nos Estados Unidos, para a realidade daquele país. O Empowerment, palavra na grafia inglesa, chega ao Brasil em uma cultura e realidade distinta, inclusive, com um conceito, digamos indefinido, do ponto de vista, individual, comunitário e psicológico. Assim, o uso da palavra torna-se perigoso, uma vez que, pode servir para mascarar má-fé.
Neste contexto, acredito ser o mais correto trabalhar com a palavra conscientização, e não empoderamento. A conscientização permite que o ser humano tenha a visão crítica da posição que ocupam junto aos demais na sociedade. Bem distante da ideia de dominação, quando se tem consciência crítica se entende a necessidade de respeitar a posição de cada um.
A dominação é espécie da qual poder é gênero, assim como o empoderamento é espécie de poder, o que os diferencia é a forma como são refletidos perante a coletividade.
Frise-se que, o empoderamento individual é necessário, para que se construa humanos capazes de conscientizar-se criticamente do papel que ocupa na sua casa, na comunidade, no país.
Por fim, direitos individuais não podem sobressair-se sobre direitos coletivos. A sua liberdade, o seu direito individual, termina onde o meu começa. Empoderamento sem respeito é mera tentativa de dominação.
"O homem é lobo do homem, em guerra de todos contra todos".
REFERÊNCIAS
(2) Freire, P., & Shor, I. (1986). Medo e ousadia. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra.
*ALINE S. TELES
-Graduada em Direito pela Universidade Paulista (2018);
-Estagiária da Defensoria Pública do Estado de São Paulo;
-Natural de Alagoas, hoje residente e domiciliada em Campinas-SP;
São suas palavras: Como anseio por um Brasil melhor, no sentido político e social, escolhi cursar direito para a partir do judiciário contribuir para que essa melhora deixe de ser utopia.
-Natural de Alagoas, hoje residente e domiciliada em Campinas-SP;
São suas palavras: Como anseio por um Brasil melhor, no sentido político e social, escolhi cursar direito para a partir do judiciário contribuir para que essa melhora deixe de ser utopia.
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