Autora: Márcia de Carvalho(*)
Como consequências de inúmeros casos de problemas de aprendizagem e falta de diagnósticos precisos, resolvi abordar este assunto aqui com vocês.
Nos meus 20 anos na área da educação, vejo diariamente, o número de alunos com dificuldades crescerem. Dificuldades estas de escrita (caligrafia), de leitura e de cálculos matemáticos.
Isso tem acontecido por diferentes motivos como pais ausentes, uso de drogas na gravidez, família indiferentes a atos que são importantíssimos para a formação de seus filhos, como cuidado, higiene, supervisão e acompanhamento nas lições e outros aspectos necessários para o desenvolvimento intelectual e social da criança. Aspectos esses que torna a criança mais segura, amada e com o apoio para enfrentar suas dificuldades.
Isso acontece mais devido a fatores externos, mas também podem acontecer também por questões fisiológicas, biológicas, neurológicas ou até por fatores genéticos.
Claro que muitas crianças são mais favorecidas que outras, dentre as que estão em escola públicas e particulares. Por isso, o "tipo" de professor é fundamental, principalmente em casos de comprometimentos visuais e auditivos, que podem ser resolvidos na identificação de pais e de professores, pois somente se identificado antes do agravamento dessas dificuldades, tal situação pode ser estagnada ou amenizada.
Separação dos pais, oportunidades, didáticas, mudanças de escolas, de professores, problemas na gravidez podem ser fatores agravantes para essas situações. Na maioria dos casos, conforme pesquisas, os fatores mais preocupantes são os emocionais, de famílias desestruturadas, de pais ausentes e até da negação da limitação de seu filho.
O que eu, como mãe e professora gostaria de ressaltar aqui, é que esses transtornos de aprendizagem podem ser resolvidos ou amenizados se a descoberta ocorrer o mais cedo possível. A família pode perceber por si só tal limitação ou ser alertada pelo professor, onde uma avaliação médica e psicológica pode feita para um tratamento e uma intervenção mais eficaz.
Hoje existem diferentes tipos dificuldades com nomes que só de pronunciar já assustam, porém, muitas delas ou dos transtornos podem ser facilmente resolvidas se a criança tiver um diagnóstico preciso.
Discalculia, disgrafia, dislexia, alterações do processamento auditivo, dispraxia, deficiência intelectual entre outros, são tipos de transtornos de aprendizagem que a maioria das vezes pode ser permanente, porém, com auxílio de profissionais adequados, podem contribuir para um aprendizado mais consistente, enriquecedor e positivo para a criança.
Não podemos deixar de enfatizar que o papel do professor é fundamental no processo de aprendizagem, e de acordo com a atualidade, a modernidade tecnológica e com o dinamismo das informações, precisamos fazer os educandos focar nas aulas, nas matérias de forma atrativa e dinâmica. De acordo o professor Mario Sergio Cortella, a escola passou a ser vista, pela maioria da população, como um espaço de salvação, onde se ensina todas as matérias pedagógicas, educa-se e disciplinam seus filhos. No livro "Educação, Escola e Docência – Novos Tempos, Novas Atitudes", ele enfatiza que as famílias estão invertendo os papéis da escolarização com a educação, cobrando do professor atitudes e posturas que deveriam vir das próprias famílias.
Por mais que os professores se desdobrem para executar e amenizar as cobranças dos pais, devemos deixar claro o papel e a atitude de cada um. Claro que a parceria ESCOLA x FAMÍLIA contribui e muito para o crescimento intelectual dos alunos. Ainda de acordo com Cortella, não adianta a família dizer "eu pago, eu tenho o direito de cobrar". A parceria deve ser constante, com reuniões, reflexões e com foco na criança e não em quem pode e em quem paga mais.
Coleman (1996) também estudou alguns casos, onde fez relatórios e pesquisas que foram muito importantes na educação, com aplicação de testes para medir as competências verbais e não verbais nos diferentes tipos de alunos. Ele entendeu que "A escola exerce pouca influência no desenvolvimento da criança que possa ser considerada independente de seu contexto social maior. Neste caso, estão incluídos os pais, bem como a sociedade na qual a criança cresce". (1966, p. 325).
Portanto, podemos concluir que a sociedade como um todo: a escola, os pais e a comunidade escolar; constituem uma rede de interação, na qual aluno/filho encontra-se plenamente envolvido.
Por isso, deixo aqui uma reflexão para os leitores:
- Que legado deixaremos aos nossos alunos e aos nossos filhos?
Lembrando que em um passado não tão distante assim, na época da monarquia, as famílias tinham tipos de comportamentos parecidos com os dias atuais, onde a criança era cuidada e criada por uma "ama de leite", no caso, nós professores de hoje.
Naquela época, as amas de leite desempenhavam o papel de serva e de mãe, que alimentavam, cuidavam da higiene pessoal, brincavam, levavam e buscavam na escola e ainda colocavam-nas na cama.
Será então, que os professores são as "amas de leite" do século XXI? Digo isso porque assim como elas, muitas vezes o professor é tratado como inferiores e principalmente na rede particular de ensino, onde a maioria dos pais se acham superiores, pois pagam as mensalidades de um ensino de qualidade, cobrando então atitudes e atribuições que deveriam ser deles.
Essa exigência e cobrança dos dias de hoje, permite que os pais circulem tranquilamente pela sociedade e pelos eventos exibindo as inúmeras qualidades e realizações de seu filho, sem ter uma real participação nesses feitos.
A única solução que vejo diante de tudo isso, dessas dificuldades de aprendizado e da inversão de valores, é que os pais e professores se unam para trabalharem juntos na formação do caráter, da personalidade e da formação desta criança como indivíduo único e futuro cidadão deste país.
BIBLIOGRAFIA
CORTELLA, M. Sergio. Educação, Escola e Docência – Novos Tempos , Novas Atitudes. Editora Cortes, 2014; e
COLEMAN, J.S. et al. Equality of educational opportunity. Washington: U.S. Government Printing Office, 1966.
*MÁRCIA DE CARVALHO
-Pedagoga formada pela Universidade do Grande ABC, Santo André, SP;
-Especialista em Ensino Fundamental, problemas de aprendizagem, com Especialização pela Faculdade Campos Elíseos em Direito Educacional, Educação Especial e
-Especialização em Novas Metodologias pela PUC;
-Professora há 20 anos, lecionando desde a educação infantil em colégios particulares e há 5 anos no ensino público do Município de São Paulo já Lecionou em cursos de especialização na área da Educação como convidada de algumas Universidades.
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