Ontem eu vomitei. Muito. Exageradamente.
Qual a razão?
Estava sentado em minha desconfortável
cadeira, que insiste em intensificar as dores de minha precária saúde de idoso.
Tentava fazer o tempo passar lendo um texto que me foi enviado por um ex-aluno,
pessoa de minha estreita confiança – entenda-se: ele não espalha fake news.. O
assunto era política no Brasil.
Comecei a ficar incomodado e indisposto com
a leitura. Para desviar atenção de minha mente liguei a TV. Sem prestar atenção
nas imagens da telinha, voltei meus olhos novamente para o texto, mas
involuntariamente o som da TV era captado por meus ouvidos de velho, um pouco
peludos mas muito atentos.
Quando me dei conta a TV apresentava um
noticiário político. Minha audição sempre ativa me deu um cutucão e "disse": "Ouça!
Preste atenção! A canalhice é maior do que você está lendo ou do que sua vã
filosofia sonha!". Nesse momento meu cérebro recuperou o trecho da notícia
recém-televisionada que havia sido armazenada pé ante pé em minha memória de
curto prazo.
E me dei conta de como nossa nação ainda
dá atenção a palavras e opiniões expressas por calhordas.
Um deles, sei lá qual dos tantos
cafajestes que fazem parte da alta classe de nosso país, falava a respeito da
confissão que o assassino italiano Cesare Battisti fez à justiça da Itália.
Palavras do político mais inocente e ingênuo do universo: "Se àquela época Battisti
tivesse confessado teríamos autorizado a extradição". Aí fiquei imaginando como
ele –não sei se é pai – educaria e aconselharia um filho ou uma filha:
"Confie em toda e qualquer pessoa até que,
se for o caso, ele confesse a você que não presta".
"Hitler nunca confessou seus crimes e
portanto foi um inocente incompreendido".
"Filhinha: vá à festinha de aniversário
com o Chambinha pois ele não confessou nada."
"Filho: vá fazer caridade lá no presídio
de Presidente Venceslau pois lá todos se declaram inocentes".
Como político, o fulano provavelmente em
seus discursos diria: "Acreditem piamente que, conforme foi declarado por ele
mesmo, Lula é o homem mais honesto do Brasil".
O entrevistado é, de fato, um mártir da
bondade, ícone da ingenuidade. Exemplo de honradez e de credulidade nos seres
humanos".
Foi então que essas maravilhas que ele
pronunciou se fundiram com o texto que eu nem tinha acabado de ler, e que
trazia uma lista de inúmeros fatos concretos e reais (desculpem o duplo
pleonasmo) que os donos do poder desta nação diariamente nos obrigam a engolir
como se tudo isso fosse a coisa mais natural, proba e correta do mundo.
A sobremesa servida pela TV fechou com
chave de ouro o exuberante prato principal do texto que eu lia, complementando
a "refeição" que os "chefs" donos do poder no Brasil nos servem há pelo menos
duas décadas. O evento gastronômico causou superlotação de coliformes fecais no
intestino virtual de minha tolerância. Foi então que vomitei.
Por curiosidade, veja uma pequena parte do
cardápio que descrevia o prato principal, que ouso expressar com meu estilo,
palavras e comentários.
1.Cadê
o número da conta?
Ah! Desculpem-me, está protegido pelo guarda-chuva de algum
laranja...
2.Cadê
a escritura do tríplex?
Ah! Desculpem-me, está bem guardadinha na gaveta do
cartório que registra e autentica a honra de criminosos...
3.Cadê
a vergonha na cara dos fazedores de leis que agem em benefício próprio e que incessantemente
constroem e aperfeiçoam um arcabouço jurídico que os protege e preserva, e,
indiretamente beneficiam criminosos do "colarinho negro"?
Ah! Desculpem-me, está
sob total abrigo no bunker construído
e administrado pelas instâncias superiores das cúpulas do poder...
4.Cadê
a humanidade dos esquerdistas que defendem o calhorda venezuelano Nicolás-tomara-que-caia-de-maduro?
Ele, que destruiu seu próprio país com a corrupção. Que fez da Venezuela um
lugar no qual mulheres com câncer no seio em qualquer estágio fazem mastectomia
radical na esperança de não serem atingidas pela metástase, por falta de
recursos médicos. Fato que as gleises, as manuelas e as márcias solenemente ignoram,
pois não é o peito delas que é extirpado.
Ah! Desculpem-me, os referidos esquerdistas
estão preocupados com algum "autoexílio" para zelar por suas propriedades em
Paris e outros "subúrbios" deste mundo...
5.Cadê
os representantes e pseudo-representantes da igreja católica, como os padres
secchim, que deveriam condenar Maduro e suas atitudes hitleristas, mas são
impedidos por sua ideologia "idiotista" e criminosa de
esquerda-é-a-minha-religião?
Ah! Desculpem-me, talvez estejam extremamente ocupados
em ocultar crimes de pedofilia...
6. Cadê
algum "conceituado" advogado que tenha dentre seus clientes apenas criminosos "e
alto padrão" e que tenha se oferecido para defender um único cidadão ou cidadã cuja
vida foi arrasada ou mesmo ceifada pelo rompimento das barragens de Mariana e
de Brumadinho? Ah! Desculpem-me, está cuidando de sua festa de aniversário em New
York ou Portugal, pois no Brasil as coisas estão muito estranhas. Ou estão
ocupadíssimos escolhendo o juiz pelo qual eles querem que seus clientes sejam ser "julgados"...
7. Cadê
os incontáveis procrastinadores, especializados na defesa de grandes canalhas
criminosos condenados e acusados por prática de caixa dois e lavagem de
dinheiro? Procrastinadores esses que atendem os poderosos de colarinho branco a
peso de ouro...
Ah! Desculpem-me, eles estão ocupados analisando outros nichos
de mercado, visto que agora caixa dois é algo de menor gravidade delitiva, algo
até mais inocente do que qualquer simples contravençãozinha, graças a alguma sábia
e "tecnicamente fundamentada" decisão dos máximos juristas deste país.
8.Cadê
alguma ínfima atitude de compreensão e de solidariedade que tenha sido
oferecida ou realizada por algum representante do judiciário, de forma
individual ou classista, no âmbito da reforma da previdência, de forma a
minimizar as desigualdades sociais deste país que eles protagonizam e
simbolizam?
Ah! Desculpem-me, esses profissionais já suportam tão extrema
defasagem salarial "negativa", sentem-se sem ânimo de desviar suas atenções
para outros assuntos, e sua "depressão" os obriga a organizar banquetes com
custo proporcional à sua soberba...
9.Cadê
os canalhas das universidades que deveriam colaborar intensamente para explicar,
pesquisar, divulgar ao público leigo e propor soluções e alternativas para as
autoridades e para a sociedade, referentes aos grandes problemas nacionais,
como a reforma da previdência, tributária, partidária, eleitoral?
Ah!
Desculpem-me, estão ocupadíssimos estruturando e realizando cursos como "O górpi
de 2016"... Nada mais importante e prioritário a fazer...
10. Cadê a vergonha na
cara das organizações, instituições e associações que deveriam exercer papel de
relevância como exemplos de cidadania, mas que tudo fazem para eliminar a Lava
Jato?
Ah! Desculpem-me, estão "gerundiando" enquanto estão “buscando” enquanto
estão "atuando" para eliminar um exemplo mundial de luta contra a corrupção...
Corrupção? Ora, a corrupção!
11.Cadê a vergonha na
cara dos eleitores dos renans, das gleises, das manuelas, dos requiões e tantos
outros e outras que representam o expoente da dissociação entre a classe
política e os brasileiros desassistidos?
Ah! desculpem-me, estão aproveitando a
meia dúzia de reais do empreguinho de segunda classe cujo salário dividem ilegalmente
com os partidos e com escusos chefes de ORCRIMs...
12. Cadê a honra de
quem apoia e idolatra criminosos, como fazem com lulas e dirceus, com o mesmo
fervor com o qual Joseph e Magda Goebbels apoiaram Hitler e o nazismo até seus
instantes finais, e que movidos por essa devoção assassinaram seus seis filhos
em 1º. de maio de 1945?
Ah! Desculpem-me, esqueci que esse tipo de gente nem
sabe o que é honra.
13. Cadê os canalhas de
alto escalão em todos os poderes, que deveriam dar exemplo de como cumprir a
Constituição, mas são os principais defensores e promotores das desigualdades?
Ah! Desculpem-me, estão atarefados fazendo coaching
de atuação teatral para conseguirem ser arrogantes fingindo certo ar de
humildade...
14.Cadê a vergonha na
cara dos semlers da vida, que advogam uma nova chance para a esquerda mostrar
serviço, redigindo manifestos com canetas Montblanc, sentados em confortáveis
cadeiras de couro legítimo, em escrivaninhas de mogno, tomando uísque escocês
30 anos?
E que convenientemente não se lembram de avisar os pobres que são eles
que terão de pagar a conta dos novos e infindáveis erros e crimes que os "socialistas" e "comunistas" de conveniência certamente voltariam a perpetrar.
Erros esses que só se avolumam desde que Allende foi o primeiro a demonstrar
que esquerdista só "sabe" administrar se os recursos disponíveis forem
ilimitados e pagos por outrem.
Fato, aliás, intensamente corroborado pelo
desastroso período em que uma "presidenta" infelizmente esteve à frente do
executivo brasileiro...
Ah! Desculpem-me,
a referida vergonha na cara dos semlers está submersa, invisível e inacessível,
sob efeito da maquiagem cultural realizada no perfil moral e ético deles, por
maquiadores de plantão capilarizados e instalados como posseiros em
universidades e demais instituições e organizações governamentais.
15.Cadê a seriedade dos
meios de comunicação e institutos de pesquisa que fingem apartidarismo e
neutralidade, mas em paralelo expressam de forma implícita ou explícita seu
repúdio pela Lava Jato ou instigam e incitam que criminosos presidiários sejam
candidatos vitoriosos à Presidência da República? Ou seja, na prática, defendem
com unhas e dentes a predominância de correntes criminosas e a libertinagem do
caixa dois e da lavagem de dinheiro. Fazem apologia do crime.
Em outras
palavras; lutam desesperadamente para que o status quo em que predomina o crime
de colarinho branco continue inalterado, permitindo que indivíduos doentes e
mal intencionados continuem a deter o controle das instituições que gerem esta
nossa sofrida sociedade, caracterizada por abismais diferenças entre os
endinheirados e a "ralé" de nossa sociedade civil.
Os mesmos meios de
comunicação e institutos de pesquisa que se autodenominam liberais e independentes,
mas não conseguem esconder sua paixão político-afetiva desenfreada pela
esquerda, que usam sua influência na formação de opiniões para induzir sofisticamente
o viés esquerdista na mente de seus leitores, ouvintes, telespectadores e
entrevistados.
Ah! Desculpem-me, os
referidos meios de comunicação e institutos de pesquisa apenas estão
preocupados em descobrir como gerar e disseminar fake news...
16.Cadê os
banqueiros, que, não importa quem sejam os canalhas que têm o poder nem quais
sejam as canalhices que praticam, estão sempre calados, sentados no conforto
proporcionado por almofadas de juros criminosos?
Ah, desculpem-me, os referidos
banqueiros estão preocupadíssimos contando suas moedas, imersos nos delírios de
prazer que este país lhes proporciona, dando-lhes liberdade de praticar as mais
altas taxas de juros de todo o mundo...
17.Cadê a cota de
sacrifício que os militares reiteradamente se recusam a oferecer na reforma
previdenciária?
Ah! Desculpem-me. Eles já consideram cota de sacrifício ter que
oferecer a vida para defender o país, como se fossem a única classe que
voluntariamente faz isso, que exerce profissão perigosa.
Eles talvez acreditem
que o fato de não receber horas extras os torne mais merecedores de aposentadoria
bem confortável, lembrando que escolheram a profissão por vontade própria, e
que os miseráveis nem podem escolher como viver, quanto mais como se aposentar.
Pior: os pobres ainda devem enfrentar a fome e o desespero causado pelo
desemprego, coisa que os militares provavelmente nem sabem o que significa.
18.Cadê a coragem,
desinteresse por questões pessoais e ideológicas que forjam os estadistas patriotas
e heróis como Konrad Adenauer, que estabeleceu os alicerces de trabalho, honestidade
e de não corrupção, e assim conseguiu erguer o mais importante país da Europa, que
havia sido totalmente destruído pela guerra, dividido em duas nações contíguas,
porém antípodas politica e economicamente? Ou como Ben-Gurion, que construiu
uma nação moderna num deserto?
Tais personagens são
hoje anônimos e esquecidos, mas sua coragem, humildade, desprendimento e
capacidade de liderança foram usados apenas e tão somente com os olhos no
futuro de suas nações e não no enriquecimento pessoal e na "sobrevivência
eterna" de um partido político, ou, perdão, melhor dizendo, de uma agremiação
de adoradores do próprio umbigo que defecam montes de escória mental com o
objetivo de libertar criminosos da cadeia, numa infeliz tentativa de eternizar
canalhas e ladrões como símbolos para adoração.
Agremiação essa levada pela
soberba, incapaz de qualquer gesto de humildade que reconheça erros, omissões e
crimes que haja praticado.
Agremiação de covardes que não têm coragem de
assumir a culpa de graves erros e se borram de pavor quando são obrigados pela
justiça a pagar sua penitência no lugar adequado, a prisão.
Sem esquecer que a
referida justiça está impregnada de togados venais que batalham sem cessar para
minar os alicerces do bom senso e da verdadeira justiça, e só causam vergonha
alheia a quem tem decência e equilíbrio. Togados que são pródigos em ser lenientes
e frouxos ao mimar criminosos.
Gente que fala alemão com rara fluência, que
sabe pronunciar e o conhece o significado, mas ainda assim causa essa maldita Fremdschämen.
Ah! Desculpem-me,
a exemplo do toucinho que estava aqui, as referidas coragem, desinteresse
pessoal e ideológico serviram de comida para gatos famintos por assistir de
camarote à fome alheia. Gatos esses que não fogem para o mato venezuelano, mas
exilam-se nos bosques de Paris. Ou, quem sabe, deliciam-se a dançar straussianos
contos nos bosques de Viena.
Enfim: cadê o
toucinho que estava aqui? Ora, é óbvio! O gato comeu!
Mas fui eu quem
vomitou.
*ALBERTO ROMANO SCHIESARI
-Economista;
-Pós-graduado em Docência do Ensino Superior;
-Especialista em Tecnologia da Informação, Exploração Espacial e Educação STEM;
-Professor universitário por mais de 30 anos;
-Consultor e Palestrante.
Nota do Editor:
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