A humanidade, ao longo da sua história, valorizou o registro escrito como forma de documentar o conhecimento acumulado. É certo que desde as primeiras civilizações, o ser humano possui uma necessidade intrínseca que o impele a anotar as mais diversas situações vivenciadas. Os primeiros vestígios escritos remontam à pré-história com a pintura rupestre na qual os indivíduos marcavam os costumes da época e que serviu como fonte de impressão da forma de vida naquele tempo e da evolução da sabedoria daquele povo. A partir desses apontamentos, no decorrer do avanço da sociedade foi possível reconstruir a cultura dos povos antigos. Essa necessidade do ser humano, quase que instintiva, impulsionou-o ao longo do tempo a aprimorar essas formas de registros que progrediram até chegar à escrita atual.
Com o advento da escrita, as civilizações puderam aperfeiçoar suas formas de registro até chegar ao livro como o conhecemos. Ao encontrarem nele fórmula perfeita para documentar suas descobertas e aprimorar seus saberes, determinaram sua importância como instrumento de produção da sapiência humana que poderia passar de geração em geração estabelecendo o ponto de partida para a ascensão do conhecimento em suas mais variadas formas.
A partir desse ponto, o livro estaria condenado a muitas perseguições, pois sabia-se que ele influenciaria de forma determinante àqueles que soubessem utilizá-lo como meio de desenvolver a inteligência. Não foram poucos os períodos da história em que o livro foi condenado e demonizado e a única forma de purificação e subordinação era promover a incineração completa de exemplares escritos por célebres expoentes da erudição. A inquisição católica no século XII e o período sob o regime de Adolf Hitler, na Alemanha, no século XX são apenas dois dentre tantos exemplos históricos da destruição da literatura. Separados por muitos séculos, esses dois fatos representam o temor que uma determinada classe dominante possuía a respeito da importância do livro como meio libertador e estimulador da inteligência e da coragem que poderiam exercer sobre um povo subjugado. Em sua obra “A História Universal da Destruição dos Livros”, Fernando Baez declara: "Um livro é destruído com a intenção de aniquilar a memória que encerra, isto é, o patrimônio de ideias de uma cultura inteira."
Não fosse a relevância da literatura, o que justificaria tamanha destruição? Além de contribuir para a sabedoria, os livros têm o poder de criar independência e opinião crítica e essas são características não muito apreciadas pela classe dominante porque um povo culto, crítico e consciente de seu papel na sociedade não pode ser manipulado. Seria essa uma das razões da precariedade do mundo literário em escolas públicas no Brasil? Seria intencional colocar a leitura em segundo plano na educação de crianças e jovens alegando ausência de políticas públicas para uma instrução eficiente e competente no que se refere à promoção do desenvolvimento de cidadãos mais conscientes de seu papel na sociedade? Tendo a crer que há uma acomodação por parte do Estado que une a real dificuldade econômica por que passa o país para justificar tal conduta.
Formar leitores não é tarefa fácil principalmente em um sistema de ensino carente das necessidades mais básicas para o aprendizado e de recursos materiais e humanos. Apesar de terem o direito à educação e à cultura garantidos pela Lei 8069, Estatuto da Criança e do Adolescente, nossos alunos, na maioria das vezes, não são incentivados a se encantarem pela leitura na escola e no seio familiar as chances desse desenvolvimento são ainda menores caso consideremos as classes sociais menos favorecidas. Nas instituições de ensino, grande parte dos educadores deixam de priorizar a leitura alegando defasagens imensuráveis enfrentadas pelas crianças ou ainda tentam estimulá-la de forma mecânica ou forçada e obrigatória o que necessariamente conduzirá à aversão pela literatura.
Diante da atual conjuntura, torna-se imprescindível e urgente que o Estado adote políticas públicas focadas em estimular e desenvolver nos alunos o encanto pelo livro que será o motor propulsor para a autonomia do estudante. Ao incorporar o hábito da leitura, o indivíduo se apropria do segredo do verdadeiro empoderamento do ser humano que é ser o Senhor de sua própria vida, pois já percorreu o caminho das pedras e sabe exatamente onde encontrar o alimento para a sua alma.
POR CHRISTIANE PEREIRA
-Formada em Artes Plásticas, Pedagogia e Magistério com especialização em Educação Infantil;
Arte Educadora e Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental; e
Atuou como Orientadora Pedagógica e Educacional
Twitter: @Chris_PPereira
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