Autora: Marilice Mello(*)
Vivemos esperando dias melhores,
dias de paz,
dias a mais,
dias que não deixaremos para traz,
vivemos esperando o dia em que seremos melhores,
melhores no amor,
melhores na dor,
melhores em tudo! .....
vivemos esperando o dia em que seremos para sempre!
JOTA QUEST
Para iniciar esse texto é importante lembrar que além
de sermos professoras e professores também somos mães, pais, filhas, filhos, esposo,
esposa e tantas coisas mais que a vida nos convida a ser. Nossos sentimentos
são variados, mas o amor deve ser o maior deles e, estar presente em todos os
momentos.
Os medos são muitos, e num instante vem uma enxurrada
de pensamentos que nos faz refletir. Pais e mães que lutaram tanto para a
educação dos filhos (médicos) passam a querer todos no seu aconchego para
protege-los. Mas a decisão não pode ser o que queremos, afinal sua formação foi
exatamente para tratar e curar os doentes nesses momentos em que mais precisam.
Filhos se contaminam, mães não podem vê-los, mães e pais se contaminam e filhos
não podem vê-los. A morte tão próxima de todos e aleatoriamente!
Pensar em uma escola enlutada não fazia parte do nosso
cotidiano, e quando isso acontece, nos deixa muito mais que tristes e assustados, nos deixa assombrados.
A comoção é geral e nesta hora precisamos nos unir ainda mais e enfrentar a
tristeza.
De repente, muito além do que imaginamos, tudo mudou,
o mundo mudou! Nossa espera agora torna-se real e, contraditoriamente, não
podemos mais esperar, nossas crianças precisam de nós educadores. As famílias
que já nos pediam socorro agora gritam por ajuda! O papel da escola muda e
amplia, a ressignificação é necessária e urgente.
Professores se desesperam e perguntam: como fica tudo
aquilo que planejamos para realizar em 2020? Como as crianças irão aprender sem
irem para a escola e sem a nossa ajuda? O que fazer agora?
Buscamos alternativas por todo lado, o que vivemos
hoje jamais pensamos viver um dia. Sentimentos dos mais variados - medo, angústia,
tristeza e outros - nos rodeando a todo o momento. É hora de nos unirmos e
pensar em alternativas. Nunca antes a postura interdisciplinar esteve tão
necessária, para conseguirmos até mesmo sobreviver. A dimensão de olhar para dentro
de si mesmo e para o outro, com um olhar sensível para as necessidades do outro,
torna-se ainda mais abrangente.
Em tempos de pandemia a falta da inclusão é
escancarada de todas as maneiras. E então o que fazer nesse momento? Mais do
que nunca precisamos nos transformar para incluir.
As ações iniciam já nos primeiros dias de suspensão de
aula e isolamento social. Desde 2018 realizamos em Piracicaba-SP a semana de
conscientização do TEA no mês de abril e em 2020 não foi possível acontecer
devido à pandemia. A primeira manifestação foi realizar um vídeo explicativo
sobre o que vem sendo feito (ou ainda não está sendo feito) em favor da criação
de um espaço público de atendimento à crianças pequenas com TEA em nossa cidade
de Piracicaba/SP, já que não iria acontecer o evento.
Neste vídeo ressaltamos a possibilidade de aprendizado
num momento em que muitos profissionais estavam dispostos a compartilhar seus
conhecimentos por meio de lives, e
tantas outras ferramentas que nos foram apresentadas. Foi enfatizada a
importância de uma organização das famílias de crianças com TEA em busca de
políticas públicas para o atendimento na cidade.
Em paralelo a isso, as escolas fecharam para férias de
15 dias, enquanto técnicos da educação municipal se organizaram para um
trabalho por meio de vídeos em que as crianças poderiam assistir as professoras
contando histórias, cantando e sugerindo brincadeiras para as famílias
realizarem com as crianças. Houve muitos questionamentos com relação a isso, como
por exemplo: seria a melhor forma de garantir o aprendizado das crianças em
tempo de pandemia?
Estudos nos mostram que a criança aprende independente
do professor, porém crianças que convivem com outras crianças no espaço escolar
tem um desenvolvimento muito acima daquelas que não frequentam a escola na
primeira infância. Essa convivência comprometida não tem como ser reposta,
porém a sobrevivência neste momento é o mais importante.
Com o pedido de socorro dos pais, que veio rápido, decidimos
fazer uma live para auxiliar as
famílias, e tirar o peso de ser professor de seus filhos em tempos de suspensão
de aulas presenciais.
Nossa fala sobre o direito de aprendizagem da criança
em tempos de pandemia e o que estávamos fazendo, e continuamos realizando de
uma forma ainda melhor, foi muito inspiradora para pais, educadores e
comunidade escolar em geral.
Com a pandemia, a parceria escola e família caminhou
para se intensificar a cada dia, mesmo com alguns pais perdendo o ritmo das
respostas das atividades propostas, os frutos foram plantados e as atividades
acontecem com muita qualidade. Reuniões com as famílias e encontros on-line com as crianças acompanhadas de
seus familiares, passam a acontecer com frequência. Está sendo uma forma de manter
o contato com as famílias, orientando os mesmos na relação entre os seus em
tempo de suspensão de aula presencial. Como tornar a rotina da casa um campo de
aprendizagem.
Posto isso, infelizmente esta não é a realidade em
todas as escolas da cidade e tão pouco do país e do mundo. A exclusão social
aumentou e a aprendizagem como direito neste momento precisa deixar de ser
prioridade e sim o direito à vida volta a preocupar a sociedade. Há
relatos de grande número de crianças sem a devida alimentação necessária, sendo
violentadas e tantas outras situações de risco.
Hoje discutimos: realmente devemos voltar às aulas presenciais?
seria seguro este retorno? As autoridades em nosso pais e no mundo estão realmente
preocupadas com nossas vidas? Os protocolos da saúde se encaixam para crianças
de 0 a 5 anos? Muitos pais não querem mandar seus filhos para a escola, a
incerteza deste momento os apavora.
Não esperemos
mais por dias melhores, sejamos melhores,
Não esperemos
mais por dias de paz, sejamos a paz,
Não esperemos
mais por sermos melhores no amor, vamos amar mais e sermos melhores em tudo!
Vivemos esperando e não podemos mais esperar, temos
que ser melhores hoje, nosso dia aqui e agora precisa ser melhor. A
transformação é agora!
*MARILICE PEREIRA RUIZ DO AMARAL MELLO
-Doutora em Educação (PUC-SP);
-Especialista em ABA (LAHMIEI- UFSCar);
-Graduada em Pedagogia; Dra. Marilice foi
-Foi coordenadora pedagógica da Associação de pais e amigos de Autistas de Piracicaba- AUMA;
-Diretora de escola de Educação Infantil;
-Palestrante dos temas voltados à inclusão e em especial a inclusão de crianças com TEA;
-Pesquisadora do Grupo de Pesquisas Interdisciplinares- GEPI e Grupo de Pesquisa em Espiritualidade e Interdisciplinaridade- INTERESPE da PUC-SP e Grupo de Pesquisa em Práticas de Aprendizagem Inovadoras e Inclusivas- GP PAII da UFAL todos relacionados a Interdisciplinaridade e Inclusão.
Nota do Editor:
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