Autora: Caroline Bezerra Morais (*)
O trabalho costuma ser uma parte central da vida cotidiana. A escolha profissional afeta amplamente a rotina, as experiências ao longo da vida e a noção de identidade de cada pessoa. Pode-se dizer que uma parcela importante da vida na sociedade atual gira em torno do trabalho, o que mostra a importância da escolha profissional como um determinante de como será a vida.
Geralmente, a primeira escolha profissional acontece no final da adolescência ou no início da vida adulta, quando a personalidade ainda está em formação. Nesse período, o cérebro humano ainda encontra-se em desenvolvimento até por volta dos 25 anos de idade. A parte frontal do cérebro, que é aquela responsável pelo raciocínio, planejamento e controle emocional, é a última parte do cérebro a estar completamente formada. Isso leva a algumas dificuldades na capacidade de tomar decisões e torna a pessoa mais suscetível a influências ambientais.
Olhando por esse lado, não é incomum que a primeira escolha profissional precise ser revisitada em algum momento da vida. Você pode ter escolhido a sua primeira profissão por influência de outras pessoas ou até mesmo por falta de uma análise adequada sobre você mesmo e sobre a área de trabalho. Em muitos casos, falta autoconhecimento para entender sobre os seus valores e sobre os seus critérios para uma escolha profissional.
Ao ingressar em uma área profissional, você pode começar a crescer, destacar-se e até mesmo atingir o sucesso profissional, ainda que você não se sinta realizado em sua área de atuação. Diante disso, é difícil partir para o novo e recomeçar, você pode ter pensamentos de que "está andando para trás" ou que você "perdeu tempo demais" e "agora já não dá mais para mudar". Isso pode ter efeitos danosos para a saúde mental, gerando maior estresse, baixa autoestima e ansiedade.
Para que você consiga fazer uma transição de carreira bem-sucedida você precisará saber lidar com os pensamentos e sentimentos supracitados. Eles podem te impedir de dar passos importantes na direção do seu objetivo mesmo após você já ter tomado a decisão de seguir com a transição de carreira.
O processo de transição de carreira significa deixar a sua área de trabalho primária e iniciar em uma nova área. Isso pode ocorrer gradativamente ou de uma vez. Naturalmente, a pessoa que está passando por uma transição de carreira atravessa mais sentimentos de ansiedade e insegurança em meio às incertezas de estar iniciando em um terreno completamente desconhecido. Afinal, mudar de carreira representa uma profunda mudança na rotina e até mesmo na identidade daquela pessoa.
Todos nós carregamos crenças sobre nós mesmos, o mundo e o futuro. Nós começamos a construir essas crenças desde a nossa infância. Determinadas situações na nossa vida podem evidenciar tais crenças, tornando-as mais fortes, sendo necessário ter uma atenção especial àquelas que são disfuncionais e que te levam a mais sofrimento. A transição de carreira pode ser um contexto que evidencia crenças que você construiu sobre você mesmo ao longo da sua vida.
Por exemplo, alguns pensamentos que podem aparecer são: "Eu não vou conseguir", "E se eu fracassar na nova área?", "E se as outras pessoas me criticarem?". Ao analisar cuidadosamente esses pensamentos, podemos chegar a crenças como: "Eu sou incompetente”, "Eu sou um fracasso", “Eu sou incapaz”, “Eu sou insuficiente” e entre tantas outras.
O ser humano funciona da seguinte forma: Diante de uma situação, surgem os pensamentos, as emoções e os comportamentos, que se retroalimentam entre si. Ou seja, um fortalece o outro. Por isso, para que você consiga diminuir a ansiedade você precisará aprender a observar os seus pensamentos e comportamentos. Ao perceber a sua ansiedade aumentando, questione-se: "Quais pensamentos estavam passando pela minha cabeça? E como eu ajo diante desses pensamentos?".
Vamos analisar um pensamento em conjunto? Vamos supor que você estava pensando: "E se eu fracassar na nova área?". O seu comportamento diante desse pensamento é paralisar e continuar na sua atual área. Em tese, quanto mais você mantiver o seu comportamento de paralisar e permanecer no mesmo local, mais forte será o seu pensamento relacionado ao fracasso na nova área, o que também aumentará o seu nível de ansiedade. Perceba que trata-se de um ciclo, que começa no seu pensamento.
Para que você consiga pular fora desse ciclo, nós teremos que nos tornar peritos em analisar nossos próprios pensamentos, percebendo-os como hipóteses sobre o mundo e não como verdades absolutas. O problema está em enxergar o seu pensamento como uma verdade absoluta sobre o mundo, sendo importante aprender a flexibilizar tais pensamentos, entendendo que eles podem ser parcialmente verdadeiros ou não-verdadeiros.
Analise seus pensamentos como sendo apenas pensamentos. Então, busque as evidências, quais indícios você tem de que irá fracassar? E quais indícios você tem de que você pode não fracassar? Talvez você chegará a indícios para os dois lados, demonstrando que existem possibilidades reais de sucesso ou de fracasso na nova área.
A ansiedade é um sentimento que está relacionado a possibilidade de prever ameaças futuras, sejam reais ou imaginadas. Isso tem um papel importante desde o início da nossa espécie. Prever os perigos foi de extrema importância para a nossa sobrevivência. Logo, esse sentimento permanece até os dias de hoje.
Nesse sentido, a ansiedade leva a diversos pensamentos improdutivos e catastróficos sobre as possibilidades futuras. O pensamento improdutivo é aquele em que você fica apenas pensando sobre o problema, sem a proposição de qualquer solução. Já o pensamento catastrófico é aquele em que você amplia o problema, enxergando-o como um problema que está além das suas capacidades de lidar.
Ao invés disso, a ideia é começar a exercitar um pensamento mais de resolução de problemas daqui para a frente. Experimente olhar para esses problemas e identificar a probabilidade que eles realmente ocorram e como você poderia lidar com essas possibilidades futuras. Algumas situações você vai perceber que não estão no seu controle e outras você perceberá que dependem mais diretamente dos seus comportamentos.
Há dois caminhos para enfrentar a ansiedade de modo que ela diminua: o questionamento de pensamentos ansiosos e continuar seu caminho apesar da ansiedade. Aprenda a guiar-se por seus valores e pelo que você considera importante. Quando identificar algo importante, não deixe de buscar apesar das incertezas. Esse é o tal do enfrentamento. É fazer apesar do medo. É fazer apesar dos pensamentos que te dizem que você vai fracassar. Na dúvida, vá na direção dos seus valores.
Caso você não esteja conseguindo ultrapassar as dificuldades sozinho, então não deixe de procurar ajuda especializada. Busque psicoterapia.
Em resumo, anote esse passo a passo e execute:
1- Observe os pensamentos que aparecem nos momentos de ansiedade. Se possível, anote-os;
2- Verifique quais são os pensamentos produtivos e improdutivos. Os produtivos são aqueles relacionados à resolução de algum problema, já os improdutivos somente ocupam seu tempo sem te encaminhar para uma resolução;
3- Os pensamentos improdutivos devem ser questionados ou transformados em pensamentos mais produtivos. Por exemplo, no caso do pensamento: "E se eu fracassar?", tente pensar sobre o que seria fracassar para você? Qual seria a pior parte em fracassar? Como você poderia lidar com isso?;
4- Identifique a probabilidade real do que você está imaginando acontecer. Analise seus pensamentos como hipóteses e perceba se tem alguma evidência que comprova ou que refuta aquele pensamento;
5- Aceite o que você não pode controlar. Não tente estar no controle de tudo. Quanto mais você tentar controlar, maior ficará a sua ansiedade;
6- Construa um pensamento alternativo que possa te auxiliar a diminuir a ansiedade nos momentos difíceis. Transforme isso em um cartão de enfrentamento. Anote em algum local e tenha esse pensamento alternativo com você; e
7. Os pensamentos ansiosos costumam ter origem em crenças que você construiu sobre você mesmo. Busque psicoterapia cognitivo-comportamental para abordar essas crenças de uma forma mais profunda.
CAROLINE BEZERRA MORAIS CRP 11/12158
-Graduação em Psicologia pela
Universidade Federal do Ceará (2017);
- Atuação como Psicóloga
Clínica;
-Formação em Raciocínio Clínico em Psicoterapia -
Psiconegócios (2021);
-Capacitação e aperfeiçoamento em Terapia Cognitivo
Comportamental: Teoria e Prática - Otimiza Psi (2022);
-Formação em Neurociência e Comportamento - Eslen (2022);
-Formação em Terapia Cognitivo Comportamental para
obesidade e emagrecimento - Fernanda Landeiro (2022) e
-Formação em andamento em Terapia Cognitivo Comportamental,
Fernanda Landeiro.
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