sábado, 29 de outubro de 2016

Notório Saber


A educação passa por transformações constantes, é uma máquina de produzir ideias e ideais que se movimenta a todo vapor. Em algumas situações, em passos de tartarugas, em outras de maneira tão assustadora e surpreendente que nem mesmo acreditamos.

Nosso presidente nos trouxe algumas novidades que estão sendo pleiteadas para direcionar o ensino médio no Brasil. Dentre elas, uma em específico chamou minha atenção e quero refletir aqui com vocês. A expressão “notório saber”.

Na proposta atual, uma pessoa que não tenha uma formação de professor, ou seja, que não tenha feito uma licenciatura, mas tenha uma boa formação e um “notório saber”, poderá ocupar o cargo de professor.

Assim pensando, um advogado, por exemplo, poderá lecionar aulas de história; um engenheiro, de matemática; um farmacêutico, de química, e por aí vai... Bem a pergunta é : O que faremos com os professores que cursaram suas licenciaturas? Bem, essa é apenas uma pergunta que diz respeito à análise política e social da decisão. A outra pergunta, a meu ver, mais específica e preocupante, é: Como o dono do “notório saber” irá “saber” lecionar, se ele não teve a preparação para isso?

Não quero aqui questionar, em nada, a competência técnica dos profissionais acima citados. Preciso apenas refletir e convido vocês a refletirem comigo, uma outra competência: a do SABER FAZER.

Ter o conhecimento em tempos em que todo o saber do mundo cabe na palma da mão de qualquer pessoa, seja ela da idade que for, bastando apenas que tenha um celular conectado à internet, não garante a ninguém o aprendizado. Esse, para acontecer, precisa de muitos outros aspectos.

O professor foca seu objetivo não no ensinar, ele foca no aprender. Ele precisa garantir que o aluno aprenda. Essa “garantia” passa por um saber específico do professor, que tem em sua formação disciplinas como psicologia, sociologia, filosofia, história da educação, dentre outras tão importantes e necessárias para se compreender o pensar do aluno, em suas diversas faixas etárias.

É preciso ter uma formação completa para saber compreender como o aluno pensa e chega ao aprendizado, como fazer para que aconteça esse aprendizado, com significado, para esse aluno. É indispensável ter ciência de seu desenvolvimento motor, psicológico, moral, social, saber como lidar com suas emoções , como constrói seu conhecimento, etc.

O curso de formação de um professor o capacita para lidar não apenas com o conhecimento, que hoje circula fácil por aí, mas para lidar com o aprendizado, com as diversas possibilidades de se aprender a aprender. São metodologias , caminhos a serem desvendados para que o aluno consiga aprender. Aprender com significado, aprender com competências e habilidades que lhe permitirão ir além do simples saber acadêmico.

A presença de um professor com sua FORMAÇÃO ESPECÍFICA é tão importante quanto necessária, não apenas para dar significado ao conhecimento, transformando-o em APRENDIZADO, mas para fazer com que o aluno-aprendiz tenha desejo pelo conhecimento, prazer pela ato de saber. Ensinar é uma tarefa desafiadora, que para se consolidar precisa de uma mágica chamada sedução. É preciso criar um encanto pelo ato de aprender e esse encanto nasce de uma formação com vários olhares sobre o ser humano.

Ser professor é poder ter, no palco da sala de aula, o comando da vida de muitas pessoas, é saber criar atalhos para a vida e alinhavar o viver com doçura, sabedoria e encanto.


Me perdoem os donos de “notórios saberes”, mas saber ser professor, não é para qualquer um.

POR JACQUELINE  CAIXETA FIGUEIREDO











-Pedagoga;
-Autora de material didático;
-MBA em gestão estratégica de pessoas;
-Pós graduada em:
  -Psicopedagogia;
  -Alfabetização e construção de pensamento e
   -Inclusão escolar;
-Especialista em alfabetização e inclusão;
-Palestrante na área de educação e -Diretora Pedagógica na Colégio São Miguel Arcanjo do Sistema Escolápio de Educação

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Eduardo Cunha, delator?


Eduardo Cunha foi uma figura obscura na política brasileira até o ano de 2015 quando submergiu, sendo eleito para o cargo de Presidente da Câmara dos Deputados, o terceiro na linha sucessória que comandaria o Brasil na ausência de seu Presidente e Vice respectivamente.

Na sua breve passagem pela Câmara dos Deputados, pautou-se pelo protagonismo na casa, e ganhou uma musculatura invejável fazia e acontecia dentro da Câmara Federal, teve um poder que poucos na recente história da política brasileira puderam ter. 

Com o avanço das investigações da operação lava-jato seu nome, no entanto, não poderia passar incólume. Não poderia porque no tempo em que andou submergido, ou digamos, no tempo em que era desconhecido do grande público, tornou-se um ótimo arrecadador para o PMDB, principalmente na campanha de 2014 e adquiriu enorme conhecimento do funcionamento da engrenagem política dentro da Câmara. Enfim tornou-se um político hábil e frio quando necessário, aliás essa frieza se tornou sua marca registrada.


Em março de 2015, em depoimento espontâneo na CPI da Petrobras, informou na época que não tinha nenhuma conta no exterior.Dias depois em reportagem o Jornal Nacional descobriu a mentira descarada do Deputado e ele passou a ser investigado por quebra de decoro parlamentar, no processo que mais tempo tramitou no Conselho de Ética.

Por conta desse processo, durante alguns meses em que paralelamente se descobria que Dilma andava pedalando adoidado pelas contas públicas, e com vários e vários pedidos de abertura do processo de impeachment foi como Presidente da Câmara o responsável pelo recebimento da denúncia.

Após esse recebimento o  que se viu foi uma longa negociação de bastidores entre CUNHA e DILMA, para que ambos naquele momento se safassem de seus problemas. Mas apesar dos esforços de ambos o que se viu foi o contrário e ele não obtendo êxito na negociação com o PT para se livrar do processo de cassação como forma de retaliação acabou aceitando a denúncia do impeachment e o resultado todos sabemos.

Em 2016, após capitanear o afastamento da Dilma, o STF decidiu por unanimidade afastá-lo da Presidência da Câmara. Mais  farpas com o PT foram trocadas e ele viu o Senado demitir a Dilma sumariamente antes de , e finalmente ser  cassado com acachapantes 450 votos. 

Sem o famigerado foro privilegiado, seus processos que até então tramitavam no STF desceram para Curitiba e ele teve brevíssimas férias,pois na semana passada foi preso pela operação lava-jato. 

Eduardo Cunha é um grande corrupto, peixe grande que caiu pela sua truculência e pelo pouco trejeito nos bastidores do poder com relação ao seu temperamento explosivo.Longe da mídia Cunha cometeu pecados e não soube se utilizar de uma célebre frase do maior filme de todos os tempos: O Poderoso Chefão, onde Don Corleone dizia: MANTENHA SEUS AMIGOS PRÓXIMOS E SEUS INIMIGOS MAIS PRÓXIMOS AINDA. É ...não soube fazer isso.

Preso, Cunha pode levar para a cadeia algumas dezenas, quem sabe derrubar até o Presidente da República.

Cunha deveria mofar na cadeia  onde como corrupto deveria ficar para sempre.. Mas tem a oportunidade de delatar. Cunha tem muito material? Tem muitas provas? Isso nem se fala. Mas para essa denúncia ser aceita pelo Ministério Público Federal terá que suar sangue, pois, não será qualquer delação, será a DELAÇÃO. 

Aguardemos então o desenrolar dos fatos com a expectativa de vermos um Brasil passado a limpo de verdade. Um Brasil aonde  políticos como Cunha não devem aparecer nunca mais e onde o sistema político atual já velho e sepultado parece uma múmia que aterroriza quando aparece. 

Precisamos de reformas urgentes com o endurecimento das leis contra a famigerada corrupção.Precisamos ser a nação que deveríamos ser: fortes, com protagonismo mundial.Enfim, há um longo caminho para se percorrer.

Cunha, Dilma, Lula, Aécio e outros NUNCA MAIS.

POR MARCELO AUGUSTO DOS SANTOS PINHEIRO










– Advogado – OAB/AM nº 9.365 
- Especialista em Direito Civil e Processo Civil;
- Área de atuação: cível, ambiental, eleitoral e constitucional; e

- Fundador da Marcelo Pinheiro - Advocacia



Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Teologia Moral


Caros leitores quero através deste artigo aguçar a curiosidade e chamar a atenção de cada leitor para a questão da moral com base na Teologia moral, sou Católico Apostólico Romano e é com imensa alegria que partilho com vocês um pouco do que nos é ensinado.

Para começar quero fazer a seguinte reflexão “os fins justificam os meios”? penso que ao ler este pequeno artigo você encontrara a resposta e fundamentos para ter de fato uma reta consciência dentro do que o artigo nos propõe.

Desejo que façam uma boa leitura, e para aqueles que quiserem se aprofundar no assunto ao fim do artigo deixo algumas referências bibliográficas.

O que é moral?

■ Moral é a arte de viver

– Aprender a viver

– O homem tem capacidades, mas precisa ser educado, desenvolver essas capacidades.

Educar= ex ducere

■ Moral é a arte de ser livre

– É a arte arte de usar bem a liberdade

■ Moral é a arte do hábitos, dos bons hábitos

Como descobrimos o que é bom?

■ Com a inteligência descobrimos o que convém ou não a nós, atos que estão ou não conformes à natureza humana criada por Deus.

Atos bons e atos maus

– “Segue os mandamentos”

– “Vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no céu; vem, e segue-me”.

Ø Tem atos que nos colocam em direção da vida. Tem atos que nos tiram dela.

“Bom Mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?” – Lc18,18

MORAL FUNDAMENTAL
NOÇÕES FUNDAMENTAIS

Os atos livres do homem

■ Para uma ação ser moral, precisa começar por ser humana.

■ Atos do homem – os que procedem do homem, mas que falta quer advertência (dementes, crianças, distração total), quer voluntariedade (coação física), quer uma e outra (quem está dormindo).

■ Atos humano – atos próprios do homem, ou seja, levados a cabo com conhecimento e liberdade, duas características do ser humano que é, simultaneamente, racional e livre.

■ Para a ação ser humana é necessário conhecimento e deliberação, em outras palavras, a advertência e o consentimento.

Sentir não é consentir

“Os atos humanos são atos morais, porque exprimem e decidem a bondade ou malícia do próprio homem que pratica aqueles atos” – Veritatis Splendor, 71

O homem é capaz do bem e do mal

■ Para que se possa imputar o bem e o mal, é preciso que a ação tenha sido realizada com plenitude de conhecimento e com ponderada deliberação.

■ Não se pode exagerar tanto alguns elementos que têm influência no conhecimento e na decisão da liberdade, que se chegue a considerar que o conhecimento perfeita e a vontade plena nunca se dão, ou só se encontram em muito poucas ocasiões.
Isto seria um conceito pessimista do homem, como se quase nunca fossem capazes de atuar como pessoas.
■ O magistério rejeita a afirmação de alguns autores, que mantém que o homem muito poucas vezes pode cometer um pecado mortal, pois não gaza de um conhecimento lúcido nem é capaz de decidir livremente na sua ação.

“Este homem pode ser condicionado, pressionado, impelido por numerosos e ponderosos fatores externos, como também pode estar sujeito a tendências, taras e hábitos relacionados com a sua condição pessoal. Em não poucos casos, tais factores externos e internos podem atenuar, em maior ou menor grau, a sua liberdade e, consequentemente, a sua responsabilidade e culpabilidade. No entanto, é uma verdade de fé, também confirmada pela nossa experiência e pela nossa razão, que a pessoa humana é livre. E não se pode ignorar esta verdade, para descarregar em realidades externas — as estruturas, os sistemas, os outros - o pecado de cada um.
Além do mais, isso seria obliterar a dignidade e a liberdade de pessoa” – São João Paulo II, Reconciatio et Paenitentia, 16

Ação com duplo efeito

■ Ação de duplo efeito: quando de uma única ação derivam dois efeitos – um positivo e outro negativo. Para se executar requer-se que se deem simultaneamente 4 condições:
– A ação seja boa ou ao menos indiferente;
– Que o fim que se pretende seja alcançar o efeito bom;
– Que o efeito primeiro e imediato que se segue seja o bom e não o mau e
– Que exista causa proporcional grave par atuar.

Moralidade do ato humano

1. Objeto – ação mesma do sujeito, mas olhada do ponto de vista moral
(ex: assassínio, defesa própria, aborto, mentir, rezar, adular...)
2. Circunstâncias – diversos fatore ou modificações que afetam o ato humano: quem, que coisa (qualidade ou quantidade do objeto), onde, com que (meios), quando
3. Finalidade – intenção que a pessoa tem ao praticar um ato; pode coincidir ou não com o fim objeto da ação

Moralidade do ato humano

■ “O ato moralmente bom pressupõe, em simultâneo, a bondade do objeto, da finalidade e das circunstâncias” (Catecismo n. 1760).
■ As circunstâncias, incluindo as consequências, são elementos  secundários dum ato moral. Contribuem para atenuar ou agravar a bondade ou a malícia de um ato. Não podem, de per si, modificar a qualidade moral dos próprios atos; não podem tornar boa ou justa uma ação má em si mesma – Cf. Catecismo, n. 1754
“Não se pode fazer o mal com o fim de obter um bem” – (Rm 3,8)Os fins não justificam os meios!

■ Os atos morais são bons na medida em que podem ser orientados para Deus, por isso aperfeiçoam a pessoa e, além disso, são válidos para alcançar a salvação.
■ Pelo contrário, existem atos que, por muito boa que seja a intenção e, inclusive, pelas circunstâncias que neles concorrem, são em si mesmos maus, independente das intenções do agente, já que não são ordenáveis a Deus.

Este artigo é parte de um material escolar que tenho onde faço meu curso de Teologia, “saboreiem”, forte abraço a todos esperam que tenham gostado.

Bibliografia Básica

■ FERNANDEZ, Aurelio. Moral Fundamental
– Iniciação Teológica. Lisboa, Diel, 2003;e
■ LORDA, Juan Luis. Moral, a arte de Viver.
São Paulo: Quadrante 

 Bibliografia Auxiliar

■ AGOSTINI, Nilo e MANZINI, Rosana. Moral
Fundamental. Batatais, Claretiano, 2012;
■ HARING, Bernard. A lei de Cristo. São Paulo: Herder,1959. (3 volumes);
■ JOÃO PAULO II, “Carta encíclica Evangelium Vitae (O Evangelho da Vida), sobre o valor e a inviolabilidade da vida humana”, em Documentos da Igreja, v. 4.
São Paulo: Paulus, 1997, p. 885-1038;
■ PINCKAERS, Servais, Morality, The Catholic View.
South Bem: Augostine’s Press, 2000;
■ PINCKAERS, Servais, El Evangelio y la Moral. Barcelo: Eunsa, 1992; e
■ PIO XII, “Carta encíclica Humani Generis, sobre opiniões falsas que ameaçam a doutrina católica”, em Documentos da Igreja, v. 5. São Paulo: Paulus,1988, p. 431-452.Paulinas, 1993.

POR ALEX ALESSANDRO TRIDA











-Cabeleireiro de corte masculino;
- Cristão da  Igreja Católica Apostólica Romana;
- Faz parte da pastoral familiar de sua paróquia e
- Atualmente  faz um curso de teologia oferecido por sua Diocese
Mora em Serra Negra -São Paulo.

Nota do Editor:
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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Consumidor por Equiparação ou Bystander

Há vários tipos de nomenclatura para o consumidor, mas afinal, quem é a figura do Consumidor por Equiparação ou Bystander?

Muitas vezes não estamos diretamente envolvidos em uma relação de consumo, mas podemos ser vistos e tratados pela lei como se tivéssemos feito parte da relação de consumo.

Quando o consumidor não está envolvido diretamente na relação de consumo, mas participa de evento involuntariamente e absorve os impactos dessa relação, poderá ser protegido pelo Código de Defesa do Consumidor. 

Para melhor entendimento, segue alguns exemplos:

Se uma pessoa está utilizando um equipamento ou um celular, e inesperadamente esse produto explode atingindo terceiros, as eventuais vítimas do acidente serão protegidas como se fossem consumidores, como se tivessem participado da compra daquele objeto. 

Ou ainda, se um avião cair e atingir diversas residências, mesmo as pessoas nunca tendo sido parte da relação de consumo estabelecida entre a companhia aérea e os passageiros, se tornaram vítimas de danos advindos da extensão da relação de consumo e estarão também protegidas pelo Código de Defesa do Consumidor.

Portanto, os consumidores por equiparação, ou chamados bystanders por alguns autores, são aqueles que até determinado momento eram apenas presenciadores de uma situação e passam à condição de consumidores equiparados quando se tornam vítimas de um acidente de consumo.

Por MARIA RAFAELA LEONARDI GALHARDI - OAB/SP 339.109


















Bacharel em Direito pela Fundação Armando Alvares Penteado-FAAP (Dezembro/2012);
Graduanda do Curso de Especialização em Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica; e
– Sócia no escritório BFGV ADVOGADOS ASSOCIADOS; e

- Áreas de Atuação : Direito Civil, Direito Imobiliário e Direito Trabalhista

Nota do Editor:
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terça-feira, 25 de outubro de 2016

Alguns dos Desafios da Advocacia na Era Digital



Que o mundo está em constante transformação é indubitável. Dizer que as transformações trazem um certo desconforto por exigir das criaturas atenção a novas condições de aprendizado e, sobretudo, readaptação, seria redundante, se a isto, estivessem todos acordes e integrados ou, no mínimo, dispostos a aceitar as mudanças.

A velocidade das mudanças no desenvolvimento econômico, em especial da industrialização, das inovações tecnológicas, da revolução digital e da informação, o avanço dos processos culturais e do cotidiano das pessoas no grupo social, têm despertado a ansiedade de que viver é incerto, chegando-se mesmo a conjecturar-se que beira às raias do incontrolável e assustador, situação que é muito diversa da segurança projetada em torno de uma vivência social estável. 

Surge, então, a universalização do medo por conta desta ansiedade gerada nas incertezas e pela difícil quão aterrorizante adequação aos tempos novos, nascido das ‘perdas’ derivadas das transformações vigentes. 

Pensemos numa ‘reforma’ estrutural dentro de nossos lares ou em nossos escritórios, os ambientes de ‘aconchego’ de nossas lidas diárias. Claramente, isto nos causaria desconforto, perturbações e incômodos porque afetaria sobre modo, nossas comodidades e nos obrigaria ao desapego que consiste no desfazer-se de coisas antigas e desnecessárias para dar lugar a ambientes próprios às necessidades do espaço que se pretende reformar.

Nos terrenos mais específicos da ética e da cognição é que as criaturas, são desafiadas a encontrar a sua conformidade, a sua identidade e adequação aos novos tempos. Desta forma, as grandes estruturas Institucionais, identificáveis pelos códigos de conduta expressos em leis, que visam o bom funcionamento dos grupos sociais, bem como, os governos que buscam ou, pelo menos, deveriam buscar políticas governamentais adequadas aos novos tempos, são os responsáveis maiores no amparo aos Cidadãos promovendo maior segurança para as transformações decorrentes do desenvolvimento estabelecido.

Em todo este amplo contexto nacional e internacional de transformações pelo progresso constante e exigente, a advocacia brasileira, guardiã da Justiça, assim como os indivíduos, as instituições e os governos, encontra-se desafiada a estabelecer novos paradigmas a partir de alterações que impactarão diretamente o seu exercício tanto na vida do profissional que a exerce, o jurisconsulto, o jurista, como para o jurisdicionado.

Dentre todas as mudanças estruturais necessárias, destacam-se três que estão em curso e que terão maior incidência na operacionalização do Direito. Citamos:

Preliminarmente, o novo Código de Ética e Disciplina/CED em vigor desde o dia 1º de setembro/2016 e que trouxe, entre as inovações, a advocacia ‘pro bono’ que possibilita o exercício gratuito aos economicamente necessitados, o que era vedado, tendo isto vigorado por 20 anos no Código antigo. Outro ponto digno de nota, diz respeito ao maior rigor ético estabelecido aos dirigentes da Ordem dos Advogados do Brasil/OAB.

É também inovadora a permissão de publicidade dos serviços por meios eletrônicos, tais como as redes sociais, porém, guardando “caráter meramente informativo”, devendo primar pela “discrição e sobriedade” e não a captação de clientela.

O novo CED determina como princípio ético do advogado, estimular a resolução dos litígios nos meios extrajudiciais, tais, a mediação e conciliação, prevenindo, então, a instauração de processos judiciais. 

Foi realmente importante a aprovação do novo Código de Ética e Disciplina, pois, com ele, há que se adotar uma nova postura na classe já que a normativa aumenta a responsabilidade dos Tribunais de Ética, que passaram a ter a competência ampliada, além de julgar e instruir os processos disciplinares.

Outrossim, o cumprimento do novo CED é imprescindível para que a classe alcance dos próprios pares e da sociedade como um todo, o respeito que se almeja. Entretanto, a alteração havida no CED não ficou restrita à prática da advocacia, pois, a normativa contempla também, as eleições corporativas, a representação em órgãos que têm a participação da OAB, as sociedades de advogados e a advocacia pública dentre outros. Há que se destacar a tipificação como falta de ética do recebimento ou da cobrança de honorários advocatícios aviltantes à classe. 

A despeito do novo CED, assim manifestou-se o Presidente nacional da OAB, Cláudio Lamachia:

"O produto final é um texto que reflete ampla participação da advocacia brasileira. É extremamente importante que todos e todas tenhamos conhecimento do texto para que ajam dentro dos limites éticos e disciplinares que a sociedade espera de nós”.

Em segundo lugar, destacamos o novo Código de Processo Civil/CPC que apresenta mudanças, tais como: outra ordem processual para a qual o advogado precisa estar atento, pois, mudou-se a maneira de peticionar, de contestar, de recorrer e executar. Há agora a unificação de julgados, a criação de súmulas, demandas repetitivas, precedentes, conciliação e mediação, dentre outras. As novidades legais que visam beneficiar as partes e os advogados, para serem implementadas na prática, tal como desejado pelo Legislador, devem ser atentamente observadas para que a lógica do precedente não esvazie a função dos órgãos de primeiro grau de jurisdição.

Finalmente, há que se destacar, a implementação do Processo Judicial eletrônico/PJe que perpassa pela forma de se peticionar nos processos e, mostra claramente, o senso da evolução. Primeiro foi a escrita à mão, depois veio a utilização das máquinas de escrever, e há tempo, graças à tecnologia digital e à informática, trabalha-se com o computador, a digitalização que avança a olhos vistos, pois a cada dia, equipamentos novos e com maiores possibilidades hão surgido. Assim, os processos vão deixando, gradativamente, de serem ‘físicos’ e passam a ser ‘virtuais’ ou seja, digitalizados, e o sistema judiciário avança, embora os enormes percalços provenientes da estrutura sólida e atrasada de antanho. 

Todas as mudanças que se vêm realizando no processo evolutivo das circunstâncias, cobram aos profissionais do Direito que não podem deter-se simplesmente no domínio das técnicas jurídicas, ou simplesmente, respeitar os preceitos éticos da profissão, o que é de fato, importantíssimo e imprescindível, mas, não somente, pois, também são concitados a adquirir conhecimentos em informática para bem utilizar o PJe, que exige do usuário, o domínio do sistema para o processo digital, com as habilidades concernentes para juntada de documentos, partição de arquivos, postagem de defesas sigilosas, bem como o peticionamento de maneira geral. Não são poucos os profissionais do Direito que, não afeitos às mudanças, não estão conseguindo acompanhar, sendo por isto mesmo, alijados do processo. 

A verdade é que, aqueles que não se dispuserem à adequação para acompanhar os progressos que se vão realizando em todas as áreas do conhecimento humano, deixando-se levar de roldão pela barafunda desenvolvimentista, em algum momento serão massacrados pelo ‘trator’ da desinformação, do desconhecimento e da estagnação que os farão sentir-se como que fora do contexto. 

Em “Micrômegas” – Livro Filosófico escrito por Voltaire em 1752, está escrito:

“Andei viajando um pouco; vi mortais muito abaixo de nós, vi muito superiores; mas não vi nenhum que não tivesse mais desejos do que reais necessidades e mais necessidades do que satisfação”. - História Filosófica, capítulo 2, Voltaire Contos, Editora Nova Cultural.

Toda criatura humana traz ínsito a vontade de liberdade, de crescer, de realizar e progredir, a par disto, é urgente despertar a vontade de fazer e, transformar o medo de mudar.


POR MÔNICA MARIA VENTURA SANTIAGO
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-Advogada especializada em Direito de Família e Sucessões, Direito Internacional Público e Direito Administrativo.

Nota do Editor:
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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Encantos e Desenganos

A ânsia de poder, inerente ao ser humano pelo seu atavismo ancestral no processo de evolução, se não for resolvida com equilíbrio, gerará inúmeros quão perturbadores conflitos que impedirão o motivo essencial da existência que visa o bem-estar, a harmonia, a felicidade.

Enganosamente se crê que o sentido do poder se encontra nos recursos materiais, financeiros, amoedados ou, na relevância que se alcança nas camadas sociais, políticas, religiosas ou ainda, nos destaques culturais, em seus relevos multifacetados. 

Todavia, uma observação atenciosa das experiências vividas cotidianamente, levará à compreensão de que o verdadeiro poder somente é encontrado na conquista interior da satisfação de auto realizar-se, especialmente, se se vive com amor e pelo amor como a mais alta gradação dos sentimentos. Destarte, foi este o grande ensinamento legado à Humanidade pelos maiores Mestres e Avatares do Ocidente e do Oriente, notadamente, Jesus Cristo, tão especial e grandioso na História da Humanidade que Sua Vida e Obra são as mais comentadas e discutidas dentre todas as que se podem encontrar na Cultura das Civilizações em todos os tempos, embora, ainda não completamente compreendido nem vivenciado, porém, jamais ultrapassado! 

Indubitavelmente, à vista das notícias nestas últimas décadas no cenário sociopolítico cultural, seja no Brasil ou alhures, o sentido do poder desvenda uma triste faceta, pois, mostra que, toda vez, quando a criatura se sente defraudada na sua ambição excessiva, ela se rebela, permitindo que o ego, o centro da consciência inferior, aquele mesmo que é acionado em seus mecanismos de defesa para lidar com as situações difíceis, como os estresses, as perdas e os obstáculos, seja atingido, acionado e subestimado, gerando então, os sentimentos menores de mágoas, rancores, ressentimentos e ódios. 

É esse ‘encanto’ ou fascínio pelo poder que tem acarretado por vias diretas, dores individuais e, direta ou indiretamente, atrozes sofrimentos coletivos. Haja vista, a guerra na Síria, cujo poderio de um ditador proveniente de uma família no poder há 46 anos, vem dizimando famílias inteiras de civis e obrigando os sobreviventes a refugiarem-se aonde não são bem-vindos, se, antes, não forem abatidos nos bombardeios ou, se não sucumbirem nas águas geladas e profundas do oceano. Por outra, os degradantes níveis de desemprego em toda parte, ocasionados pela corrupção sistêmica mundial que conforme dados da OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico Mundial, é a grande responsável por dois terços da fome e da miséria disseminados pelo mundo.

O Sociólogo francês, Philippe Steiner, Professor e Pesquisador da Université Paris-Sorbonne, publicou em 2011 o estudo intitulado “Les Rémunerations Obscènes – As Remunerações Obscenas” - no qual ele analisa que os salários obscenos, as compensações lascivas, o enriquecimento extremo, constituem na modernidade, objetivo dominante não apenas do mundo financeiro e dos bancos, mas, também das grandes empresas e dos homens de negócios, das ideologias políticopartidárias, de governos autoritários e tiranos no mundo inteiro.


Para Steiner, a cobiça pelos ganhos ‘obscenos’, apodrecem as relações sociais, arruínam a ética e o valor do trabalho e prejudicam a política pela contaminação e degradação que poluem todos os meios considerados para o desenvolvimento sustentável de um Povo e sua Nação.



Estas considerações são perfeitamente cabíveis, também, no quadro da crise política brasileira que pôs a descoberto as práticas vergonhosas da velha política de compadrio, das relações promíscuas e ultrajantes entre o poder público e o privado, na insana corrupção desmascarada a cada dia, cujos fatos estarrecem e adoecem os cidadãos, abalando os alicerces do que deveria ser a solidariedade social e a responsabilidade no senso comum. 

A tremenda desproporcionalidade gerada pela cupidez, pela ambição desmedida por riqueza e poder, que desnuda a opulência no topo da pirâmide das camadas sociais em detrimento da situação adversa e penosa e do extremo infortúnio que atinge as classes mais sofridas das populações, acometidas pelo desemprego, pelos baixíssimos salários e pela falta de perspectivas de ascender nas condições decentes de vida às quais fazem jus pela garantia de seus direitos fundamentais, fomenta um doentio descrédito, uma descrença e uma desesperança.

Estes sentimentos negativos, são analisados por outro lídimo Pensador Social da contemporaneidade, o Sociólogo polonês , Zygmunt Bauman, que, na sabedoria de seus 91 anos de lucidez, descreve-os como reveladores da grande decepção que acomete as criaturas que observam de modo impotente e lastimoso, a justiça social comprometida, gerando o exacerbar da raiva e do ódio pela reprovação à rapacidade dos malfeitores, infames sicários, astutos e mal-intencionados cuja desfaçatez, diríamos nós, fariam ressurgir do túmulo o pensamento do Filósofo, também francês, Blaise Pascal (1623-1662) para reafirmar: “A verdadeira moral zomba da moral” – como a demonstrar que a criatura humana transformou a moral, derivada do juízo do senso moral insculpida na consciência, numa utopia ética ou num código social desarrazoado com o qual pretexta ou intenta manipular o comportamento de toda uma geração. 

Hodiernamente, a iniquidade, o péssimo caráter e a mordacidade presentes nas diversas formas de ganância e cobiça que adornam os atos de corrupção no poder e pelo poder, tornaram-se tão constantes e banais na vida cotidiana que os cidadãos se apresentam, de certa forma, feridos e calejados pela desumana perversidade, ainda que, não se tenham despertado para o fato de que o mal, aquilo que é nocivo e prejudicial, pois, se opõe à virtude, à probidade e a honra, esteja, como numa epidemia sistêmica e avassaladora, disseminando a insensibilidade ante o sofrimento alheio. 

Bauman define essa impassibilidade ou privação da sensibilidade, como a “cegueira moral” que caracteriza as sociedades neste “mundo moderno” que ele define como sendo “líquido” ou “fluido” e que, conforme suas conclusões, suplantou a “modernidade sólida”, vivida em outros tempos, sendo esta, bem mais lenta que aqueloutra. A transição para essa vivência fluida, intensamente dinâmica da modernidade líquida, carreou profundas transformações à vida humana sob todos os aspectos considerados.

Interessante notar que naquela “modernidade”, anteriormente “sólida”, reinava uma característica da qual se dizia tão importante ao ponto de ser considerada como constitutiva da própria sociedade, era a “confiança” embasada em três pilares indispensáveis: a confiança em si mesmo, a confiança nos outros e nas Instituições. 

Aquela ‘confiança’ garantidora do equilíbrio das instituições, de governos, e da sustentabilidade da vida material, social, familiar, religiosa e cultural no mundo sólido, vê-se agora ameaçada pelas incertezas quais, os crescentes compromissos e dívidas resultantes da avidez consumista; a pré-ocupação com o ‘ter’ e o ‘poder’; as escorchantes cobranças de impostos; a mesquinharia dos valores salariais para certas categorias em detrimento de outras; a fragilidade dos empregos disponíveis e a inacessibilidade a empregos mais sólidos em carreiras confiáveis, tanto quanto a nebulosidade do futuro quanto às aposentadorias, tendo-se em vista, a maior expectativa de vida do ser humano. Bem assim, a intolerância, a impaciência e o egoísmo que fazem ruir as relações interpessoais, causando insegurança de cunho emocional. Todo este espectro inquietante de superfluidade e degradação se traduz na denominada “incerteza existencial” que, nada mais é, senão, um pavoroso amálgama de ignorância (desconhecimento) e impotência (fragilidade). 

Sentindo-se engalfinhados nesta fonte inexaurível de sofrimentos e humilhações, as criaturas desagregam-se quando deveriam se unir. Os apelos à solidariedade parecem ridículos ante a ganância e sede de poder que leva ao maldito interesse “primeiro os meus”; “farinha pouca, meu pirão primeiro”; “se não sou respeitado, por que deveria respeitar”? Nesta balbúrdia, a inveja, o medo, a violência, encontram facilmente seu lugar, infortunadamente! E a sociedade humana sofre! Exatamente porque, a criatura que busca a sanidade e o equilíbrio, vê no outro, o reflexo projetivo das próprias experiências na evolução desafiadora. 

Um dos maiores contistas da Literatura mundial, o escritor e poeta francês, Guy de Maupassant, 1850-1893, tido e havido como o escritor mais lido nos últimos anos do Século XIX, concebeu uma história fascinante na qual fala-nos de um jovem casal que pertencera à antiga burguesia francesa e que sobrevivera, vivendo em rica mansão, no coração de Paris, naquele período difícil da Revolução Francesa, enfrentando enormes vicissitudes. 

O homem era modesto funcionário de um dos ministérios na época de renovação do Império de Napoleão III, o Imperador que resolvera oferecer um baile para ressuscitar o fastígio napoleônico. O evento seria presidido pelo próprio Imperador, no Palácio das Tulherias - Palais des Tuileries - para gáudio da aristocracia e da nobreza que a Revolução expulsara da França ou mandara aos calabouços na Conciergerie. 

Desta forma, foi feito o levantamento histórico das árvores genealógicas da nobreza e o jovem casal foi contemplado com um convite especial para a festa retumbante. A esposa, Marie Antoinette possuía a altivez e a beleza que caracterizava as tradições dos antigos Bourbons. Mas, eram pobres, “pobres de marré d’ici”. Porém, o marido que a amava sobremaneira, jurou envidar todos os esforços para contemplar a jovem senhora com a indumentária e os luxos que a ocasião exigia. 

À custa de altíssimo empréstimo realizado no Ministério ao qual servia, o esposo de Marie contratou famoso estilista que confeccionou os trajes dignos do brilho com que o casal desejava apresentar-se. Todavia, o vestido da madame tinha um decote para o qual, somente linda e ofuscante joia, poderia complementar. Eis que surge a questão! Onde encontrar um colar de diamantes que enfeitasse o pescoço nu da jovem Marie, à moda das deusas do Olimpo que embelezavam de prazer as criaturas inebriadas na Terra?! 

Foi então, que se lembraram de uma velha marquesa que vivia ociosamente cercada de jovens, os quais, mantinha a peso de ouro. Tratava-se de uma mulher muito rica e depravada, conhecida no “grand monde” de Paris. 

No afã de conseguir por empréstimo, o colar de diamantes que lhe adornasse os sonhos ao compor seu traje belíssimo, Marie visitou a marquesa que sorridente, recebeu-a, e orgulhosa por sentir que poderia ser útil, apresentou-lhe sua coleção de joias, abrindo os vários estojos de veludo propiciando que a jovem pudesse escolher. 

Os olhos de Marie brilhavam contemplando a beleza na profusão de adereços e colares e deslumbrada, escolheu uma das peças cujos diamantes pareciam-lhe gotas de luar! - “Escolheste esse? ” – Indagou a velha senhora ao que Marie redarguiu: - “sim, este é maravilhoso e me cairia muito bem! A senhora me emprestaria este?!” – “Claro, minha filha! Tenho tantos! Esse, eu o chamo de o colar das lágrimas perdidas”! Assim enfatizou, entregando-o à jovem em expectativa incontida. 

A noite do baile imperial foi deslumbrante! Anfitriões e convivas chegaram às raias da emotividade pelo prestígio, pela glória, pelo prazer, pelo luxo! Fartaram-se e bailaram até o raiar do outro dia! Desditosamente, como o que é bom dura pouco e tudo passa, ao chegar em casa, o casal percebeu que a joia havia desaparecido. Em desespero, procuraram em cada canto possível. Retornaram ao Palácio, interrogaram os serviçais e a todos que encontravam e, nada. Que fazer? Não poderiam confessar o sumiço da joia à marquesa, pois, ela não acreditaria, os denunciaria e eles seriam presos! Não haviam testemunhas... 

Angustiados, perdidos, desesperados e envergonhados, buscaram um joalheiro que pudesse criar uma peça que imitasse o colar com riqueza de detalhes e perfeição. Contudo, não tinham com o que pagar. O profissional, cobrou uma fortuna, afinal, tratava-se de uma joia incomparável! Era um “colar de diamantes”! 

Foi a ruína total! Venderam a mansão decadente, a velha tapeçaria, as cortinas desbotadas, as vestes, e tudo o que possuíam. Empenharam todos os haveres e contraíram mais empréstimos pesados. Ao fim de umas semanas, Marie compareceu à casa da marquesa para devolver o colar. Esta, recebeu-a fria e indiferentemente, nem mesmo conferiu a joia. Marie ficou desapontada! “Dei minha vida por este colar e ela não deu a mínima! ” - Pensou a jovem desoladamente. 

Passaram-se os anos e, daquele jovem casal, não restara quase nada. As dívidas contraídas, o desfazer-se dos parcos bens dos quais ainda dispunham para pouco conforto, tendo que ir habitar nas periferias da Cidade luz, e o trabalho exaustivo que tiveram que enfrentar, tudo isto, causou aos esposos duro baque moral. Marie envelhecera vertiginosamente, lavando roupas no rio Sena com as mãos calejadas e os dedos deformados pela artrite. Prematuramente, a cabeça encanecera e ela foi acometida por tuberculose pelas condições insalubres de vida. O marido, trabalhando à exaustão para pagar os juros das dívidas contraídas com os empréstimos adquiridos, padecendo de angústia e sofrimento, morrera pouco tempo depois, nos arredores de Paris onde foram morar no anonimato da pobreza. 

Muito tempo depois, Marie teve ensejo de encontrar a marquesa já bastante avançada em anos que não a reconhecera tal o estado degradante em que se encontrava. Triste, desconsolada, andrajosa e desgrenhada como uma mendicante. – “Sou Marie Antoinette, não me reconheces? ” – “Por suposto que não! Como poderia?! O que lhe aconteceu, minha filha? Por que estás neste estado? ” – “Meu marido morreu de desgosto. Vivemos na miséria por causa daquele seu maldito colar que nos desgraçou a existência”. – “Mas, o que dizes?! Qual é o seu drama? ” 

- “Naquela noite de paixões, sonhos e utopias, após o fausto, iniciou-se nosso degredo. Eu perdi o colar de diamantes. Desesperados, para não sermos denunciados como ladrões, eu e meu marido, empenhamos tudo o que tínhamos, vendemos a alma ao demônio para pagar outra joia como aquela que me emprestastes e devolvê-la a ti que não deu a menor atenção ao meu gesto, não se dignando ao menos em conferir a peça. Pois, ela foi a causa da nossa ruína, da morte de meu esposo e da minha morte em vida”. 

- “Mas, vocês devem ter enlouquecido!! O colar que lhe emprestei era falso. Comprei-o por apenas cem francos nas Galeries Lafayette! Não valia mais do que isto! Era uma fantasia ordinária! Você acreditou que era uma joia valiosa e, realmente, era o que parecia, mas, ... você... deslumbrou-se ... e eu, ... bem, eu fui conivente com seu encantamento! .... Pobre, mulher! Por que não me confiaste sua desdita?!” 

Assim como Marie e seu esposo, entre encantos e desenganos, seguem as criaturas vivendo como se a vida fosse coroada por um falso “colar de diamantes”, o “colar do rio das lágrimas perdidas”! 

Na Síria, o Presidente ditador, Bashar al Assad comparece em público raramente, apenas para as festividades religiosas, ocasião em que preside as orações junto aos representantes do Partido, do Estado, dos líderes religiosos e civis, sempre exaltando a coragem dos seus soldados que enfrentam na guerra, aqueles a quem denomina ‘terroristas’, mas, que são, na verdade, os insurgentes contra seu governo nos confrontos que já persistem por mais de 5 anos, tendo ceifado, até aqui, quase 300 mil vidas. 

Enquanto ele comanda a violenta repressão aos seus opositores, sua mulher, a primeira dama que não é síria, é britânica, vive o ‘baile’ da vida, glamourosamente, consumindo roupas de grife em Paris e vasos de cristal em Londres, completamente alheia ao sofrimento e ao futuro do Povo sírio. É tão escandalosa a vida luxuosa do casal que a União Europeia estabeleceu sanções congelando seus bens e proibindo, inclusive, as quatro mulheres mais próximas do ditador de viajarem ao continente europeu. 

Dançando nos ‘bailes’ da vida, vivendo na embriaguez dos sentidos, seguem as criaturas, corrompendo e se deixando corromper. Vivem disputando quinquilharias com tanta avareza, acumulando tralhas às quais se atribui enorme valor, empenhando-se até à saciedade por mentiras e ilusões. 

Seguem, infelicitando a si e aos outros pela ganância desenfreada do ‘ter’, enquanto se esquecem das lições do Mestre Divino, anotadas em Mateus, 6, 19-21: “Não acumuleis tesouros na Terra onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas, ajunteis tesouros nos Céus onde a traça e a ferrugem não consomem e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. 

Tudo na Terra é impermanente, assim ensinou Buda há quinhentos anos antes de Cristo. Os ditadores passarão, os impérios ruirão, os bens móveis e imóveis transferem-se de mãos, e as criaturas seguem infelizes, escravizando-se aos bens terrenos que perdem o valor, enquanto os tesouros verdadeiros, que não se compram, permanecem relegados. 

Sim, vivemos novos tempos! Tempos da “modernidade líquida” que o eminente Sociólogo, Bauman, explica em suas Obras notáveis, “medo líquido”, “amor líquido”, “vigilância líquida”, “vida líquida”, “vidas desperdiçadas”, “modernidade e ambivalência”, “globalização” da qual se pergunta – “A riqueza de poucos beneficia todos nós? ” - “Vida para consumo” sobre a qual se questiona - é possível viver-se a Ética num mundo consumista por excelência?! 

Sim, vivemos novos tempos nos quais a vida terrena não passa de ser um ‘baile’ como aquele de outro século, suntuoso e enganador para as criaturas que ainda não quiseram ou não lograram conhecer Jesus. Para todos os que se encantam pelo poder sem se darem conta da sua transitoriedade. 

Para os que se afligem, brigam e matam pela riqueza e pelas coisas temporais, a vida, nada mais é, além daquele baile que tem a duração de uma noite de delírio e arrebatamento para despertar no dia seguinte nas brumas da decepção, do desengano e do sofrimento. 

Henry René Albert Guy de Maupassant que nos legou este conto profundo de lições e mais outros 299, todos considerados Obras de grande valor literário, foi um homem rico e famoso. Teve muitos casos amorosos e foi vitimado pela sífilis que lhe causou grandes padecimentos por mais de uma década, atormentado por pesadelos, angústias e alucinações. Viajou por diversos países, mas, desenvolveu uma tremenda aversão à sociedade e paranoia de perseguição. Tentou o suicídio e faleceu no ano seguinte, em um manicômio, aos 43 anos de idade. 

Ele ouviu falar de Jesus, pois, foi seminarista, porém, não logrou vivenciar o Mestre. Se o tivesse feito, saberia que, não sendo deste mundo o Reino do Senhor, ainda assim, poderia trabalhar para alcançá-Lo, na medida do possível, a partir daqui, pois, se o Reino de Deus não é deste mundo, contudo, estando o Reino dos Céus dentro de nós, conforme asseverou o Mestre, este ‘Reino’ começa aqui mesmo, em decorrência da consciência do dever bem cumprido, pelo caráter probo e reto, graças ao coração pacificado.

POR MÔNICA MARIA VENTURA SANTIAGO











-Advogada especializada em Direito de Família e Sucessões, Direito Internacional Público e Direito Administrativo.

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