A organização dos estudantes, dentro das escolas , com uma pauta de reividicações específicas do corpo discente, é prática antiga e nos remete aos antigos "grêmios estudantis". São, portanto, organizações legítimas, cujas diretorias são eleitas democráticamente pelos estudantes.
A atuação destes grêmios está focada em assuntos internos da unidade escolar. Reivindicam melhorias nos equipamentos da escola, a promoção de eventos culturais, festas comunitárias e também a melhoria da qualidade do ensino. Tudo dentro de um contexto apartidário como deve ser uma organização estudantil preocupada com a educação.
A interferência externa nestas organizações, por parte de entidades como a Ubes e a UNE, marcadamente partidarizadas e ideológicas, exerceu pouca influência nas ações estudantis dentro das escolas durante anos. Entretanto, o recrutamento de lideranças e militantes sempre foi uma ameaça aos propósitos naturais destas agremiações.
Com a chegada do PT ao poder, em 2003, este cenário começou a mudar. Influências externas passaram a ser predominantes nas organizações estudantis que foram se unificando em tôrno de entidades estaduais e nacionais partidarizadas.
Depois de 13 anos o que observamos é que as pautas internas das escolas foram minimizadas em detrimento de pautas externas e abrangentes.
O movimento pragmático dos grêmios foi apropriado pelo movimento ideológico da Ubes, UNE e outras organizações de caráter marxista. A atuação de partidos como o PT, PCdB, PSOL e PSTU passou a determinar o "calendário de lutas" revolucionárias dos estudantes.
Se nos anos 80 e 90 , do século passado, a ação ideológica era dirigida prioritáriamente para os estudantes universitários, com o Gramscismo, adotado pelo PT nos anos 2000, a ação ideológica foi verticalizada para atingir as bases do ensino. Uma ação que conjuga professores militantes, material didático panfletário e infiltração de agentes externos nas escolas.
Com a unificação e partidarização dos movimentos dos estudantes secundaristas as antigas reividicações passaram a ser secundárias no calendário de lutas. Geralmente servem de pretexto para atos políticos como passeatas e , mais recentemente, a ocupação de escolas e órgãos públicos de administração escolar.
Como não ficar impressionado e preocupado com as quase 70 escolas estaduais do Rio de Janeiro, ocupadas e ao mesmo tempo invadidas por estudantes que se "solidarizam" com a greve dos professores estaduais ? Vemos aí uma perigosa e inadequada simbiose entre o movimento dos estudantes com o SEPE-RJ. A luta dos estudantes não pode ficar a reboque da luta sindical dos professores. Solidariedade é compreensível pois , teóricamente, remunerar melhor os professores é valorizar a educação. Porém, quando os estudantes fazem piquetes na frente das escolas e , em seguida, invadem os prédios públicos em uma ação orquestrada , feita para afrontar as autoridades, o sinal de alerta deve ser ligado.
Infelizmente o nível de debate nestes movimentos ficou engessado pela política sindical e partidária. E para os militantes não importa que o direito dos demais estudantes seja violado pela ocupação política das escolas. O que importa é a ação política em si.
O que temos que destacar é que toda essa engrenagem politizada pela esquerda não trouxe qualquer avanço na qualidade da educação pública. Tanto para alunos quanto para professores.
Continuamos a frequentar posições ridículas no ranking internacional . Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) o Brasil ocupou a 60ª posição em 2015 e nada indica que vá melhorar de posição em 2016.
No momento em que o Brasil vive a expectativa de troca de governo , com o encerramento do nefasto ciclo petista, temos que pressionar os novos atores políticos a redesenhar o palco e a reescrever o roteiro da educação no Brasil, com mais ciência e menos ideologia.
Um ambiente escolar oxigenado por idéias liberalizantes e apoiado por um currículo mais técnico e abrangente pode fazer o contraponto essêncial à superação do atraso educacional do país.
O que devemos buscar é a melhora , quantitativa e qualitativa, da educação , tanto na rede privada quanto pública. É tudo questão de gerenciamento.
De qualquer forma durante um bom tempo seremos obrigados a conviver com as distorções impostas por um modelo, baseado no Gramscismo, que transforma alunos em agentes passivos e ativos de uma ação doutrinária, esboçada no Foro de São Paulo.
Por OMAR FERNANDES
- Licenciado e bacharel em história;
-Graduado pela Universidade Gama Filho/RJ; e
- Atuou como professor na rede pública e privada da cidade do Rio de Janeiro.
- Twitter:@omarbrasilrj