sábado, 6 de maio de 2017

A Paixão pela Leitura Transforma


Todos sabemos que, atualmente, um dos grandes problemas que enfrentamos está na má qualidade da comunicação interpessoal e em seus desdobramentos. A sensação que muitos temos, nós, pais, professores e educadores em geral, é de que fracassamos no ensino de nossa própria língua, pois uma grande parte da população não fala nem escreve corretamente, além de ter dificuldade de compreender textos relativamente simples. Seria muito fácil jogar a culpa em programas educacionais públicos que mudam seus projetos a cada gestão, gerando perdas para o que já havia sido iniciado e criando confusão e insegurança para o que vai ser implantado. Esse é um problema sério, mas não é o único.

A minha proposta está baseada na leitura, ou melhor, na formação de indivíduos apaixonados pela leitura. Isso não resolveria todos os problemas educacionais que vivenciamos, mas os minimizaria. Essa responsabilidade seria de todos: escola, professores, pais, amigos, familiares etc. Cada um faria sua parte para melhorar o futuro de nossos jovens.

Sei que muitos se perguntam: Como fazer com que as crianças gostem de ler se eu mesma não leio nada? Ora, passe a ler! O exemplo é a melhor forma de educação. Casas em que há muitos livros ao alcance das crianças, em que há pais leitores, geram filhos leitores. Salas de aula em que os alunos percebem que seus professores carregam livros e são apaixonados por leitura geram alunos leitores. 

Bom, mas nem sempre a realidade é bonita. Há muitas escolas públicas que não possuem biblioteca e muitas casas em que não se encontra nem um livro sequer. 

Mas com força de vontade algumas ações benéficas podem ser realizadas. Uma delas é a criação de cantinhos de leitura nas salas de aula da educação infantil e do ensino fundamental I. Esse espaço deve ser agradável e aconchegante e deve estar guarnecido de livros variados: um dicionário de português e outro bilíngue, uma enciclopédia atualizada de, no máximo, dois volumes, um atlas, um livro sobre o corpo humano, livros de poesia apropriados para a idade, livros de contos, suspense, aventura, gibis etc. 

O acesso aos livros deve ser fácil e livre, para que as crianças se acostumem com esse material e aprendam a manipulá-lo através do contato. Há casos absurdos como o de uma escola que abrigava uma biblioteca maravilhosa, mas o diretor a mantinha fechada, para os alunos não estragarem os livros. A biblioteca era só enfeite!

Os pais ou familiares também podem ajudar nessa tarefa. Quantos de nós não íamos dormir encantados quando, na nossa infância, nossos pais nos contavam belíssimas histórias infantis?

Quantas histórias nossos avós nos contaram? Esse é o tipo de rotina que os pais modernos não podem menosprezar, pois ele é muito importante para a formação de uma criança leitora. Aqui a leitura fica associada à segurança e ao carinho.

Ler ou contar uma história ajuda a criança a trabalhar com a abstração e a se tornar criativa, mesmo que a história seja repetida muitas vezes. 

Outra atividade positiva, que envolve escola e família, é a sacola de livros confeccionada pelos professores com a ajuda dos próprios alunos. A sacola serve para colocar o livro que vai ser emprestado ao aluno durante o fim de semana. Os pais são importantes nessa atividade, pois devem ajudar os filhos que ainda não sabem ler e apoiar aqueles que já sabem. Há pais que se recusam a levar a sacola para casa pois não querem se responsabilizar pelo livro nem pela atividade, criando um trauma e uma tristeza muito grande no filho. Mas há casos em que os livros revolucionam a vida não só da família como de todo o entorno. Ivete Pieruccini conta como a vida de uma senhora mudou: “depois que uma de suas crianças passou a levar para casa livros de histórias emprestados da biblioteca da escola, a rotina da casa se transformou. A mãe, mesmo cansada do trabalho como empregada doméstica, começou a reunir os filhos para a hora da leitura. Os livros, trazidos na sacolinha de pano, que ficava pendurada num prego – a estante da casa – aguardando pelo tão esperado encontro com seus leitores, eram variados. Havia contos de fadas, histórias de suspense, de assombração, de amor e até poemas e adivinhas. Era uma festa! As vozes que manifestam alegria ou medo, assim como as palmas pela vitória dos heróis sobre os vilões, acabaram por atrair os vizinhos, principalmente as crianças, que passaram a ouvir a leitura das histórias pelos vãos das portas e pelos buracos das paredes da casa, um simples barraco. Logo, juntaram-se também os adultos. Em pouco tempo, a sala de chão batido e tapetes de papelão quase ficou pequena para tanta gente interessada nas histórias lidas em voz alta pela moradora.

Às vezes, os livros eram mais volumosos e a leitura acabava então dividida em capítulos diários. O que não representava um problema. No dia seguinte, a plateia estava lá, preparada para a continuidade da leitura. E mais: quando um livro estava por acabar, a criança já recebia novos pedidos e sugestões para o empréstimo de outros títulos.

As sessões passaram a ter hora para começar e terminar, porque no dia seguinte todos levantavam cedo para o trabalho. Só aos sábados os encontros iam até um pouco mais tarde.

Um dia, porém, uma enchente destruiu muitos barracos e quase tudo que havia dentro deles. Felizmente, as pessoas saíram ilesas. A criança pôde continuar frequentando a escola. A mãe, apesar de abalada com a perda de sua moradia e de seus bens, foi à biblioteca da escola explicar o ocorrido e desculpar-se pela perda dos livros.

Em meio à conversa e à consternação, uma revelação surpreendente: ‘Foi triste perder o barraco e as coisas que a gente tinha. Graças a Deus, ninguém se machucou. Meus filhos, eu e os vizinhos não estávamos em casa na hora da enchente. Mas, o mais triste, mesmo, é não ter mais o lugar para nossas leituras, à noite! Ah, isso sim está sendo difícil, porque a gente lia e conversava, juntando nossas histórias com as histórias dos livros, ficava junto...”

A falta do estímulo à leitura prejudica seriamente o desenvolvimento da criança. Quando ela é incentivada desde cedo, cria amor à leitura, passa a sentir vontade de ler textos cada vez mais longos e complexos. Desenvolve, assim, várias habilidades, como imaginação, abstração, criatividade, foco e atenção e ainda tem contato com a Língua Portuguesa escrita de forma correta. Com isso amplia seu vocabulário, ganha experiência e conhecimento e tudo isso de forma prazerosa. Como se não bastasse, estimula a memória, melhora seu discurso e a torna uma escritora competente. Forma, também, seu senso crítico, habilitada que está para avaliar e produzir argumentos que lhe sejam úteis para apresentar suas ideias e, porque não, persuadir seus interlocutores.

Com o desenvolvimento das tecnologias, enfrentamos problemas sérios. Se por um lado temos acesso a milhões de informações, isso é bom, por outro temos leitores perdidos no meio desse excesso, que acostumaram-se a ler apenas textos curtos, resumos, tópicos, ou seja, a informação compartimentada e diluída nessa nossa falta de tempo que pede que caminhemos cada vez mais rapidamente. O resultado disso é visível na produção de textos que, com raras exceções aparece sem lógica, com ideias desconectadas e contendo erros de português gravíssimos. Percebem-se falhas na escrita e também na interpretação de textos. A falta de experiência com a leitura faz com que, por exemplo, um aluno erre uma questão não por falta de conhecimento, mas porque simplesmente não compreendeu o que lhe estava sendo solicitado. Eu mesma, como professora universitária de Português, vejo que muitos alunos chegam ao ensino superior sem saber sequer dividir as sílabas corretamente. O que aconteceu para uma pessoa passar tantos anos nos bancos escolares e chegar à universidade com esse tipo de dificuldade?

É por isso que acho que esse problema não é apenas deste ou daquele governo. É um problema de toda a sociedade. Pais, professores, enfim, toda a sociedade é responsável por ajudar nossas crianças a adquirir uma competência leitora que a leve a se tornar um cidadão pleno, capaz de compreender o mundo em que vive e de tomar decisões conscientes que afetarão sua vida e a de outras pessoas. 

Vamos ensinar nossas crianças não apenas a decodificar os textos, mas a se apropriar de sua compreensão para que possam ser cidadãos críticos e que possam reivindicar melhores condições de vida para elas mesmas e para o mundo em que vivem.

Bibliografia:

ROMÃO, L. M. S.(org.) SENTIDOS DA BIBLIOTECA ESCOLAR. São Carlos: Alphabeto, 2008;

PIERUCCINI, I. MUITOS LUGARES PARA LER. In: AIDAR, F. (org.) Abrelê 1. Ed. São Paulo:Ática, 2011, p. 75-100;

SANTAELLA, L. REDAÇÃO E LEITURA: guia para o ensino. São Paulo: Cengage Learning, 2013;

BRASIL. Ministério da Educação. BOLETIM SALTO PARA O FUTURO: a aventura de conhecer. Brasília: Secretaria de Ensino a Distância, v. 18, n. 15, set. 2008.

POR MÔNICA FALCÃO PESSOA












- Professora Universitária de Português e de Literatura Brasileira, formada pelo Mackenzie;
- Mestre e Comunicação e Semiótica pela PUC/SP;
- Tutora em programas de leitura como “Quem Lê Sabe Por Quê”.
mzappalenti@gmail.com

Nota do Editor:
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sexta-feira, 5 de maio de 2017

A Greve Geral: do vandalismo ao fracasso




Na última sexta-feira, 28 de abril, o Brasil enfrentou com decoro aos atos de vandalismo e desrespeito que transcorreram na insignificante "Greve Geral". Aglomerações de sindicalistas da CUT e movimento Sem Terra tentaram promover a desordem em algumas cidades brasileiras. Comércios, bancos e meios de transporte foram os alvos de pequenos grupos de vândalos, além das diversas ruas e avenidas que foram bloqueadas com barricadas de pneus. Ao desfecho das manifestações, não podemos generalizar, pequenos grupos que incentivaram a desordem acabaram diminuindo a seriedade das manifestações, ao fim de tudo, a Greve Geral virou insignificante e motivo de piada.

A Reforma da Providência e a Reforma Trabalhista, ambas propostas pelo Presidente Michel Temer (PMDB), foram as reivindicações dos manifestantes e grevistas, e segundo os organizadores, cerca de 35 milhões de brasileiros participaram do ato, e convenhamos, é um número extremamente alto, no qual, sou incapaz de acreditar, sendo que para mim, nem a metade (17,5 milhões) fez parte das mobilizações. O que podemos ressaltar, são os inúmeros prejuízos que causaram à sociedade brasileira, milhares de cidadãos honestos e trabalhadores não conseguiram chegar ao destino de trabalho e outros que não conseguiram trabalhar devido aos bloqueios em avenidas, entradas e saídas de empresas de meio de transporte. Grande parte da sociedade ficou sem sair de casa, ficou no prejuízo, sem poder trabalhar, igual aos mais de 10 milhões de desempregados.

Hoje nem se fala mais no assunto, e quando lembramos do ocorrido somente nos vem a memória a tamanha baderna e destruição que foram causados. Uma minoria ainda acredita que foi feita uma grande manifestação, a qual não é verdade. Sabemos que as eleições presidenciais de 2018 estão cada vez mais próximas, por este motivo, ainda teremos que presenciar muitas "manifestações" do tipo que aconteceram na sexta-feira passada, ainda mais se for confirmada a presença do ex-presidente Lula na corrida eleitoral, o que seria trágico para toda uma nação. Sabemos que as manifestações em prol do PT, de Lula e Dilma Rousseff, sempre tiveram a presença de badernas e destruições, mas por quê? Para desestabilizar o atual Governo? Ou já é uma mania não pacífica para chamar a atenção? Seja o que for, nada justifica tamanha impiedade. 

Tenho convicção de que nada vai mudar, a manifestação não serviu para nada, não houve nenhum benefício com a mesma, e acredito que nossa situação política não vai mudar tão cedo, tenho esta convicção através da minha opinião que vos escrevo abaixo:

"Nossa população esta dividida em relação aos nossos governantes, não há como um país progredir quando metade da polução é a favor do governo e outra metade está totalmente contra, quando tivermos um Presidente eleito com mais de 80% dos votos, poderemos ter uma nova esperança de um Brasil melhor. Nas últimas eleições, a diferença de um candidato para o outro, no segundo turno, foram de poucos votos." Confira abaixo os seguintes números:

Eleições Presidenciais 1998 (1º turno)

Fernando Henrique Cardoso (PSDB) - 53,06 %
Lula (PT) - 31,71 %
Ciro Gomes (PPS) - 10,97 %

Eleições Presidenciais 2002 (2º turno)

Lula (PT) - 61,27 %
José Serra (PSDB) - 38,73 %

Eleições Presidenciais 2006 (2º turno)

Lula (PT) - 60,83 %
Geraldo Alckmin (PSDB) - 39,17 % 

Eleições Presidenciais 2010 (2º turno)

Dilma Rousseff (PT) - 56,05 %
José Serra (PSDB) - 43,95 %

Eleições Presidenciais 2014 (2º turno) 

Dilma Rousseff (PT) - 41,59 %
Aécio Neves (PSDB) - 33,55 %

Através das últimas cinco eleições presidenciais, a maior vantagem de votos ocorreu em 2002, onde Lula conseguiu 22,54 % a mais que José Serra, número este razoável, sendo que quase 40% da população não votou e não concordou com a vitória de Lula. Na época, com menos tecnologia e menos informações, o povo começava a ser roubado sem saber de nada. Nas eleições de 2006, 2010 e 2014 a vantagem dos petistas só diminuiu, em 2006 a vantagem de Lula foi de 21,66 %, em 2010 a vantagem de Dilma foi de 12,10 % e em 2014 de apenas 8,04 %. Ao ver os números, a população brasileira está dividida há mais de 7 anos, anos de muitas revelações e noticiários de corrupção e lavagem de dinheiro, onde Lula já virou réu e a metade da população aguarda a sua prisão. Recentemente tivemos o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, e hoje estamos sob comando do ex-vice presidente e hoje Presidente, Michel Temer (PMDB). Pouco mais de 1 ano de governo peemedebista, já nota-se uma aprovação baixa da população brasileira, quando grande parte já é a favor de novas eleições presidenciais, o que não seria uma ideia ruim para o atual momento político que estamos vivendo.

A partir destas eleições apertadas, decididas por poucos votos, é que surgem as manifestações pacíficas e não pacíficas. Foram 13 anos do governo petista, e tudo acabou através de um impeachment no ano passado, por isso, é entendível tamanha revolta dos seguidores do lulapetismo. Mais da metade da população brasileira já votou em Lula em 2002 e 2006, e em minha opinião, ele errou muito em indicar Dilma Rousseff para a eleição de 2010 e apoiá-la novamente em 2014. A era PT acabou e espero que nunca volte, o estrago foi grande, 13 anos de retrocesso, 13 anos tentando transformar o nosso Brasil em uma Venezuela, mas graças ao povo brasileiro que tomou às ruas em 2013 e 2014 conseguimos tirar o petismo do nosso governo e espero que em 2018 o povo vote consciente."

POR FERNANDO BERVIAN
















-Gaúcho, 20 anos;
-Ensino Médio Completo; e
-Futuro Jornalista.


Nota do Editor:

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quinta-feira, 4 de maio de 2017

Pluriparentalidade- Entre o vínculo biológico e o afetivo



A sociedade, como célula viva, sempre teve uma evolução muito dinâmica, sobremaneira em função do amplo acesso às informações através da rede mundial de computadores - internet.

Neste sentido, o Direito, que é um reflexo do contexto social de convivência entre as pessoas, acompanha esta evolução através de decisões judiciais, até então impensáveis há anos atrás. Esta afirmação está lastreada nas recentes decisões judiciais que prestigiam o afeto à condição biológica.

Além do afeto ser o fator mais preponderante, há outra proteção jurídica que foge aos parâmetros tradicionais em que há somente parentalidade entre um homem e uma mulher, ou entre dois homens, ou entre duas mulheres.

Pode-se dizer sem medo de errar que, o judiciário entrega o pedido da vida de forma mais rápida que o legislativo, pois este demoraria anos para regulamentar questões de convivência familiar, que na maioria das vezes sequer deveriam passar pelo crivo de uma lei, pois são questões de foro íntimo, não devendo o poder público adentrar em certas questões familiares de convívio. 

A despeito de se pensar que se trata de ativismo judicial, não é, pois, decisões judiciais são tomadas para pacificar um fato da vida. O que não se pode é fingir e “guardar dentro do armário” questões que envolvam vínculos familiares novos, independente de preconceitos e religiões famintas por “apontar o dedo”, ao invés de acolher, entender, respeitar.

Neste sentido, surgem novos arranjos familiares que têm como única e exclusiva vontade e desejo, amar e ser amado.

Neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça já assentou que, em atenção às novas estruturas familiares, baseadas no princípio da afetividade jurídica, a permitir, em última análise, a realização do indivíduo como consectário da dignidade da pessoa humana, a coexistência de relações filiais ou a denominada multiplicidade parental, compreendida como expressão da realidade social, não pode passar despercebida pelo direito.

Por constatar a evolução da concepção de família, a doutrina vem pontuando que os alicerces familiares não mais repousam apenas na dependência econômica, tampouco estritamente na ascendência biológica, mas sim na cumplicidade, na solidariedade mútua e no afeto existentes entre seus membros. 

Neste sentido, segundo o Supremo Tribunal Federal, Corte máxima do Brasil e última instância jurídica das garantias de nossa Constituição Federal, informa que, a dignidade humana compreende o ser humano como um ser intelectual e moral, capaz de determinar-se e desenvolver-se em liberdade, de modo que a eleição individual dos próprios objetivos de vida tem preferência absoluta em relação a eventuais formulações legais definidoras de modelos preconcebidos, destinados a resultados eleitos a priori pelo legislador.

O direito à busca da felicidade, implícito ao art. 1º, III, da Constituição, ao tempo que eleva o indivíduo à centralidade do ordenamento jurídico-político, reconhece as suas capacidades de autodeterminação, autossuficiência e liberdade de escolha dos próprios objetivos, proibindo que o governo se imiscua nos meios eleitos pelos cidadãos para a persecução das vontades particulares.

O indivíduo jamais pode ser reduzido a mero instrumento de consecução das vontades dos governantes, por isso que o direito à busca da felicidade protege o ser humano em face de tentativas do Estado de enquadrar a sua realidade familiar em modelos pré-concebidos pela lei.

A compreensão jurídica cosmopolita das famílias exige a ampliação da tutela normativa a todas as formas pelas quais a parentalidade pode se manifestar, a saber: (I) pela presunção decorrente do casamento ou outras hipóteses legais, (II) pela descendência biológica ou (III) pela afetividade.

Os arranjos familiares alheios à regulação estatal, por omissão, não podem restar ao desabrigo da proteção a situações de pluriparentalidade, por isso que merecem tutela jurídica concomitante, para todos os fins de direito, os vínculos parentais de origem afetiva e biológica, a fim de prover a mais completa e adequada tutela aos sujeitos envolvidos, ante os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III) e da paternidade responsável (art. 226, § 7º).

Cuida-se, assim, da assunção, pelo ordenamento jurídico, de que a eleição das próprias finalidades e objetivos de vida do indivíduo tem preferência absoluta em relação a eventuais formulações legais definidoras de modelos preconcebidos, destinados a resultados eleitos a priori pelo legislador.

No campo da família, tem-se que a dignidade humana exige a superação de óbices impostos por arranjos legais ao pleno desenvolvimento dos formatos de família construídos pelos próprios indivíduos em suas relações afetivas interpessoais.

Transportando-se a racionalidade para o Direito de Família, o direito à busca da felicidade funciona como um escudo do ser humano em face de tentativas do Estado de enquadrar a sua realidade familiar em modelos pré-concebidos pela lei. É o direito que deve se curvar às vontades e necessidades das pessoas, não o contrário, assim como um alfaiate, ao deparar-se com uma vestimenta em tamanho inadequado, faz ajustes na roupa, e não no cliente.

A omissão do legislador brasileiro quanto ao reconhecimento dos mais diversos arranjos familiares não pode servir de escusa para a negativa de proteção a situações de pluriparentalidade. É imperioso o reconhecimento, para todos os fins de direito, dos vínculos parentais de origem afetiva e biológica, a fim de prover a mais completa e adequada tutela aos sujeitos envolvidos. 

Por isso, o reconhecimento da dupla parentalidade, deve ser garantido em todas as esferas judiciais, sem preconceito, com o obrigatório reconhecimento dos efeitos jurídicos dos vínculos genético e socioafetivo relativos ao nome, alimentos e herança.

POR FLÁVIO DE MELO FAHUR











- Advogado Fundador do Escritório de Advocacia Flávio de Melo Fahur;
-  Membro da:
   -Comissão de Direito de Família da OAB/RJ;
         -Comissão de Práticas Colaborativas da OAB/RJ;
          - Comissão de Direito Homoafetivo da OAB/RJ;
- Especialista em Mediação e Artbitragem pela FGV/RJ;
- Mediador do IBECOOP- Instituto Brasileiro em Estudos em Cooperativismo;e
- Professor na ESA - Escola Superior de Advocacia da OAB/RJ.  
Nota do Editor:
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quarta-feira, 3 de maio de 2017

Bom senso e dano moral


Cada vez mais as pessoas usam a gratuidade dos Juizados Especiais Cíveis a fim de exigir seus supostos direitos. Qualquer problema, aborrecimento, transtorno já se torna indenizável, acredita o consumidor. E a culpa é de quem?

Ocorre que advogados ambiciosos atendem uma infinidade de clientes/consumidores e os incentivam a processar as empresas por qualquer motivo independente de fundamento jurídico relevante. Para piorar a situação, ainda orientam que, caso o consumidor não obtenha êxito, não há problema, pois o acesso é gratuito. 

Com isso, o consumidor cria uma expectativa de que poderá receber um valor, geralmente decorrente de dano moral, e obter vantagem com isso. Mesmo que o valor do dano seja ínfimo, usa o processo para tentar receber o famoso dano moral, e crê que a via judicial é a mais fácil e vantajosa.

O dano moral é uma ofensa a honra do indivíduo, onde a pessoa se sente ofendida, ferida em sua integridade moral e psíquica, e não simplesmente estressada ou cansada. A avaliação é totalmente subjetiva, sendo que em muitos casos, é difícil saber onde é ultrapassada a linha do “mero aborrecimento” para o “dano moral”. Cada caso deve ser muito bem ponderado em primeiro lugar, pelo advogado, que poderá dar a orientação jurídica acerca do problema enfrentado pelo consumidor.

Diversos transtornos fazem parte do cotidiano, situações desagradáveis acontecem, e podem ser contornadas por vias não judiciais, mas as pessoas já pensam logo em processar. Inúmeros passos podem ser dados antes de ingressar com uma ação judicial sobrecarregando ainda mais o Poder Judiciário e retardando a análise de questões mais relevantes. 

Há casos que parecem inacreditáveis, por exemplo, o garçom esqueceu de levar um refrigerante pedido 1 hora antes. A pessoa terminou o almoço e não veio sua bebida. Tem gente que já quer processar, não pagar a conta, fala alto, briga, ao invés de simplesmente chamar o gerente, ou aceitar a desculpa do garçom, no caso de um esquecimento. Imagina o “dano moral” que a pessoa sofreu por ter almoçado sem tomar o refrigerante que foi apenas esquecido! Mas, incrivelmente, tem gente que faz situações como esta parecerem tão dramáticas e realmente acreditarem que tem direito ao dano moral. 

Desculpem-me, mas há casos que parecem piada. E o pior é que há advogados que aceitam causas deste nível e dão entrada em ações sem fundamento ou com nítidos exageros. Isto faz com que pensemos em outro assunto, a litigância de má fé. Deveria ser mais usada e cobrada para que a seriedade da profissão seja reconhecida e o respeito volte a existir. A má fama dos advogados está cada vez maior, principalmente em questões relacionadas a direito do consumidor e juizados especiais.

O bom advogado deve orientar seu cliente e tentar resolver seus problemas, inicialmente de forma amigável, e por vias administrativas. Em casos que versam sobre erro na conta de empresas de telefonia por exemplo, que acontece frequentemente, o consumidor quer processar sem ao menos ter se dado ao trabalho de reclamar, contestar a conta, ligar pra ouvidoria ou dirigir-se a uma loja física. As vezes o problema pode ser solucionado por um gerente e o cliente ainda obter algum benefício, mas por preguiça e falta de informação, já querem “ir pro Juizado”, sem ter ao menos um protocolo de reclamação.

O gerente de loja física por exemplo, pode ter autonomia para alterar o valor de uma conta telefônica, retirando a cobrança indevida, e conforme o caso, ainda oferecer um mês gratuito ou algum serviço extra a fim de apaziguar o erro. Mas as pessoas já estão desacreditadas, ainda mais quando se trata de empresas de telefonia.

Não estou aqui defendendo as empresas, mas sim, o bom senso dos consumidores, e principalmente dos advogados, para que atuem de forma ética e moral, pensando no cliente como ser humano e não como uma possível fonte de renda. 

Cada vez mais encontramos escritórios que trabalham com quantidade, e não com qualidade. Aceitam qualquer tipo de ação baseada no CDC, e contratam estagiários para “copiar e colar” de forma até agressiva, com erros grotescos quanto a objeto da ação, gênero dos autores, jurisprudências sobre assuntos diversos do tratado na inicial, dentre outros absurdos. 

O dano moral, por mais mitigado que seja, ainda é uma questão polêmica e subjetiva, que deve ser encarada de forma individualizada, sendo analisado caso a caso. O problema jurídico, a violação, pode ser a mesma, mas as consequências geradas podem ser completamente diferentes de uma pessoa para outra. O que pode ser dano moral para um, não necessariamente será para outro, ainda temos que confiar na justiça e no bom senso também de quem julga.

Prezemos pela ética da profissão e o respeito da sociedade, principalmente em questões relativas a consumo. Também somos consumidores e clientes, muitas vezes insatisfeitos e devemos zelar pela melhor resolução do conflito, sempre com sabedoria.

POR LUCIANA WIEGAND OAB/RJ 130.297











-Advogada graduada em 2003 pela Universidade Estácio de Sá -RJ ;

-Autônoma, com escritório na Barra da Tijuca-RJ atende causas de Direito de Família e Consumidor;
Site de seu escritório:https://wradvocacia.wixsite.com/wradvocacia
 e
Contatos pelo WhatsaApp (21) 9 8118-4673

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terça-feira, 2 de maio de 2017

Aquele ‘eu’ que todas/os amam. Menos eu.


Aquele eu que fala manso, baixinho. Que quase ninguém ouve, mas costumam achar elegante. Elogiam.

Aquele eu que nunca fala nada, não questiona o troco a menos ou a comida errada.

Aquele eu que pensa que não vale a pena “brigar”. Aquele eu que acha que vai desagradar.

Aquele eu que está mal, triste, passando por situações difíceis, mas escuta por horas a/o amiga/o falar sobre si sem ter a oportunidade de falar de si também.
Aquele eu que só se preocupa com o outro, com o que está pensando, como está se sentindo, se está bem ou se está mal.

Aquele eu que quase nunca perde o controle, e que quando perde dá uma resposta “meio torta” e depois se arrepende.

Aquele eu que pede desculpas por tudo, que tem medo de contrariar, de magoar. Que vive sentindo culpa.

Aquele eu que se molda ao desejo da/o outra/o.

Aquele eu que fala manso, mas que por dentro está gritando porque guardar tudo machuca, dói.

Aquele eu que somatiza tudo, e depois sofre com enxaquecas, dores de garganta, gastrite.

Aquele eu que está prestes a explodir. Só que ninguém vê.

Aquele eu que todas/os amam. Menos eu.

(O texto tem por objetivo “ilustrar” a somatização e o mal que ela faz)

Texto originalmente publicado no site www.psicologakarlak.com.br em 09/03/2017.

POR KARLA KRATSCHMER









-Atua na área clínica com uma psicoterapia de base psicanalítica para adultos, adolescentes e casais;
-​O consultório fica localizado no bairro Chácara Santo Antônio, na ZS de São Paulo/SP, na região das ruas Verbo Divino e Alexandre Dumas;
-​Oferece atendimento particular, por plano de saúde via reembolso, ou pelo PROGRAMA DE PSICOLOGIA DIFERENCIADA. 
Contato: 
karlak@karlak.com.br 
(11) 9-9613-5444 (chamadas e WhatsApp) |www.psicologakarlak.com.br 


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domingo, 30 de abril de 2017

Um olhar para além da Baleia Azul



O Baleia Azul (Blue Whale) é algo que tem preocupado as autoridades e as famílias no momento. Isso porque é um suposto “jogo” onde o participante precisa cumprir uma série de tarefas ditadas por um curador, como se auto -mutilar, tirar fotos em locais perigosos, e inclusive tirar a própria vida.

Há um tipo específico de perfil que entra nesse jogo, e não é à toa que o recrutamento é realizado nas redes sociais e em chats online específicos. Adolescentes que sofrem de depressão ou de outros transtornos psiquiátricos são o público alvo. Inclusive, há uma considerável probabilidade de não haver um “curador” humano que dita as tarefas, mas sim um programa (chatbot) que cumpre esse papel.

Diante dessa questão, pode-se refletir sobre a importância das redes sociais e da tecnologia para as gerações mais jovens. É de suma importância problematizar sobre o papel desse tipo de realidade paralela em nossas vidas e sobre o quanto não estamos preparados para nos proteger de crimes cibernéticos e das dificuldades de diferenciar afetivamente o mundo virtual do mundo palpável.

Além disso, é curioso notar a reação de algumas pessoas frente ao Blue Whale, alegando que esses adolescentes que participam não tiveram uma educação “rígida” o bastante (leia-se “rígida” como um eufemismo para castigos corporais).

O Blue Whale, apesar de lamentável, pode servir de alerta para o modo como os relacionamentos têm se desenvolvido. Tirando o fato de as relações humanas estarem em constante evolução e mudança, e da importância das mídias sociais para a facilitação do cotidiano, ficam algumas perguntas: até que ponto a importância dada às relações virtuais tem crescido? Por que, para os adolescentes, a realidade virtual é algo tão crucial? É possível que uma relação virtual possa suprir todas as necessidades que uma relação do plano palpável satisfaz? 

O suicídio é um triste fenômeno que ocorre nas mais diversas faixas etárias (crianças, adolescentes, adultos e idosos), sendo a segunda maior causa de morte entre adolescentes no mundo. Pouco se fala do suicídio infanto-juvenil, talvez por conta de um tabu, talvez por conta de uma visão cultural romantizada da criança e do adolescente.

Não é uma educação rígida e coercitiva que irá impedir que os sentimentos de vazio uma pessoa aflorem, ou ainda que uma pessoa deixe de adoecer. Uma educação que propicie ao adolescente a expressão de seus sentimentos e opiniões, ou seja, diálogo, troca afetiva e que ponha limites, irá auxiliar o adolescente a enfrentar esse momento de sua vida. É na adolescência que o sujeito se desprende de uma visão infantil do mundo e ao mesmo tempo constrói uma visão particular, mais madura. Esse processo é doloroso, pois ele precisa elaborar uma série de perdas da infância e construir uma nova identidade. Por isso, os pais deixam de ser o centro de seu universo e ele passa a buscar outras referências, como os amigos.

Frente ao fato de colocar-se em situações de extremo risco por conta de um imperativo de um suposto chatbot ou de um ameaçador desconhecido, brota o sentimento de impotência. O ser humano necessita de contato, valorização, troca, reconhecimento e pertencimento. 

A reação do público frente à notícia desse fenômeno “Blue Whale” é de incompreensão, chacota, indignação. Há grande desinformação em relação às doenças mentais no Brasil. Infelizmente a população crê que doença mental tem haver com falta de caráter, o que revela que ainda existe uma visão cultural de que o louco é “mau”, “perigoso” ou “fraco”. As doenças mentais são muito comuns, e as suas origens são multideterminadas, não tendo relação nenhuma com o “caráter” da pessoa. Infelizmente, apenas 20% das pessoas que sofrem de transtornos mentais buscam tratamento, muito provavelmente devido a essa visão cultural negativa. Por isso, é importante olharmos para além do fenômeno Baleia Azul e colocarmos em prática atitudes acolhedoras, amáveis e compreensivas diante daquele que sofre de um transtorno mental. Isso é o mais correto a se fazer, tanto em termos terapêuticos como preventivos.

POR DÉBORA GOMES VICTORINO-CRP 06/122832



















-Graduada em Psicologia nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU);

-Pós-graduada em Psicologia Hospitalar pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein; e
-Psicóloga na Casa de Repouso Sabra em Várzea Paulista, onde atende idosos residentes na instituição.
Atua na área clínica utilizando-se da perspectiva psicanalítica. Consultório em Jundiaí/SP – Rua Capitão Ricardo de Toledo 191 / 10 andar – sala 1002 Chácara Urbana - Edifício Golden Office - Telefone: 11 95341-5813.
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