domingo, 1 de maio de 2016

O automatismo do pensamento e suas avaliações enviesadas




Passamos a maioria dos nossos dias, de forma atribulada com preocupações excessivas, medos e expectativas irracionais. O tempo todo estamos julgando situações, interpretando e reagindo a elas. Estamos tão absorvidos, que simplesmente sentimos, sem percebemos que muitas das nossas emoções e atitudes foram mediadas por um pensamento. Fluxos constantes de pensamentos surgem o tempo todo no nosso mental, a maioria sem elaboração, ou seja, não são criações de uma reflexão ou de um planejamento, simplesmente avaliam o significado de acontecimentos, de acordo com as crenças que estão nos bastidores. Para Judith Beck, inspiradora há décadas de terapeutas cognitivos, crenças foram construídas ao longo da nossa vida, na nossa interação com o mundo, na luta da compreensão de si, do outro e do mundo, fazendo com que desenvolvamos conceitos organizados em nossa mente. Se a experiência for negativa, acabamos tendo uma atribuição negativa de si mesmo, o contrário acontecendo com vivências positivas, desta forma, há tanto crenças positivas quanto negativas. 

Pensamentos negativos estão permeados por erros de cognição, que são equívocos característicos na lógica dos pensamentos automáticos, há uma confusão entre o que pensamos e a realidade e sem nos darmos conta, nos definimos pelo que se passa na nossa mente. Por exemplo: Se um colega nos faz uma crítica no trabalho, e temos uma crença disfuncional de incapacidade, o mais provável será que desconsideremos todos os elogios recebidos e passemos a acreditar que somos incapazes de fazer um bom trabalho, não adianta tentarmos, pois, não conseguiremos. Provavelmente passaremos a sentir tristeza e\ou ansiedade sempre que estivermos trabalhando ou simplesmente nos lembrando dele, isso afetará o nosso comportamento e poderemos ter atitudes disfuncionais, que geraria um novo pensamento com atribuição negativa, nos levando de volta ao ciclo negativo que nos enovelamos. Como nos disse Beck, não é uma situação por si só que determina o que as pessoas sentem, mas, antes, o modo como elas interpretam uma situação. 

Portanto, notarmos o que pensamos e questionarmos esses pensamentos são formas eficazes de começarmos a sair do automatismo, nem tudo que pensamos são fatos concretos e reais, muitas vezes são só pensamentos enviesados por uma avaliação errônea da situação. Muitas vezes, quando paramos e questionamos, constatamos que não há nenhuma evidência concreta que embase um pensamento catastrófico, por exemplo. 

Reagimos na maioria das vezes a situações que estavam permeadas por erros de interpretações, quando começamos a observar um pouco mais, aprendemos quais são esses vieses, quais emoções e reações fisiológicas eles nos causam e qual comportamento ele gera. Com a pratica, criamos o hábito de analisarmos de maneira mais realística se nossos pensamentos de fato estão fazendo uma interpretação verdadeira de nós, dos outros e do mundo. Essa analise nos permite ter respostas adaptativas, evitando sofrimentos desnecessários e relações mais saudáveis. 

Finalmente para finalizar não poderia deixar de citar o filósofo grego Epíteto (130-50 a.C.), que sabiamente concluiu “Não são as coisas em si mesmas que perturbam os homens, mas os juízos que eles fazem sobre as coisas”. 

REFERÊNCIAS 

Beck, J. (2013) Terapia cognitiva: teoria e prática. (2ed). (S. M. Rosa, Trad.). Porto Alegre, RS: Artmed. 

Beck, J. (2007) Terapia cognitiva para desafios clínicos: o que fazer quando o básico não funciona. (Reimpressão). (S. M. de Carvalho, Trad.). Porto Alegre, RS: Artmed. 

Por EUNICE ANTUNES SANTOS




-Graduada em Psicologia pela Universidade Cruzeiro do Sul;
-Especialização em Terapia Cognitiva Comportamental pelo Centro de Terapia Cognitiva Veda;e
-Certificação Internacional DGERT em Terapia Cognitiva.
CRP 06/117668

Eunice Antunes Santos 
Psicóloga Clinica – Especialista em Terapia Cognitiva 
Cel: 980475822/986528156 
Alameda Santos, 211. Conj. 207. Paraíso – SP/SP

6 comentários:

  1. Parabéns pelo texto. Muito claro e didático, o que nos leva a questionarmos a maneira como estamos percebendo e reagindo ao mundo. Obrigada por compartilhar esses conhecimentos conosco.

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  2. Amei o texto!Realmente o juízo que fazemos das coisas que transforma nossa realidade. Mt bom, espero ver mais textos dessa autora no blog <3

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  3. Parabéns, Eunice! texto bastante esclarecedor. A psicologia é bem alinhada com esse contexto. Penso que as sessões de análise seguem esse princípio, pois que são importantes as coisas "como as expressamos", muito mais do que elas próprias. Parabéns pelo belo texto.

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