sábado, 30 de abril de 2016

É preciso navegar...





Está comum, mas não é normal. Está comum, trabalhar demais, amar de menos, querer muito dinheiro. Está comum, ter medo de tudo até de ter medo do medo. Está comum, não sedimentar nada, não enraizar, não perdoar, não rever, não recriar, não arrumar, tão pouco tentar consertar. Está comum permitir que as crianças assistam o que quiserem na TV, está comum largar as crianças com os dispositivos móveis na mão, está comum não olhar nos olhos das crianças, está comum abandonar as crianças e os animais de estimação. Está comum usar o boné o dia todo, nem se lembram de tira-lo para entrar em casa, cumprimentar os mais velhos e as mulheres. Esta comum, mas não pode ser normal. 

Aff! Está comum... a roubalheira, a falta de objetividade, usar o nome de Deus em vão, construir para desabar, compreender que o povo é bobo. Sim, está comum, mas não pode ser normal, o descaso com o ser humano, com o espaço que ele habita.

Será que o mundo tornou-se volátil? Aprendi que ele vivia em metamorfose. E deveríamos cuidar e respeita-lo, assim como cuidar respeitar a nós mesmos, afinal éramos somos parte dele. 

De repente os seres humanos perceberam que precisavam ser maleáveis, dar passagem, ser flexíveis. Como resultado desta abertura, sinto que está comum, mas não é normal. Será mesmo que o excesso de informação tem nos deixado assim? Mas, se temos mais informações – a cultura digital tem nos proporcionado acesso a informação no momento em que quisermos - deveríamos, mesmo que de-va-gar, fazer leitura destas informações, refletir para o agir.

Ler não é uma tarefa simples, nunca foi exercício fácil. Falo da leitura das entrelinhas, situação do contexto de quem escreve e por que escreve. Passar os olhos pelo texto é bem mais fácil.

Refletir, então, me parece atualmente uma atividade quase que do tipo, penso enquanto estou no mundo da lua – desligada. Mas, pensar para quê? Se for para dirigir o agir, é preciso rever a si, o outro, nosso espaço e as possíveis consequências do meu agir.

Agir, pois é, nos tornamos um corpo que se move no tempo e espaço mediante as regras ditadas pela moda, pelas diferentes formas de consumo; resumindo pelo ter e quase nada pelo ser.

Está comum, mas não pode ser normal!

Será que o movimento pela subjetividade travou, falo do movimento da subjetividade consciente e inconsciente; ou este exercício, ou a sua falta, nos afastou da nossa essência, essência humana?

É certo que a mudança e a metamorfose fazem parte da vida, mas... Entendo que eterno é algo ligado somente a espiritualidade. As coisas, os seres, toda forma de vida possui tempo de validade, cada qual uma durabilidade de tempo: segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, séculos e por aí vai.

A falta de equilíbrio entre o ser e estar, ler e entender, ver e olhar, ouvir e escutar, falar e dizer está nos tornando flexíveis demais? Quase tudo torna-se permitido, a solidez dos valores éticos e morais tornou-se líquida, parafraseando Bauman, sociólogo polonês. Considerado pensador da modernidade, analista dos fatos cotidianos, o sociólogo tem vasta obra sobre temas contemporâneos

Nem o amor escapou, amores eternos, as juras de amor eternos ficaram fragmentadas, pior então, o amor ao próximo.

Mas, gosto e acredito na teimosia, na esperança, na insistência em pensar que o ser humano é um ser amor e cuidado. Poético, que seja! Prefiro a poesia, a utopia, o movimento do cair e levantar e do não desistir jamais, a certeza de tudo passará, e se transformará ao comodismo, a normose, do é assim mesmo.

Talvez, na busca de compreendermos quem somos, daremos conta de lembrar que somos parte da poeira cósmica. E retomemos o cuidar de nós, educar para a coletividade, não como um ato mecânico, mas devidamente como nossas origens de ser e estar humano que está de passagem no planeta Terra, uma pequena parcela do Cosmo.

Por CRISTINA BENTO



- Graduada em Pedagogia;
- Mestre em Educação pela UMESP-SBC;
- Doutora em Tecnologias da Inteligência e Designer Digital
- Atuou na Educação Básica por 22 anos


Atualmente é:

- Professora titular da FATEA nos cursos de graduação e pós-graduação;
-Professora Coordenadora do Curso de Pedagogia da Fatea; e
- Professora Coordenadora de Área do Subprojeto PIBID - Pedagogia-FATEA-SP (2012/2013 - 2014/2017).

5 comentários:

  1. Todo habito adquirido sofreu uma metamorfose. O mundo é uma metamorfose ambulante como diria Raul Seixas. Nosso problema é que nos despedimos de conceitos de outras épocas onde ser cortes e educado era sinônimo de pessoa EDUCADA.
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    Hoje tudo nos é permitido fazer. Quanto mais errado mais dinâmico se torna sua propagação. Nossos filhos ao nascerem os bendizemos que jamais passarão pelo que passamos.
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    Lhes fomentamos todas as suas necessidades e carências. Lhes protegemos de tudo e de todos. Até dos professores, que um dia não muito longe tinham mais autoridade sobre nossos filhos que os próprios pais.
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    Criamos uma geração perdida. Matamos neles a gana do vencer por si. Assassinamos neles o respeito pelo público privado. Deixamo-los livres para serem livres em suas tresloucadas ações juvenis.
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    O universo conhecido se expande em busca pelo equilíbrio. O seres humanos evoluem em busca de uma vida melhor. tudo tende ao equilíbrio. Exceto quando uma nação se recusa a ter em sua mente a evolução do pensamento.
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    Quando um povo abre mão de pensar deixa que remédios milagrosos propostos por charlatões exímios oradores e prestidigitadores lhes ofereçam uma cura que nunca hei de se consumar.
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    Tudo é normal. Nada é normal. O que é normal quando um réu é indicado a um ministério em um desgoverno?
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    O que é normal quando uma representante de um nação atenta contra a liberdade da mesma?
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    O que é normal quando um órgão máximo da lei se apresenta defeituoso em razão de sentimentalismo de agradecimento?
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    Trilhamos as ruas da amargura porque estamos nos dividindo e se deixando tornar normal todas as sandices que nos assolam neste crucial momento político e financeiro...

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  2. Excelente! Margem a muitas reflexões...navegar é precisi, viver não é preciso, mas é preciso viver navegando!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Bravo!
    "É certo que a mudança e a metamorfose fazem parte da vida, mas..."
    Mas me assusta a forma que a humanidade caminha, erramos a marcha e estamos retrocedendo. É preciso navegar, vamos? não é tarde para levantar as velas.

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  5. Vámos conceituar metamorfose, a seguir referir como estamos é o que pretendemos em nossa vida em metamorfose

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