Autor: Eduardo Costa(*)
Hoje acordei e me deparei com mais uma manchete de ataque ao governo: MPF quer duas ações no TCU contra Bolsonaro.
Não me julgo influenciável e, normalmente, chego a conclusões apoiado em fatos, mas o que escrevo, no momento, tenho que confessar, tem uma parcela oriunda de uma apreensão, ou seja, existe o fato que pode se desdobrar para um lado positivo ou negativo e a escolha do apreensivo, nunca se faz a de Poliana.
O Presidente Jair Bolsonaro é uma figura bastante carismática e dono de uma retórica bem peculiar que, em grande parte, falou com um eleitorado bem mais amplo do que ele tinha quando se elegia deputado.
No entanto, quando foi divulgado o resultado das eleições que nos mostrou uma vitória insofismável sobre o PT e, principalmente, sobre Lula, criou-se um novo cenário que demandava um novo discurso e novas ações.
Na verdade, acabamos de sair da fase mais sombria de nossa história, marcada pelo laissez-faire de uma política que se deixou contaminar pelo canto da sereia corrupta. Onde tudo pode, ninguém de fato manda e nada de bom acontece.
Desta forma, a imposição de ordem não era um mero detalhe no discurso do candidato, mas uma necessidade de trabalho.
No entanto, a ordem tem que ser colocada nos inimigos do progresso como a grande malha de corrupção que se instalou no país e não em todos os cantos apregoada como panaceia de um líder que pode caminhar para falar para poucos.
Vivemos num país onde a insegurança institucional parece mais a regra do que a exceção e neste caso fatos não nos deixam delirar: nos últimos 30 anos tivemos dois presidentes afastados por impedimento, e mais um com pedido de afastamento não encaminhado pela Câmara, e alguns pedidos de impedimento de Ministros do STF.
Se ampliarmos nosso foco, nos últimos 100 anos tivemos Getúlio Vargas da desconfiança ao ódio e depois do amor ao ódio e retorno ao amor, ou seja, de presidente ungido ao poder com apoio militar em 1930 terminou sua saga em 1954 no Palácio do Catete em 1954, após intensa briga com políticos que o desestabilizaram a ponto de optar por sair morto do Catete. Dez anos depois, Jânio Quadros que, após uma gloriosa campanha e vitória, com menos de 1 ano de governo renuncia deixando seus eleitores se sentindo vítimas de um golpe eleitoral. Até hoje, ninguém explica o ato de Jânio.
Além disso, os tribunais superiores e o congresso nacional já tiveram seus funcionamentos interrompidos e sempre nestes casos, independentemente de cor política, com prejuízo ao povo brasileiro.
Dissidências sempre existirão e elas são saudáveis pois expõem o contraditório, afinal o que seria o discurso de direita se não houvesse a esquerda e suas práticas de governo?
No entanto, para além da campanha, atualmente, sinto um presidente falando para uma parcela cada vez menor de expectadores e o que é pior, somente para aqueles que lhe batem palmas independente do que faça.
Vejo que houve rachas entre figuras que caminharam juntas e a separação sempre veio numa névoa de intriga e briga pelo poder. Tudo bem que o presidente tenha o indiscutível direito de escolher e mudar sua escolha por N motivos, mas o que está acontecendo, me parece é que todos os substituídos ou se calaram ante a mídia ou começaram a dar declarações contra o presidente. O que vale para o país, são as propostas do governo ou a acomodação de interesses pessoais de ambas as partes?
O que me causa apreensão é a quantidade de gente torcendo contra. Não bastassem os meios de comunicação e o povo da esquerda, o presidente parece reunir contra si forças oriundas de diversos meios, inclusive os entre si divergentes, coisa que nos dá um desenho de seu possível isolamento com intuito de enfraquece-lo e, então, sufocá-lo.
Vejo na Economia a chance para o presidente superar tudo isto e alavancar uma possível reeleição. As reformas da previdência, a tributária, a trabalhista e o programa de privatização, a meu ver são o carro-chefe do governo Bolsonaro e certamente o colocará na história do país como o responsável pelo renascimento brasileiro.
Contudo, a agenda social do governo necessita de correções que imprimam o pensamento do presidente sem lhe causar o estrago de despertar o ódio em quem não reza por sua cartilha.
Tal ódio, se fosse só sentimento, não me causaria apreensão alguma. No entanto, ele vem servindo de anabolizante para reunir gente que visa destruir o governo e não se vê nas mídias sociais ninguém de alerta para tal grave situação: é uma sucessão de louvores aos atos do presidente que me lembram o pai declamando ao mundo a beleza de seu filho: gente, o presidente e seu governo precisam de interlocutores mais plugados com a difícil realidade que é governar o Brasil.
Desde logo, assim que se concretizou a vitória do presidente, começaram a pipocar na mídia reportagens com indefectível intuito de denegrir o governo, ou vocês acham que se Bolsonaro tivesse sido reeleito deputado federal a reportagem sobre o Flávio teria existido? E o que dizer da reportagem sobre a família da primeira dama? Seria noticiada?
O presidente tem em torno de 8 meses de governo e um grande buraco, cavado no governo Dilma, para cobrir. Ele para isso precisa estar focado em alavancar os projetos econômicos que tirarão o país da bancarrota e, aí sim, poderemos ter saúde e educação públicas que deem educação, cultura e tratamento médico dignos ao povo brasileiro, mas para chegar até lá e a uma possível reeleição o presidente precisará mais do que uma claque anestesiada pelo fascínio do poder.
*EDUARDO PRAXEDES COSTA
-Psiquiatra e neurologista com mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental (UFRJ, 1995) atua em consultório no bairro da Tijuca, RJ;
Nota do Editor:
- Advogado desde 2007;
-Autor do conto policial A Investigação(KDP Amazon) em e-book (agosto,2017) e está finalizando seu primeiro romance.Nota do Editor:
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Concordo, mas nem tanto.
ResponderExcluirAcho que a fala e a postura do presidente são provocativas intencionalmente, para "agitar" a imprensa que vê nele apenas ações negativas e sem interesse maior.
Não nos esqueçamos que ele tem a seu lado, além de uma equipe ministerial qualificada, uma equipe de militares acostumada a levar a culpa (indevida) pela revolução e altamente preparada a aconselhar os melhores caminhos, nas reuniões que habitualmente acontecem.
Já os embates com a imprensa, que às vezes nos incomodam, são destinados a mostrar aos brasileiros a real postura contrária deles, tem mostrado resultado eficiente.
Grande parte da população alinhou-se ao lado do presidente e querem que os maiores representantes da mídia, denominada esquerdista, simplesmente desapareça.
Às vezes até exagerando.
Mas, dou as mãos à palmatória, acho que precisamos melhorar, até para que ele consiga fazer tudo que prometeu na campanha eleitoral.
É isso.
Um abraço, de Ribeirão Preto.