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domingo, 22 de novembro de 2020

Culposo


 Autora: Thelma Domingues(*)

A culpa tornou-se adjetivo para o estupro, uma analogia no mínimo interessante. Trabalhando na pauta para gravar um programa sobre este assunto, comecei a pesquisar a etimologia das principais palavras como estupro e culpa. 

A culpa vem do latim, e pode significar delito, erro e vicio. Retrocedendo chega-se ao verbo grego keleuo, impelir, chamar, por em movimento o erro como resultado de um IMPULSO interior. A culpa carrega o erro, mas precisamente o impulso da falha do instinto poderoso que só satisfaz os prazeres mais primitivos. 

Satisfação egocêntrica sexual de via única e perversa, pois o prazer não é da conquista e do encontro e sim da caça a presa. O estupro é constranger alguém (a presa) e manter relações sexuais por meio de violência (caça). Quando se realiza o estupro, manifesta o estuprador e nasce a vítima. 

Outrora, em nossa sociedade a culpa era da "vítima por causa da roupa inadequada", de estar naquele lugar "improprio", ter dado mole "se oferece", "quem mandou", "bem que você queria". Nenhum ser humano pode virar vítima de um estupro ou um abuso e ser responsável pela violência sofrida. 

Atualmente, a culpa no estuprador, mas usuram um novo termo "estupro culposo", sem dolo, sem a intenção de estupro, quase que sem querer o estuprador sacia o seu prazer através da dominação do outro, aqui o prazer não é só do gozo, mas o poder de pegar a vítima a força e vê-la e sentir o seu desespero e sofrimento; subjugar. 

Os crimes hediondos são dolosos pela sua natureza, é considerado doloso a conduta criminosa na qual o agente quis ou assumiu o resultado. Nesta reflexão o correto não seria absolver o acusado de estupro, pois foi um estupro e de qualquer maneiro houve o ato, então há a culpa, a intenção. E sendo assim, o estupro é sempre doloso. 

Será que um dia chegaremos num consenso, enquanto sociedade, que homens e mulheres não são iguais, mais que possuem os mesmos direitos e deveres. Que menino pode usar rosa, que a menina pode usar a roupa que quiser sem se preocupar em ser abusada, onde o depoimento da vítima tenha credibilidade, que a vítima seja tratada com respeito e acreditar na justiça enquanto manutenção de seus direitos garantidos por lei, entre tantos outros. 

A mudança por começar por mim, por você desconstruindo preconceitos impostos a força em nossa garganta e que repassamos de geração a geração, como: da moça que presta (todas prestam), poupar os meninos dos serviços domésticos (mesmos deveres), que homem não chora, que a mulher deve servir ao homem e por ai vai e vai longe... 

Vamos ensinar nossas filhas a se proteger, mais importante é ensinar nossos filhos como deve se tratar uma mulher, da mesma maneira que ele gosta de ser tratado: com igualdade e respeito. 

MEXEU COM UMA, MEXEU COM TODAS 

MEXEU COM UM, MEXEU COM TODOS

*THELMA DOMINGUES













-Psicóloga e psicopedagoga, proprietária da Clínica da Ponte – Serviços Psicológicos, especializada em Psicopedagoga Clínica e Institucional (AVM), Educação Especial (UVA). 
-Pós-graduanda em Avaliação Neuropsicológica na PUC-Rio. Experiência em Saúde Mental na Rede de Atenção Psicossocial 
Thelma Domingues CRP 05/56218 
contato@clinicadaponte.com.br www.clinicadaponte.com.br

Nota do Editor:

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