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terça-feira, 10 de maio de 2022

Metaverso como ferramenta educacional, estamos preparados?



Autora: Adriana Soeiro (*)

Metaverso é a terminologia utilizada para indicar um mundo virtual que tenta replicar a realidade por meio de dispositivos digitais. Este é um espaço coletivo e virtual compartilhado, que tende a extrapolar os limites de simulação do real e é utilizado para descrever os ambientes imersivos 3D, onde os humanos interagem por intermédio de avatares em diversos contextos de ordem social, educacional e econômico.

Como profissional da educação, estou otimista com essa novas ferramenta, afinal, após o período compulsório de aulas remotas, fica difícil imaginar que tudo votaria a ser como era antes. Ruim? Acho que não, este é um caminho sem volta. Os educadores perceberam que têm a tecnologia como aliada, o que falta, por vezes, é a capacitação adequada que oportunizaria a otimização do uso e o conhecimento das possibilidades de aplicação no contexto educacional.

Segundo Moran (2012), vivemos um momento diferenciado do ponto de vista do ensinar e aprender. Aprendemos de várias formas: em redes, sozinhos, por intercâmbios, em grupos etc. Para ele, essa liberdade de tempo e de espaço em processos de aprendizagem configura um novo cenário educacional onde várias situações de aprendizagem são possíveis com a ajuda das Metodologias Ativas - MAs ou Metodologias Inovadoras – MIs. Behrens e José (2011) complementam: "a observação de condições e circunstâncias não basta, é preciso acrescentar a significação que se atribui" para as atividades realizadas. Por esta razão, a formação continuada docente é extremamente necessária.

A ideia de Metaverso, segundo Schlemmer e Backes (2008), surge em 1984, no Neuromance de William Gibson. Entretanto, o termo metaverso, em si, foi criado pelo escritor Neal Stephenson[1], no romance intitulado Snow Crash, também publicado como "Samurai, nome de código" no Brasil em 1992.

O autor do romance Snow Crash enfatiza que o metaverso tem caráter real, bem como utilidade real pública e privada, pois se trata de uma ampliação do espaço real do mundo físico dentro de um espaço virtual na internet, oportunizando a experienciação numa rede integrante da "inteligência coletiva", os quais acabam por consolidar o processo social de aquisição de conhecimento, integrante das metodologias ativas.

Sobre este assunto, de acordo com Araujo (2015), "entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, que se configurou a metodologia ativa no âmbito do movimento da Escola Nova, a qual provocará uma significativa inflexão entre a teoria e a prática". Estas estão fundadas na experiência sob o signo de Pedagogia Científica inaugurada por Herbart. Tal movimento surgiu na Inglaterra, por intermédio da New School em 1889, de onde se disseminou para o continente europeu, com diferenciadas propostas afeitas a construir uma comunidade escolar livre, ou seja, a educação no campo, "a escola de humanidade", a coeducação; eram também concebidas como inovadoras e experimentais, e tinham como perspectiva finalidades educacionais que viessem a superar as escolas tradicionais.

No Brasil, a metodologia educacional, que propõe ensinar por meio de projetos foi apresentada, inicialmente, por John Dewey e chegou ao Brasil nas traduções de Anísio Teixeira na década de 1930, no início do movimento denominado Escola Nova. Num momento em que se busca direcionar o foco para o aluno, as ideias de Dewey continuam atuais, pois consideram aspectos como necessidades e experiências vivenciadas, num contexto de valorização da motivação para aprender e da efetividade do aprender na prática. Portanto, a utilização da realidade aumentada na educação, ou seja, ambientes imersivos 3D denominado de metaverso, representam a aplicabilidade dos conceitos e a simulação da experiência concreta ofertada por meio digital.

Estamos preparados para utilização desse recurso na sala de aula? Talvez em alguns cursos superiores da área da saúde e engenharias, por exemplo, sim; mas certamente na Educação Básica ainda não. Há evidências de utilização da realidade aumentada sendo aplicada nas sessões de fisioterapia, onde são replicados ambientes diversificados, de acordo com o interesse do paciente. Que tal fazer uma caminhada em Paris? Com relação à alguns cursos superiores de medicina, mecânica e engenharia, também é possível simular experimentos utilizando essa ferramenta. As possibilidades são infinitas. No entanto, é preciso investir na compra de equipamento e no desenvolvimento de softwares para contemplar amplamente as diversas áreas do conhecimento. Estão disponíveis no mercado, alguns livros em realidade virtual (RV) e realidade aumentada (RA), que permitem que o conteúdo das obras sejam expandidas para a terceira dimensão, com efeitos e animações, inclusive de histórias infantis.

Atualmente, existem diversas obras do gênero narrativas digitais, dentre elas "Hamlet no Holodeck: o futuro da narrativa no ciberespaço" de Janet H. Murray. Em seu título, existe a fusão da obra de Shakespeare e o Holodeck, retirado da série Start Trek, na qual os passageiros da nave passam momentos de socialização e recreação em uma sala, que possui projeções computacionais, temporariamente materializados fisicamente, onde é possível simular situações reais. Estamos longe de materializarmos um Holodeck, no entanto este pode ser transposto para o Metaverso e, também, fazer parte das metodologias ativas.

São inúmeras as possibilidades de materialização e interação, que podem progredir para a aprendizagem efetiva. Basta, no entanto, que haja recursos financeiros e formação continuada disponíveis aplicados no lugar certo: Educação Básica.

Bibliografia e Referências:

ARAUJO, José Carlos Souza Araujo. Fundamentos da Metodologia de Ensino Ativa (1890-1931) – UNIUBE/UFU 37ª Reunião Nacional da ANPEd – 04 a 08 de outubro de 2015, UFSC – Florianópolis;

BACKES, L.; SCHLEMMER, E. Metaversos: novos espaços para construção do conhecimento. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 8, n. 24, p. 519-532, maio/ago. 2008. Disponível em: 

BEHRENS, M. A.; JOSÉ E. M. A. Aprendizagem por projetos e os Contratos didáticos. Revista Diálogo Educacional - v. 2 - n.3 - p. 77-96 - jan./jun. 2001;

JENKINS, Henry; FORD, Sam; GREEN, Joshua. Cultura da Conexão: criando valor e significado por meio da mídia propagável. Tradução Patrícia Arnaud. São Paulo: Aleph, 2014; e

MORAN, José. O que é Educação a Distância? 2012. Disponível em: http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2013/12/dist.pdf Acessado em maio 2016.

[1] http://www.nealstephenson.com Acessado em maio de 2019

ADRIANA SOEIRO
















-Graduação em Pedagogia - Faculdades Integradas de Guarulhos (1991);
-Mestrado em Educação pela Universidade Nove de Julho (2012);  e 
-Doutorado em Educação pela Universidade Nove de Julho (2017). 
-Atualmente é professora de ensino superior da Faculdade FATEC- Unidade Tatuapé -SP , Gestora de EaD  e Diretora do Externato José Bonifácio -SP  ;
-Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação a Distância, atuando principalmente nos seguintes temas: Educação a Distância, tecnologias, linguagens, aprendizagem na era digital, educação em rede e inglês . 

Nota do Editor:

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