Autora: Mônica Ventura(*)
Palavras-Chave:
Liberdade; Justiça; Leis; Direitos; Doutrina Cristã; Filosofia.
Há, no equilíbrio que rege todas as coisas, inclusive, no Universo do discurso – concebido filosoficamente
como sendo o conjunto de todos os elementos implicados num julgamento ou raciocínio, ou em algo que esteja
em questão - uma Lei de Justiça que regula todos os processos desde a existência dos seres sencientes, os
que apenas sentem e têm sensações, como dos seres cientes, aqueles que são sábios e doutos, nos
escaninhos da sua evolução até a renovação das sociedades humanas.
No contexto dessa Lei de Justiça está um bem, por vezes considerado maior que a própria vida, e que se torna
ponto essencial para o desenvolvimento das criaturas. Este bem é a faculdade que cada qual tem de discernir,
fazer escolhas e se decidir ou agir conforme a própria determinação. Outrossim, esse bem que se chama
LIBERDADE, faculta à criatura praticar tudo quanto não é proibido por Lei.
Seja em relação à Lei Divina ou Natural, ou em relação às Leis humanas, criadas como regras de direito ditadas
pela autoridade assim constituída e tornada obrigatória para manter, numa comunidade, a ordem e o
desenvolvimento. Seja aquele conjunto de normas elaboradas e votadas pelo poder legislativo, seja ainda, por
Lei moral representativa da obrigação imposta pela consciência e pela sociedade, seja também pela Lei
fundamental qual a Constituição de um Estado, ou seja pela Lei adjetiva, formal, processual; a questão
primacial deveria ser a de perguntarmo-nos se a criatura humana goza de liberdade absoluta.
Como seres gregários, que gostam de viver em sociedade e que necessitam uns dos outros, há que se
conceber que a liberdade é relativa, pois, desde que as criaturas se agrupem, há entre elas direitos recíprocos
que lhes cumpre respeitar. Entretanto, essa obrigação de respeitar limites impostos pelos direitos alheios, não
retira das criaturas o direito de pertencimento, qual o de pertencer-se a si mesmo.
Ínsito nesse equilíbrio regido pela Lei de Justiça está a liberdade de pensar, constituindo-se esta, a única, pela
qual o homem goza de liberdade absoluta, pois, no pensamento não há constrangimentos, a liberdade aí é
ilimitada. Somente perante Deus, autor e mantenedor da Vida, tem a criatura a responsabilidade pelo seu livre pensar.
Desde sempre é absolutamente natural que os cidadãos se empenhem em favor de sua liberdade, pois, esse
é o passo valioso na conquista de si mesmo e de sua libertação total daquelas pressões e opressões
constantes, que são geradoras de medo, ansiedades, solidão, angústias, e que, em geral, levam a criatura à
extrapolação em forma de violência por palavras e atos, mesmo visando, contudo, a proposta da liberdade.
O homem, sofrendo limitações, sentindo a perda do seu bem maior que é a liberdade, reage como aquele
animal prisioneiro, quando se sente coarctado nos seus movimentos e se debate até à exaustão, buscando
libertar-se, aspirando a amplitude de seus horizontes, lutando pela sua independência.
Assim, a criatura ainda pouco esclarecida moral e espiritualmente, sentindo-se vitimada pelas compressões
que a alucinam, utiliza-se da rebeldia, da revolta, da violência, desencadeando lutas atrozes para lograr ao que
aspira como condição fundamental de sua felicidade.
Todavia, violências, revoltas, rebeldias, jamais podem oferecer a liberdade real porque, esses atos
substantivos, podem até arrancar o indivíduo da opressão política, social, cultural, religiosa, psicológica, mas,
retêm-no às injunções caóticas, não doando nada de positivo, pois, sempre haverá de resultar em novos
embates sob a ação de maiores rigores e crueldades.
Tudo isso, porém, não é a Liberdade, no sentido profundo do termo. Trata-se de conquistas de natureza
diferente, no campo das necessidades dos aglomerados e grupamentos humanos, que estão ainda longe de
alcançar a meta da glória e da plenitude.
A criatura humana tem sido objeto de estudo ao longo dos séculos e, desde quando Sócrates e Platão
estabeleceram que "o homem era o resultado do Ser e do não Ser", ou seja, a união do Ser - Espírito imortal
com a matéria - o corpo que habita, possibilitando o processo de evolução da criatura; até os sofistas
contemporâneos de Sócrates, dentre os quais se destacam Protágoras (480-410 a.C.), que afirmava ser o
homem "a medida de todas as coisas", e Górgias (485-380 a.C.) que atribuía grande importância à linguagem,
concluindo que não existia uma verdade absoluta, por conta da ilusão gerada pelos sentidos. Enfim, o
pensamento socrático elucidou que "o homem é o objeto mais direto da preocupação filosófica".
Desde Descartes, o racionalismo tem considerado a criatura como "o ser pensante por excelência, como a
razão que compreende e explica o mundo e a si mesma."
A Filosofia, por meio de suas diversas escolas e a Psicologia, buscando estudar a psique, oferecem a
compreensão do homem, dos seus problemas e desafios múltiplos, procurando encaminhá-lo ao sucesso nas
contínuas tentativas de interpretar a vida e entender a si próprio.
Embora os filósofos atomistas tentem reduzir o homem ao capricho das partículas que se desarticulam e
aniquilam-se através do fenômeno biológico da morte, embora, o materialismo apregoe que o ser não seja
nada além de uma forma de atividade da matéria que, em determinada fase de sua evolução, passa da forma
simples para outras mais complexas, adquirindo consciência, a Doutrina Cristã, apresenta Jesus como Modelo
que superou todos os limites do conhecimento, fez-se o protótipo do Homem – SER INTEGRAL, por haver
desenvolvido todas as aptidões herdadas do Pai Criador, na condição do SER mais perfeito de que se tem
notícia, e que legou às criaturas, o ensino de que o homem transcende o mundo em uma dimensão totalmente
diferente desta que habita temporariamente.
Enquanto as criaturas não acertarem o passo na direção de autodescobrir-se e autoconhecer-se, o instinto de
rebeldia que faz parte da psique humana, e a violência cultivada nas sombras do primitivismo, prevalecerão, e
as guerras apoiadas em tratados de paz malformados porque embasados no egoísmo, no orgulho ferido e na
ganância do ter, suceder-se-ão na historiografia humana, porque a violência sela com sujeição, o destino de
uma Nação e de um Povo submetido.
O meio humano no qual o indivíduo encontra-se integrado, determina que a liberdade é o direito de fazer o que
a cada qual apraz, porém, não se dá conta de que essa liberação da vontade culmina por interditar o direito
dos outros cidadãos, o que fomenta as lutas individuais daqueles que se sentem impedidos, gerando a violência
de grupos e classes, cujos direitos estão arruinados.
Unicamente, mediante a responsabilidade, a criatura humana se liberta, sem tornar-se insensata ou libertina.
Quando o indivíduo age conforme o próprio arbítrio de suas posições e ideologias ególatras, considerando-se
maior, melhor e mais forte que os outros, sua atitude torna-se insana, porque trabalha em favor da anarquia
geradora de desmandos sem limites.
Eis, então, os desafios da liberdade perante a Justiça, pois, em nome dessa enganosa libertinagem, com
desregramentos, devassidão e licenciosidades, atuam com desonestidade os vendedores de paixões
desprezíveis, que derramam todo o bafio criminoso da mercancia da politicagem, do prazer e da loucura.
Na razão direta em que a criatura se autodescobre e se conscientiza, a liberdade torna-se um direito que se
consolida, pois, consegue identificar os próprios valores e a forma de aplicá-los com edificação, respeitando o
próximo, o direito alheio, a natureza e tudo quanto nela existe.
São muitas as liberdades defendidas nos dias da atualidade, dentre as quais, a liberdade de expressão, a
liberdade de imprensa, a liberdade de informação, cuja inviolabilidade está prevista no Artigo 5º - inciso X da
Constituição de 1988, que traça os limites tanto para a liberdade de expressão do pensamento como para o
direito à informação, vedando-se o atingimento à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas
quando o Constituinte anota:
- São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
Importante considerar que a liberdade de expressão aos emocionalmente desajustados, deseducados, permite que o caráter mórbido e o embate, o choque, se revelem com maior naturalidade do que a própria cultura e a educação, porque abrem espaço aos "aventureiros" em detrimento de indivíduos conscientes e responsáveis.
Quanto à liberação sexual, à liberalização das drogas, do aborto, quando a criatura não tem a correspondente maturidade emocional e dignidade espiritual, toda a liberalização pela qual as expressões aberrantes assumem status de cidadania, inspiram comportamentos alienados, favorecem a contaminação das enfermidades degenerativas, ao mesmo tempo que promove a promiscuidade moral e faculta o aborto delituoso, quanto faculta também, a violência cruel contra as forças mantenedoras da vida e, demonstra que a criatura, em nome da liberdade que não entende e pela qual não se responsabiliza, é capaz de destruir, de mutilar, de matar e matar a si próprio porque não sabe usar da liberdade como seria de desejar-se.
Como, quando, onde enfim, começa a liberdade? – No pensamento, quando a criatura almeja o bom, o belo, quando a descobre nos ideais sublimes que são tudo quanto promovem o desenvolvimento, o progresso, fomenta a vida e a sustenta, dá vida e a mantém. Afinal, todo comportamento que coage, que reprime, que viola, que desrespeita, é adversário profundo da liberdade. Onde não há justiça, a virtude de dar a cada um aquilo que é seu, a capacidade de julgar segundo o direito e melhor consciência, jamais haverá liberdade.
Não pode haver liberdade quando se utiliza da mentira, da enganação, quando se impõe e atraiçoa.
Examinando os desafios da liberdade perante a justiça, concluímos que JESUS - o Ser Integral por excelência, não somente nos exemplificou a disciplina da Sua vivência, como também nos ensinou os meios de alcançar a sonhada liberdade, na busca incessante da Verdade, única opção para tornar o homem realmente livre.
Obviamente, a Verdade, não é aquela que se faz conveniente a cada um de per si, isto é uma forma doentia de projetar a própria sombra, impondo a sua imagem para submeter a vontade alheia à sua própria vontade. A Verdade, em síntese, é Deus. E, isso constitui a meta prioritária, o sentido existencial.
Livre só o é, aquele que se conquista e domina a si mesmo, movimentando-se com sabedoria, fazendo escolhas ajustadas e tomando decisões acertadas, superando as próprias e as alheias injunções que amesquinham e pressionam em todo tempo e lugar.
Antes do Cristo, Sócrates permaneceu em liberdade, embora na prisão, e quando perguntaram-lhe onde gostaria de ser inumado após a morte fatal, redarguiu que "o corpo, poderia ser enterrado em qualquer lugar, pois, ele, Sócrates viveria" - demonstrando ser a consciência que jamais perece.
A Liberdade é uma atitude perante a Vida e, assim sendo, nenhuma pressão de fora pode impedir a liberdade
quando o homem for lúcido e interiormente responsável.
Quem tem medo da liberdade? – Quando as situações políticas, econômicas e sociais, estabelecem o medo
como forma espúria de fazer que sobrevivam as instituições e, para tanto, subjugam os vencidos, mais cedo
ou mais tarde, a criatura dá-se conta de que também não é livre quando domina povos, classes, grupos ou
pessoas, sendo ele próprio, escravo daqueles que submete aos seus caprichos.
A exemplo do Cristo de Deus, portanto, os desafios da Liberdade perante a Justiça, somente serão superados
quando a criatura aprender a amar a si mesmo, respeitando-se e, a amar o próximo, respeitando os outros.
Bibliografia:
Livro: O Salão dos Passos Perdidos Depoimento ao CPDOC – Cap. Raízes Nordestinas; e os capítulos
subsequentes: A Escola da Vida; A Audácia da Juventude; A Página Negra do TSN; O Defensor da Liberdade;
Paixões e Desatinos; Anos Polêmicos; Homem de Governo; O Ministro do Supremo; Volta à Tribuna; O
Judiciário e a Justiça, hoje. Três restaurações republicanas e duas ditaduras, estão em permeio ao processo
de formação e de enfibratura na política, na magistratura e na advocacia, abrindo e fechando esses ciclos. Em
nenhum momento no morno, no rodapé da História. Autor: Evandro Lins e Silva – Ed. Nova Fronteira/1997;
Livro: Memórias de Adriano – Do francês: Mémoires d'Hadrien – Autora: Marguerite Yourcenar, (1903-1987) -
Tradutora: Martha Calderaro – 1ª Ed. 1951;
Livro: Le Livre Des Esprits (Paris, 18/04/1857) - O Livro dos Espíritos – Filosofia Espiritualista – Allan Kardec
– Tradução: Guillon Ribeiro – 75ª Edição Copyright 1944 By FEB;
Livros: Da Série Psicológica – Autora: Joanna de Ângelis por Divaldo Franco. Ed. LEAL;
Livro: O Problema do Ser do Destino e da Dor. Autor: Léon Denis– Copyright 1919 - 15ª Ed. FEB – 1989;
Livro: O Porquê da Vida. Do francês: Le Pourquoi de la Vie - Autor: Léon Denis– Ed. CELD – 2018;
Livro: O Mundo Invisível e a Guerra. Do francês: Le Monde Invisible et la Guerre - Autor: Léon Denis– Ed.
CELD – 2012.
MÔNICA MARIA VENTURA SANTIAGO
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- Advogada graduada pela FADIVALE/GV (1996);
- Latu Sensu em Linguística e Letras Neolatinas pela UFRJ (1992);
-Degree in English by Edwards Language School – London - Accredited by the British Council, a member of English UK and a Centre for Cambridge Examinations (2000);.
-Especialidades: Direito de Família e Sucessões, Direito Internacional Público e Direito Administrativo; e
-Escreve artigos sobre Direito; Política; Sociologia e Cidadania.
Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores;
Excelente texto!! Parabéns!
ResponderExcluirObrigada, Mirian pela gentileza de ler e comentar! Paz!
ExcluirParabéns Mônica! Muito esclarecedor o texto!
ResponderExcluirGratidão! Paz!
ExcluirPerfeito! "As idéias deveriam sempre obedecer a um raciocínio lógico " Aristóteles. Liberdade no nosso atual momento se tornou estratégia de desinformação e confusão deliberada! Liberdade não é libertinagem! O conceito tácito de liberdade seria uma caixa onde do indivíduo não transpasse cheiro, barulho, imagens e afins. Minha bisa diz, "sua liberdade termina onde começa a do outro"! Sabia!
ExcluirGratidão, Alvaro, por seu comentário! Luz e paz!!
ExcluirParabéns Mônica , sempre coerente, no agir e no falar, belas e profundas reflexões .....
ResponderExcluirObrigada por sua gentileza! Pena que não consigo saber quem és, pois, me apareces aqui como anônimo. De qualquer forma, uma vez mais, obrigada! Paz!!
ExcluirParabéns pelo texto, como se diz, lei e Liberdade andam juntos.
ResponderExcluirOlá, Neide! Obrigada por sua leitura e gentileza de comentar! Paz e bençãos!!
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