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sexta-feira, 19 de maio de 2023

Quem ocupa os (homens) vazios?


Autor: Luigi Morais (*)


Percebo, com certa facilidade, aqui no sertão, que, onde falta a lei, os mais fortes acabam dominando o espaço. Mas não basta ser o mais forte. É força bruta acompanhada de vigarice. Pequeno, na escola já constatava o fato, vez ou outra: quando a autoridade do professor ou da diretoria era duvidosa ou desinteressante, havia sempre um aluno mais violento que dominava a sala de aula. E, com medo, deixávamos roubarem parte de nossa liberdade.

É uma questão de teoria versus prática. Na teoria o Brasil tem tudo, e gritarão políticos, juristas, ministros, estudiosos e cidadãos apaixonados que por aqui há leis. Ora, estão ali, anotadas nos livros. Já na prática… não é difícil enxergar este mundo real.

Assim, simples assim, em todos os tempos na História e hoje, em vários lugares do mundo, aqui no nordeste do Brasil não seria diferente, onde falta a instituição Justiça, a verdadeira, por ausência ou por falsidade (imparcial ou politizada), há grande chance de o criminoso dominar o local.

Nestes meus trinta e poucos anos de lida na terra e de venda na feira, desconheço outro momento em que eu tenha tido tanta esperança no nosso Brasil, no futuro de nossas famílias, do que na época da Força-Tarefa da Lava Jato. Era bom demais! 😁 Foram várias manhãs de alegrias e até de comemorações emocionadas quando ouvia na rádio que havia acontecido mais uma operação. Até assistia à televisão pra ver as conduções de poderosos enquadrados na Lei, que, por curto tempo, era para todos... Meu Deus, havia uma chance de desenvolvimento para nosso lugar.

Naquele tempo, daqui do Nordeste, eu desejava, até rezava, que, um dia, chegasse Ministério Público para investigar possíveis crimes por estes lados também e, de uma vez por todas, transformasse nosso suor diário de trabalho em um País decente, justo e livre. De próprio punho cheguei até a escrever uma carta pedindo tal realização. Torcia para que chegassem juízes federais da décima terceira vara de Curitiba, com coragem parecida, e mostrassem que ninguém estava acima da lei por estes lados também.

E como cheguei à conclusão de que a impunidade gera pobreza e miséria? Ora, se as pessoas que desviam recursos públicos para fins pessoais, se os criminosos que aterrorizam comércios e lares, se políticos que usam de seus postos para beneficiarem amigos e parceiros, se profissionais cometem seus desvios em detrimento do sofrimento dos seus colegas, e, por fim, se qualquer trapaceiro que prejudica e atrasa seu ambiente de mercado permanecer livre e impune, como o local crescerá e se desenvolverá?

Somos a décima segunda economia do mundo. Não somos um País desenvolvido. Nem perto dos melhores do planeta. O que garante este atraso? Quem são os responsáveis por manter esta Nação no submundo da dignidade? Que fracas instituições nos fazem o que somos?

Passou-se o tempo e acabei descobrindo que aqui já havia procuradores e juízes. No início fiquei triste, mas logo descobri, sozinho, a justificativa de todo o contexto, matemática pura: se havia ministério público e juízes federais aqui no Ceará também e nunca havia acontecido tamanha operação por estes lados, a única explicação é que por aqui não aconteciam crimes para serem investigados e punidos.

Hoje sigo esperançoso, mas saudoso daqueles dias singulares de força e inteligência institucionais. Trabalho tanto para dar o mínimo de dignidade aos meus filhos, que muitas noites não tenho tempo nem de me revoltar. 🙂 Não está morto quem peleia.

E vivo tranquilo, pois, se hoje não vejo grandes operações contra o crime organizado, muito menos reportagens que investiguem e revelem suspeitos de sangrar nosso querido Brasil, é porque, muito provavelmente, não existe mais crime por aqui. Somos um País forte e desenvolvido, que respeita a vida, protege a liberdade e garante a propriedade.


*JACINTO LUIGI DE MORAIS NOGUEIRA

















-Médico formado em 2003 pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará; 
 Anestesiologista especializado no SANE-RS / Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul / IC-FUC.; e
- Profissional liberal.

Nota do Editor:

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