Autor: André Luís Zorzi(*)
A economia brasileira experimentou um notável desenvolvimento econômico entre os anos 1930 e 1980, com elevadas taxas de crescimento do PIB, impulsionadas em grande parte pela indústria. Esse período também foi caracterizado pela implementação da política de substituição de importações, a qual promoveu o desenvolvimento do setor industrial, desde a indústria base até a de transformação. Esse processo foi incentivado pelo Estado por meio de uma política industrial ativa, que se consolidou especialmente através do Plano de Metas e dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND I e II). De fato, a indústria desempenhou um papel crucial na expansão econômica do país, impulsionando a produção, o emprego e a renda.
A partir da década de 1980, o Brasil iniciou um processo de ajuste fiscal para lidar com a crise da dívida pública. Como parte das políticas de austeridade implementadas, houve uma redução significativa dos gastos em investimentos, o que provocou um impacto negativo sobre a política industrial brasileira. Além disso, a abertura comercial da década de 90, os programas de privatização e a valorização do câmbio a partir do Plano Real também trouxeram consequências para o setor industrial. Como resultado dessas mudanças, houve uma perda significativa da participação do setor industrial na economia brasileira. A partir de então, o desenvolvimento industrial brasileiro passou a ser um dos principais gargalos para o processo de crescimento e geração de renda do país.
Nos últimos 15 anos, a introdução das tecnologias de informação nos processos de produção tem provocado mudanças significativas na indústria, elevando-a para um novo patamar de desenvolvimento organizacional. No contexto brasileiro, a busca por competitividade no mercado global tem levado as discussões sobre inúmeras novas tecnologias e aplicações promissoras para o mercado. A Indústria 4.0, também conhecida como a quarta Revolução Industrial, descreve a implementação de dispositivos inteligentes que se comunicam de forma autônoma ao longo da cadeia produtiva. Essa discussão não é restrita ao Brasil, mas está ocorrendo em todo o mundo, pois a adoção de tecnologias avançadas pode ser uma importante estratégia para aumentar a competitividade das empresas.
Nesse sentido, com o objetivo de fornecer recursos para a discussão acerca do papel do desenvolvimento tecnológico na nova geração da indústria, a revista Information Systems Frontiers, reconhecida como um dos principais periódicos na área de sistemas de informação, divulgou, no ano passado, um artigo de autoria de Sigov et al. (2022) intitulado “Emerging Enabling Technologies for Industry 4.0 and Beyond”. O artigo apresenta uma análise abrangente e bem fundamentada das tecnologias emergentes que estão transformando a indústria atualmente, incluindo inteligência artificial, robótica, realidade virtual aumentada, impressão 3D, entre outras.
Uma das contribuições significativas do artigo é a demonstração de como as tecnologias emergentes permitem a criação de novos modelos de negócios e a transformação de processos produtivos. Os autores destacam a revolução digital no mundo físico e enfatizam a necessidade urgente de estudar o impacto da evolução da Inteligência Artificial na Indústria 4.0. O artigo também ressalta os desafios e oportunidades envolvidos na adoção dessas tecnologias em diferentes setores da indústria. Entre os principais desafios apontados, destaca-se a necessidade de o setor estar atento às tecnologias emergentes para oferecer soluções cada vez mais atualizadas e eficazes.
A pesquisa prevê que a Indústria 4.0 continuará a evoluir, o que exigirá do setor a enfrentar desafios complexos como a introdução de novas tecnologias e a adaptação da qualidade da mão de obra. Desta forma, investimentos em treinamentos e cursos de capacitação para os trabalhadores, bem como em projetos de pesquisa e inovação para o desenvolvimento de novas tecnologias e processos produtivos, são fundamentais para que a indústria brasileira se mantenha competitiva e atualizada em relação às tendências globais da Indústria 4.0. Também é necessária uma cooperação efetiva entre instituições de ensino, empresas e órgãos governamentais, para garantir que as novas tecnologias sejam incorporadas de forma eficiente e que a mão de obra esteja preparada para utilizá-la.
Diante desses avanços tecnológicos, é necessário que o Brasil acompanhe as tendências mundiais de desenvolvimento e invista na adesão à quarta Revolução Industrial. Para isso, é preciso impulsionar um núcleo de modernização da indústria nacional, com políticas industriais que se baseiem em mecanismos de prospecção tecnológica efetivos. Além disso, é fundamental contar com a capacidade de avaliação de resultados do gasto público por parte do Estado brasileiro. Ao investir em tecnologias emergentes e fomentar a modernização da indústria nacional, o Brasil poderá impulsionar seu desenvolvimento econômico e social e se manter competitivo no mercado global.
Em suma, a reindustrialização do Brasil é um desafio que envolve a necessidade de investimentos em tecnologias emergentes que possam aumentar a competitividade da indústria brasileira no mercado global. A implementação da Indústria 4.0 pode ser uma importante estratégia para a criação de novos modelos de negócios e transformação de processos produtivos, mas requer a capacidade do setor industrial em acompanhar e absorver essas novas tecnologias. O artigo de Sigov et. al (2022) destaca os desafios e oportunidades envolvidos na adoção dessas tecnologias e enfatiza a necessidade de estudar o impacto da evolução da inteligência artificial na Indústria 4.0.
Portanto, a Indústria 4.0 apresenta-se como uma oportunidade para o desenvolvimento do processo de industrialização brasileiro, que busca se adaptar às transformações tecnológicas e aprimorar a sua competitividade. O uso de tecnologias avançadas, como a Inteligência Artificial e a Robótica, trazem possibilidades de melhorias significativas nos processos produtivos, aumento da eficiência e redução de custos. Contudo, para que o país possa tirar proveito dessas inovações, é fundamental que haja investimentos em treinamentos e capacitação dos trabalhadores, além de incentivos públicos e privados para a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias. A cooperação entre instituições de ensino, empresas e governo é essencial para a incorporação efetiva dessas tecnologias na indústria brasileira.
Referência
SIGOV, Alexander et al. Emerging enabling technologies for industry 4.0 and beyond. Information Systems Frontiers, p. 1-11, 2
* ANDRÉ LUÍS ZORZI
-Graduado com Mérito Acadêmico em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande - FURG (2021);
- Mestrando em Economia Aplicada na USP com ênfase em produtividade, gestão de riscos e seguro;
-Possui experiência em métodos quantitativos, com ênfase na modelagem de riscos e previsões de séries temporais.
Nota do Editor:
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