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domingo, 17 de setembro de 2023

Tecelã


 Autora: Ana Flávia Santos  (*)

"Só se pode viver perto de outro, e conhecer a outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura." (Rosa).



Tão verdadeiro quanto assustador. Pois que também assim não seria na maternidade? Um estar perto, desejar ir para longe e, muitas vezes, do lugar, nem poder arredar.

Pois que o perigo maior não é ódio sentir. Mas nem ele mesmo poder aflorar. Posto que demasiado humano. Não sendo amor e ódio excludentes. Antes, prevalentes. Presentes. Já que nessa relação existe outro. Mesmo quando insuspeitado, posto que imiscuídos mãe e filho.

Em algum momento, quem sabe, há de ressoar que verdadeiramente há outro ali a habitar. Já fora. Lá fora. Pois que, uma vez o corte, não torna a adentrar. Ainda que sob forte dependência. De quem um deles se pode avizinhar. E este junto ao primeiro se pode aninhar. Só se podendo re-conhecer a uma distância ótima. Daquela que não adere, nem o contato se perde. Que, ao mesmo tempo que une, também separa, tornando-se ligação. Sobre a qual não se tem domínio ou posse.

E que cresce tanto que agora reconhecidamente outro junto a esse outro se pode amorosamente se colocar. Nem se impondo, intrusivamente. Nem desaparecendo, desvanecendo-se… Entranhando-se. Estranhando-se também. Dentro do corpo. Fora do corpo. E também no corpo a corpo que, uma relação mãe-filho, nunca exatamente deixa de ser.

Afinal, "O que seria mais inadiável do que um outro ser dentro de mim?" (Magda Medeiros). Pois que impossível ir embora do que está dentro. Mesmo quando já parido. E nascido. Tantos os corpos que meu próprio corpo tem sido. Ou tecido.

*ANA FLÁVIA DE OLIVEIRA SANTOS

















-Graduada em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP);
-Mestre em Psicologia pela  Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP);
-Especialista em Psicologia Clínica pelo Conselho Federal de Psicologia;
-Membro Titular do Instituto de Estudos Psicanalíticos de Ribeirão Preto - IEPRP, onde também integra a Diretoria de Ensino e o quadro de psicólogos clínicos e supervisores;
-Possui experiência nas áreas clínica, da saúde, escolar/educacional, social e judiciária, além de ensino e pesquisa;
Atualmente, atende criança, adolescente e adulto na abordagem psicanalítica nas cidades de Batatais-SP e Ribeirão Preto-SP e
-Ainda, atua como professora em curso de Especialização em Psicologia, Orientadora de Monografia e como funcionária pública do Tribunal de Justiça de São Paulo.

Nota do Editor:

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