Sempre achei estranha a expressão "empresário artístico" pra designar o profissional que cuida da carreira do artista.
Para que este se dedique à sua arte, o papel do empresário é essencial para o lançamento de um novo projeto e na gestão da carreira, aspectos que envolvem produção musical, negociação de contratos com selos, gravadoras, agendamento de eventos e bom relacionamento com o mercado e parceiros.
O papel deste
profissional vai além de dirigir, motivar e filtrar ítens na trajetória do
contratado.
É uma conexão muito pessoal, difícil de ser exercida por pessoa jurídica e quando há um escritório de representação, ali estará a figura ao qual o artista se reporta porque o segredo do sucesso está na firmeza da parceria, na clareza dos objetivos, nos interesses comuns.
Embora cada agente tenha suas características, a sintonia com o artista e seus sonhos define a longevidade do acordo.
Nesta profissão, viramos conselheiros e até nos envolvemos em assuntos particulares.
O curso de Direito me deu respaldo na confecção dos contratos e análise dos direitos artísticos e autorais.
O INÍCIO DA ATIVIDADE
Entrei neste ramo por acaso.
Via de regra o
empresário ou é amigo do artista ou vem da própria família.
Não existe curso
para esta atividade que ganhou destaque com a expansão da indústria do
entretenimento no século XX.
Eu era vizinho do
Antônio Marcos em S.Miguel Paulista e acabei me tornando seu empresário no
final dos anos 60.
Minha experiência
anterior foi acompanhar seus irmãos mais novos, liderados pelo Mario Marcos nos
programas "l Festival da Música Infantil" e " Mini Guarda"
nos primórdios da TV Bandeirantes.
Depois me tornei parceiro de um importante profissional da época, Genival Mello, que trabalhava com Ângela Maria, Agnaldo Timóteo, Nelson Ned e Cláudio Fontana.
Na sequência abri minha primeira empresa de shows: "907 Promoções Artísticas" que além do artista principal, lançava novos talentos como Milton Carlos, Tettê da Bahia, Brasil Samba Show, entre outros.
Em 74, veio a " Amar Empreendimentos" que também representava Taiguara, Vanusa e Hermeto Pascoal.
Nesta época as Gravadoras eram muito fortes e ditavam as regras, estabeleciam os critérios de lançamento, o repertório, as bases do contrato, indicavam o arranjador, os músicos, o estúdio, faziam o marketing e a distribuição do disco que podia ser um LP, um compacto simples ou duplo, ficando com a receita dos produtos fonográficos e pagando os royaties ao artista.
O empresário recebia a comissão pela venda dos shows e alguns programas de TV que deixaram de pagar cachês depois.
Muitas vezes pra divulgar a música, o agente fazia permuta com os disc jóqueis da época: em troca da execução da música em determinado programa, o artista fazia shows em casas programadas por aqueles radialistas.
Os grandes empresários da época eram Waldomiro Saad que programava as bandas de baile, Marcos Lázaro, Manoel Poladian, Guilherme Araújo e o José Carlos Mendonça, o Pinga que fazia grandes turnês no Nordeste.
AS MUDANÇAS
Acompanhei as mudanças nestes últimos 50 anos de trabalho mas às vezes me sinto desconfortável por não conhecer tanta gente nova no cenário musical e tantas ferramentas que surgem a cada dia.
Com o advento da Internet, as Gravadoras passaram a incorporar o contrato de 360 graus recebendo parte da receita dos shows.
Houve redução das suas atividades tradicionais, eliminação de estoques e de distribuição.
Em 1992 me tornei parceiro do então amigo Fred Rossi que tinha uma rica experiência no show business com Vinicius de Moraes, Paulinho Nogueira, MPB4 e Toquinho, com o qual eu passei a trabalhar 5 anos depois, abrindo a Circuito Musical que cuidava até recentemente de todos os aspectos de sua carreira.
Na fase atual, principalmente após a pandemia que afetou gravemente nossa atividade, houve redução de equipe, introdução do homeoffice e o uso da tecnologia para executar as tarefas com mais rapidez e segurança.
Mudou a forma de
comunicação e consumo.
Houve o período das lives e agora estamos focados na parte comercial, na venda de espetáculos tanto para os artistas já contratados anteriormente: Toquinho e Kabelo; para os novos exclusivos Rafael Beck e Felipe Montanaro e parceiros como João Bosco, Ivan Lins, MPB4, Demônios da Garoa, Danilo Caymmi, Mariana de Moraes, Joyce Cândido, Dedé Paraizo, João Ventura, Derico, Diego Figueiredo, Roberto Seresteiro, Marcel Powell, New Bossa Jazz Quarteto do Rio, entre outros.
Nossa experiência não ficou restrita ao atendimento dos artistas exclusivos.
Tivemos ao longo deste tempo, a oportunidade de programar shows com praticamente todos os artistas de várias tendências em feiras agropecuárias, aniversários de cidades, festas privadas, casas de shows e teatros.
Hoje o artista ou um preposto cuida das redes sociais que é primordial para o sucesso, contato com os fãs, confirmação de shows e programas de TV.
Há neste universo a indispensável contribuição do produtor musical responsável pela criação, seleção das músicas, criação dos arranjos, mixagem e masterização.
Entre os inúmeros produtores, podemos citar Rick Bonadio, Evandro Mesquita e André Abumjara.
Há que se
considerar ainda o papel do investidor que pode receber até 70% dos resultados
do sucesso.
Na área de grandes espetáculos, Roberto Medina e no mundo digital, o portfólio de sucesso de João Mendes.
Em pesquisa recente, verificou- se que 12% dos artistas se autoempresariam, 23% trabalham com empresas independentes e 58% em escritórios de agenciamento.
A crise econômica trouxe também critérios mais rígidos para contratação com Órgãos Públicos.
Neste momento de transição, podemos afirmar que dispomos de credibilidade e feeling para descobrir novos talentos e criar uma gestão estratégica bem sucedida nesta economia criativa.
*GENILDO GONSECA
-Advogado graduado pela Faculdade de Direito da USP(1972) e produtor musical;
- Diretor da Circuito Musical
-Empresário artístico de Toquinho
Demônios da garoa? Faz tempo hein? 😃 Alguns destes renomados artistas tinham meu pai como fã.
ResponderExcluirO mundo do entretenimento acompanha o ritmo da evolução tecnológica e de relacionamento humano.
Parabéns por está jornada rica de talentos
Caro Álvaro: boa tarde
ResponderExcluirMantenho uma longa parceria com a Thais Cardoso, que substituiu o pai, o velho amigo Odilon que cuidou dos Demônios desde o início da carreira
Sou parceiro do Dedé Paraizo no projeto " Calendário Musical "