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sábado, 24 de fevereiro de 2024

Uma Utopia ou uma Necessidade para a Educação do Futuro


 



Quando alguém pretende falar sobre educação, logo vem a seguinte questão: mas de que "modelo" de educação que se quer falar? Então, meu fundamento para esse modesto artigo é tentar fazer entender que a educação é uma só, não existem "modelos" ou "tipos" de Educação. A sensibilidade e a percepção de quem a distribui e de quem recebe a educação é que mudam e podem ser entendidas de maneira distintas por ambos os atores, mas a educação é a mesma. Outra coisa que precisa ser esclarecida, desde já, é que, a forma segmentada como a educação tem sido apresentada, muitas vezes serve para educar uns, contudo, muitas vezes, também pode servir, de fato, como uma maneira efetiva de deseducar outros.

Primeiramente, temos que ter em mente que, quando falamos sobre educação estamos tratando de um conceito muito abrangente, que está bastante ligado à história e à ética, ao comportamento humano, as diferentes atividades cognitivas, à conformidade social, à vontade, à sensibilidade humanas e sobretudo, à liberdade de ideias, ou seja, ao livre arbítrio do ser humano. A educação tem que ser libertadora de qualquer amarra pré-existente e nunca pode ser condicionada por qualquer condição previamente imposta. Não existe educação presa a modelos. Isso é uma falácia limitadora da verdadeira educação ou, pelo menos da educação de seres pensantes, como são os seres humanos.

Além disso, é preciso entender que a própria evolução das sociedades humanas e quiçá do homem como espécie viva, num conceito mais puramente Darwinista, também são peculiaridades produzidas e, em muitos casos, até mesmo, condicionados pela própria educação, porque acabam sendo consequências dos aprendizados adquiridos. Quer dizer, o único condicionamento possível na educação é a própria educação que pode ser claramente demonstrada pelo indivíduo, quando passa a desenvolver um mecanismo peculiar de resposta às diferentes situações vividas. Mas, esta é uma característica do indivíduo que já foi educado, porém não é uma característica da educação em si. Então, o resultado da educação não pode, a priori, ser esperado, porque o indivíduo educado pode superar as expectativas de seu educador e da própria educação.

Obviamente, não pode haver educação fora de um contexto histórico e ético, porque tempos diferentes propõem e exigem educações distintas, haja vista que quando os tempos mudam a história se faz diferenciada e a ética envolvida clara e consequentemente acaba por se adequar aos tempos e aos termos produzidos pela mudança. Também não é possível pensar em educação fora do contexto etológico humano, porque a educação é uma característica intrínseca e quase exclusiva da espécie humana. Por outro lado, o comportamento do ser humano também se modifica por conta do aprendizado, que é adquirido em consequência da própria educação. Desta maneira, fica evidente que a educação do ser humano deve refletir as expectativas, os anseios, os temores, os sentimentos e os comportamentos compartilhados pela humanidade ao longo da história, visando melhorar (promover) a condição humana no planeta.

O conhecimento e as atividades cognitivas humanas oriundas desse conhecimento são as bases das ações educativas e da necessidade de manter as próprias atividades educacionais, no intuito de fazer com que os indivíduos possam crescer intelectualmente livres, acumulando e desenvolvendo novas possibilidades e consequentemente, buscando melhorar suas vidas a partir do trabalho desenvolvido no processo educativo. Por óbvio, as diferentes atividades antrópicas, suas percepções, seus anseios e suas consequências evolutivas naturais, sociais ou culturais, também são vitais para a justificativa e para o desenvolvimento das ações educacionais.

Assim, me parece lógico entender que a educação é certamente a mais importante de todas as atividades humanas. E por isso mesmo, eu entendo que ela não possa ser propositalmente fragmentada em modelos do tipo educação disso ou educação daquilo, como querem alguns. A educação é uma só, a situação momentânea é que pode mudar e assim, o ser educado tem que se adequar. Muitas vezes os processos se confundem e o que se esperava que pudesse educar para determinada ação, acaba por deseducar no que se refere a outra ação. O ser humano tem que ter noção desta unicidade da educação para não se perder como pessoa e passar a ser um mero número na sociedade.

E aí surge o contraste e o pior, o embate, no processo educacional. Pois, é aí, que alguém acaba perguntando: o que está certo na educação? É nesse momento que surge a ética de pensar e agir como pessoa humana, atuando no interesse maior da humanidade. Entretanto, também é exatamente aí, que a grande maioria das pessoas se perde, porque elas não estão educadamente preparadas para viver as situações diferenciadas do cotidiano. A educação segmentada e dirigida promove o padrão comum das respostas, mas não resolve as situações novas do dia a dia. As novidades e as surpresas que acontecem no contexto real, muitas vezes não estão previstas no texto programado e tudo acaba degringolando. É exatamente aí, que fica claro que não é possível isolar a educação em parcelas ou em pedaços. Vou dar dois exemplos, para tentar ser mais claro no que estou tentando dizer.

É comum alguém falar em Educação Ambiental e obviamente todo mundo entende que esse tipo de "conceito" tem a ver com a maneira que se ensina o homem a ser ambientalmente mais responsável e respeitar o espaço físico em que está inserido, ou seja, o planeta Terra. Então, o "Educador Ambiental" apresenta sua condição adequada para aquela situação, que obviamente será questionada e contrariada pelo "Educador Financeiro", pelo "Educador Político", e por muitos outros "Educadores Sociais" e vai por aí afora, porque a condição proposta contraria outros interesses. Além disso, sempre existem as surpresas e as situações inesperadas e não pensadas pragmaticamente.

Mas, por que isso acontece? Essa é uma resposta simples, porque o comportamento humano é assim e apesar da informação histórica e da situação ética envolvidas na questão, ninguém quer perder a oportunidade de "se dar bem". Ou seja, acaba não havendo educação nenhuma nesse processo, porque outros interesses "maiores" interferem na educação. Assim, simplesmente, se deseduca e não se faz o que tem que ser feito. Acredito eu, que esse não seja um problema apenas brasileiro, mas quiçá, uma questão mundial, particularmente no momento que estamos vivendo. O direcionamento da educação leva necessariamente a não educação ou, quando muito, uma educação parcial, onde a ética fica de fora. Ora, se não há ética, não há educação verdadeira.

Outro exemplo, esse muito mais comum. Alguém está esclarecendo sobre "Educação Financeira", onde o fundamento é basicamente gastar menos e ganhar mais dinheiro. Alguém pensa em fazer uma determinada obra num local e surge então um projeto “sensacional” para aquele "negócio", entretanto a área em questão proíbe que se faça tal obra no lugar pensado. Por exemplo, quer se fazer um mega hotel dentro de uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, o que é obviamente proibido por legislação específica. Então, o que se faz?

Rapidamente, alguém sugere uma mudança na Legislação para permitir a construção do hotel, sem avaliar nenhuma das consequências desse fato. O "projeto é tão bom" e todos vão ganhar tanto que ele não pode ser modificado e nem pode ser pensado, por vários aspectos, em outro lugar ou em outra condição. Ou será ali e daquele jeito, ou "todos" perderão! Mais, uma vez, o comportamento humano e a falta de ética acabaram com a "Educação Ambiental", no interesse "maior da Educação Financeira", que aliás, infelizmente, sempre é o mais bem sucedido dos diferentes tipos de "educações" que foram inventados.

Meus amigos, se realmente houvesse educação e se definitivamente fosse respeitada a ética, simplesmente ninguém pensaria em fazer nada que fosse contrário ao que está legalmente estabelecido, desde o início do projeto e assim, não haveria qualquer discussão ou qualquer tentativa de ajustamento posterior da situação. O problema não está na obra em questão, mas sim no comportamento humano e no egoísmo, que não se adaptam às realidades estabelecidas e querem dar "jeitinhos" (ainda que totalmente errados) em tudo que puderem, porque essa, ao que parece, é a "Lei da Vida Humana" (a famosa "Lei de Gérson") no planeta ou, pelo menos, aqui no Brasil.

Triste do homem, que pensou e segue pensando assim, porque essa não é uma atitude que demonstre humanidade e muito menos sabedoria, embora possa gerar muita riqueza para alguns. Deste modo, tenho que admitir, que, pelo menos, aqui no Brasil, infelizmente a maioria desses homens, certamente está economicamente melhor do que os outros que pensam dentro dos padrões educacionais e éticos óbvios. Alguém já disse, que aqui no Brasil, o crime compensa e talvez, isso seja mesmo uma verdade que acaba sendo explorada inclusive e tristemente por alguns "educadores".

Para muitos, parece que a humanidade e os seus interesses favorecem a falta de educação e a falta de ética. Ora, então como tratar efetivamente da educação? Só existe uma resposta correta para essa pergunta. Devemos tratar a educação, como educação pura e simplesmente, sem nenhum "sobrenome" específico. Qualquer ação, tem que ser pensada como um todo e considerada dentro de todos os interesses educacionais, éticos e principalmente humanitários.

Tenho certeza de que, se agirmos assim a maioria da população, por óbvio, será muito mais feliz e teremos mais gente dormindo em paz. Além disso, ainda há o fato de que não teremos que ficar gastando mais dinheiro ou perdendo tempo com custas processuais legais ou discutindo absurdos e não teremos que ficar correndo atrás de políticos para que sejam conseguidas as mudanças ou as "adaptações legais" ou ainda os ajustamentos de condutas aqui e ali.

Entretanto, tragicamente, o que se tem visto por aí é que tem havido mais investimento no objeto (o "sobrenome") do que no sujeito (a educação), no procedimento de educar as pessoas. Ou seja, existe maior preocupação com a obtenção do resultado que se deseja do que com o entendimento da educação que se precisa. Desta maneira, como eu já afirmei, não há educação efetiva. Quando muito há um simulacro de alguma coisa no interesse de alguém, mas não da humanidade e assim a ética foi deixada de lado.

A educação tem relação com capacidade de fazer o bem e de ser cada vez melhor, dentro do interesse maior das diferentes sociedades humanas. Se pensarmos e trabalharmos, em todas as áreas do conhecimento humano, de maneira genérica, nunca presos a uma contingência educacional estrita, certamente poderemos fazer tudo, sem termos que nos preocupar com questões menores, perigosas e comprometedoras. As ações com caráter educativos genéricos prioritários, por si sós, já demonstraram e continuam se manifestando efetivamente corretas, ao longo dos tempos. A história comprova que os interesses coletivos, sempre são mais significativos do que os interesses individuais para humanidade.

Entretanto, como eu disse antes: o problema não está apenas na educação, mas está também na ética e no comportamento humano. Temos que agir seriamente e criar mecanismos que viabilizem a ética e que inviabilizem as falcatruas e os “jeitinhos”. Isso só será possível, quando realmente quisermos assumir e contextuar a educação no sentido amplo da palavra. Não é admissível continuar fazendo a educação disso, que contraria a educação daquilo. Temos que pensar na educação que seja abrangente e que possa se enquadrar generalizadamente em todos os conceitos, porque interessa e agrada a todos os envolvidos. Isto é, a educação que interessa a humanidade, antes do indivíduo.

Eu não tenho dúvida que, a priori, que essa minha propositura seja uma utopia, mas é preciso se trabalhar para isso, ao menos conceitualmente, porque assim acabamos com muitas das controvérsias desnecessárias que acontecem por aí. Assim, economizamos, trabalho, tempo, dinheiro e sobretudo, seremos mais eficazes e menos transgressores da ordem, da lei e da ética. Assim, manifestaremos melhor nossa capacidade de aprender e de fazer sem comprometer os interesses de outros seres humanos e principalmente, os interesses planetários e vitais para os seres humanos e as demais espécies vivas que habitam à Terra.

A Educação não é, em si mesma, uma coisa difícil, mas vencer o comportamento humano e manter a ética, resguardando as prioridades maiores da sociedade, é que ainda são coisas muito complicadas na mente da maioria das pessoas e por isso mesmo, são duras e difíceis de serem superadas. A educação do futuro tem que pensar num mecanismo que possa viabilizar novos horizontes educacionais, ainda que paulatinamente, para que o ser humano possa pensar e agir dentro da efetivação dos interesses previamente estabelecidos como mais abrangentes e necessários à sociedade do que a si próprio.

A humanidade tem que ser o foco prioritário da educação. O ser humano do futuro, no Brasil e no mundo, terá que entender que se é bom para a humanidade, certamente também é bom para ele, independentemente do que possa transparecer e do que ele possa deixar de ganhar pessoalmente com a questão. O pensamento coletivo e as ações genéricas (sem qualquer direcionamento específico) têm que ser prioritárias e devem sempre imperar no estabelecimento dos procedimentos e atividades educacionais. Exemplos são situações sabidas, mas a vida sempre produz surpresas e se os seres humanos não forem educados para resolver problemas, não terão como viver futuramente, haja vista que as diversidades funcionais, em todas as áres, são cada vez maiores.

Além disso, a educação tem que ser integral, isto é, a pessoa educada tem que ser capaz de se adaptar e produzir respostas as diferentes situações, condições e momentos. A educação genérica deve permitir que a pessoa educada, possa promover ações que permitam solucionar problemas, independentemente de quais sejam esses problemas. A visão da pessoa educada deve ser suficientemente abrangente para, ao menos, tentar conseguir superar as dificuldades que a vida lhe estabelece em qualquer área ou atividade humana. É preciso ficar claro que, qualquer pessoa que tenha recebido uma educação segmentada, ela não foi verdadeiramente educada, quando muito, ela foi treinada para produzir determinados tipos de respostas em situações específicas, mas continuará sendo sempre incapaz e, muitas vezes, totalmente dependente em outras situações.

A educação do futuro tem que se preocupar com essa questão profundamente e eu acredito que o primeiro passo a ser dado é parar, de uma vez por todas, com essa segmentação da educação e com esses conceitos confusos e furados de educação disso ou educação daquilo. Tratemos tudo dentro de um contexto educacional amplo, que vise unicamente o interesse maior da humanidade e do planeta. Modelos podem ser bons como exemplos, mas continuam sendo apenas modelos aplicáveis a casos definidos e não trazem todas as soluções, nem resolvem todas as possíveis pendências.

A educação tem que permitir a criação de novas e diferentes respostas, principalmente naquelas situações que não foram, sequer, imaginadas por aqueles que pensam que educam, quando estão treinando ou adestrando alguém numa determinada questão. Tenho certeza de que educação precisa ser muito mais que apenas isto.

*LUIZ  EDUARDO CORRÊA LIMA

















-Biólogo (Zoólogo);
-Professor;
-Pesquisador;
 -Escritor;
-Revisor; e 
 -Ambientalista

Nota do Editor:

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