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segunda-feira, 1 de julho de 2024

A medição da inflação pelo IPCA e seus efeitos na economia brasileira


 Autora: Gerusa Coutinho Ramos (*)

A inflação faz parte da economia brasileira desde tempos remotos, historicamente, a partir da década de 50. Torna-se um problema grave na década de 80, chegando ao patamar de hiperinflação, caracterizada por uma variação positiva de preços a partir de 1.000% ao ano, chegando a 1.782% em 1989, levando a uma redução do poder de compra dos consumidores, devido aos aumentos consecutivos de preços de bens e serviços na economia, além do aumento do desemprego e da redução da renda.

O Plano Real executado em 01 de julho de 1994 tinha como principal objetivo controlar a inflação na tentativa de estimular o crescimento econômico. Nos anos posteriores houve a diminuição da inflação e a retomada do aumento do Produto Interno Bruto (PIB), a produção de bens e serviços da economia brasileira no território nacional em determinado período. Porém, não aconteceu a estabilidade econômica, porque o capitalismo é um modo de produção cíclico e a conjuntura econômica muda diariamente, semanalmente, mensalmente e anualmente. Em média, na década de 90, a inflação brasileira diminuiu de 1.782% (1989) para 22,41% (IPCA -1995), e 4,62% (IPCA - 2023).

A inflação é medida pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) calculado pelo Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor (SNIPC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde 1995. A finalidade do IPCA é mensurar a inflação de bens e serviços do varejo (comércio), consumidos pelas famílias, com 90% de famílias residentes em áreas urbanas das seguintes regiões metropolitanas do país: Belém; Fortaleza; Recife; Salvador; Belo Horizonte; Vitória; Rio de Janeiro; São Paulo; Curitiba; Porto Alegre, Distrito Federal e nas cidades de Goiânia - GO, Campo Grande – MS; Rio Branco – AC; São Luís - MA e Aracaju - SE (IBGE, 2024).

Os dados do IPCA são coletados de 01 a 30 de cada mês nos comércios varejistas das respectivas localidades citadas acima, em produtos (bens e serviços), comprados por famílias que recebem de 01 a 40 salários-mínimos. A pesquisa é realizada pelo IBGE por amostragem não probabilística, composta pelos cadastros de bens e serviços, a coleta de dados dos preços e a metodologia de cálculo do índice. O IPCA é composto pelos seguintes bens e serviços: alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência, vestuário, transportes, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, educação e comunicação.

Em 1999, o Brasil implantou um sistema de metas de inflação, no qual o IPCA, deveria ter como meta o patamar de 4,5% ao ano, mais dois pontos para cima ou para baixo, seja poderia variar de 2,5% até 6,5% ao ano. A finalidade era controlar a inflação e oferecer credibilidade da política monetária ao processo de crescimento econômico.

Em 2024, o governo Lula aprovou um decreto para alteração do regime de meta de inflação para um sistema contínuo de 12 meses, em vez do índice calculado no ano, com o objetivo de manter a inflação no nível de 3,0% ao ano, com implementação a partir do ano de 2025.

Apresenta-se a variação percentual do IPCA de 2019 a 2024, o acumulado no ano, de janeiro a dezembro na tabela 1 abaixo, com o objetivo de demonstrar quais os maiores impactos da inflação no consumo das famílias e na economia brasileira.

Tabela 1 - Variação do Índice de Inflação pelo IPCA (2019 a 2024) - acumulado no ano (%)

                Ano                        2019     2020    2021     2022    2023    2024 (Até Mai)

           Índice Geral                 2,27      4,52     10,06     5,79    4,62      2,27

                IPCA

 1- Alimentação e Bebidas        4,23    14,09     7,94    11,64    1,03      4,23

 2- Habitação                             1,37      5,25    13,05     0,07    5,06      1,37

 3- Artigos de Residência         -0,68      6,00    12,07     7,89    0,27    - 0,68

 4- Vestuário                              0,78    -1,13    10,31    18,02    2,92      0,78

 5- Transportes                          0,32      1,03    21,03    -1,29    7,14       0,32

 6- Saúde e cuidados pessoais   3,81      1,50      3,70    11,43    6,58      3,81

 7- Despesas Pessoais               1,54       1,03      4,73     7,77    5,42       1,54

 8- Educação                             5,62       1,13      2,81     7,48    8,24       5,62

 9- Comunicação                      1,98       3,42       1,38   -1,02    2,89       1,98

Fonte: IPCA (2019 a 2024), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Segundo IBGE, em 2019, o IPCA apresentou um índice de 2,27%, uma inflação considerada baixa. Os itens, com maiores impactos no IPCA foram educação 5,62%, alimentos e bebidas 4,23%, seguidos de saúde e cuidados pessoais 3,81%, três componentes essenciais para o consumo, portanto impactam a renda das famílias mais pobres. Os itens com menor efeito na inflação foram artigos de residência, uma queda de 0,68%, transportes, um crescimento de 0,32% e vestuário, uma alta de 0,78%.

Em 2020, o IPCA foi de 4,52%, representada por alimentos e bebidas, com a elevação de 14,09%. Os artigos de residência aumentaram 6,0% e habitação 5,25%, num cenário permeado pela pandemia da Covid-19, além de instabilidade política e econômica no governo Bolsonaro, foram itens que influenciaram na alta do IPCA. Enquanto vestuário contribuiu para queda do IPCA, com resultado de -1,13%, transportes e despesas pessoais, cada um, teve um crescimento de 1,03%, e educação de 1,13%.

De 2020 para 2021, o IPCA subiu de 4,52% (2020) para 10,06% (2021), uma elevação significativa para um ano. Os fatores de instabilidade política, impactos da pandemia da Covid-19, aumento nos gastos públicos, falta de direcionamento da política econômica, além de questões de oferta e alta do dólar, de 4,013 (2019) para 5,136 (2020), influenciaram no resultado do IPCA que trouxe efeitos negativos para as famílias de menor renda, pois corrói o poder de compra da moeda e desvaloriza o real.

Os itens que mais pesaram na alta do IPCA foram o transporte com alta expressiva de 21,03%, seguidos de habitação 13,05% e artigos de residência 12,07%. Os elementos com menor impacto no IPCA em 2021 foram: comunicação, com alta de 1,38%; educação, de 2,81%; saúde e cuidados pessoais, de 3,70%. Mesmo assim, apresentaram resultados elevados, se comparados com anos anteriores, fato que indicava uma tendência ao aumento da inflação no Brasil e inibição do consumo das famílias.

Em 2022, o IPCA caiu para 5,79%, devido a alta da taxa de juros Selic de 9,25% ao ano (2021) para 13,75% (2022), sendo que havia subido anteriormente de 2,00% (2020) para 9,25% (2021), com um diagnóstico equivocado de combate à inflação de demanda. A economia brasileira apresentava uma oferta superior a demanda, a inflação era de custo e não de demanda. A alta da taxa de juros Selic reduziu o nível de investimento na economia, a produção caiu, o desemprego aumentou e provocou queda na renda das famílias, como também no consumo. A economia brasileira caminhava para a desaceleração econômica, com tendência para a recessão.

Em 2023, o IPCA foi de 4,62%, a educação apresentou a maior alta, de 8,24%, transportes subiram 7,14%, além de saúde e cuidados pessoais 6,58%, enquanto alimentos e bebidas tiveram uma queda de 11,64% (2022) para 1,03% (2023), na mudança dos governos, com a saída do Bolsonaro e o resultado da política econômica do primeiro ano do governo Lula. Os itens com menores impactos no IPCA foram artigos de residência, com apenas 0,27% de alta e comunicação com elevação de 2,89%.

Em 2024, o IPCA acumulado até maio é de 2,27%, com destaques para a alta de educação 5,62%, alimentos e bebidas de 4,23%, além de saúde e cuidados pessoais de 3,81%. No entanto, artigos de residência tiveram queda de 0,68%, transporte, com alta de 0,32% e vestuário de 0,78%. A alta nos preços de alimentos e bebidas estão relacionados a uma menor safra no ano de 2024, problemas climáticos de secas e de enchentes que afetam a produção agrícola, a elevação de custo total na indústria e taxa de juros ainda alta para aumentar a oferta de crédito na economia e impulsionar o nível de investimento.

Verifica-se uma melhora no quadro da economia brasileira de 2023 para 2024, o PIB cresceu 2,9% em 2023, com 10,9 trilhões de reais no ano. Em 2024, o resultado foi de 2,5% (1º trimestre 2024/1º trimestre 2023) no acumulado do ano, com relação ao mesmo período do ano anterior. A taxa de juros Selic caiu de 11,75% (2023) para 10,50% (junho de 2024) ao ano, embora na última reunião do Conselho de Política Monetária do Banco Central do Brasil, a opção foi por manter a Selic e interromper uma tendência de queda.

A queda da taxa de juros Selic é relevante na recuperação do nível de investimento, na Formação Bruta de Capital Fixo (indústria de capitais, de máquinas e equipamentos, petróleo, aço, dentre outras), na recuperação da base da produção industrial, aumento do nível de emprego e da renda, para o crescimento do consumo e da poupança.

Dessa forma, para a economia brasileira retomar o círculo virtuoso, tendo em vista que a taxa de desemprego caiu e houve uma melhoria nos rendimentos dos trabalhadores, é essencial a continuação da queda da taxa de juros Selic. Se não houver a recuperação no nível de investimento e do crescimento da indústria no PIB, o crescimento econômico não se sustentará no longo prazo. A inflação medida pelo IPCA no patamar atual, não é uma ameaça para a redução da taxa de juros Selic. A queda da taxa de juros Selic reduz a especulação financeira, ao mesmo tempo, contribui para um crescimento mais elevado e sustentável do Produto Interno Bruto (PIB).

REFERÊNCIAS

BACEN. Taxa de Juros SELIC - 2019, 2020, 2021, 2022, 2023 e 2024. Séries Temporais. Disponível em <www.bcb.gov.br/Sériestemporais>. Acesso em: 11 de junho de 2024;

IBGE. Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) - 2019, 2020, 2021, 2022, 2023 e 2024 (até maio). Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/IPCA/Sériehistórica.>. Acesso em: 10 de junho de 2024;

REGO, José Márcio; MARQUES, Rosa Maria (Orgs). Economia Brasileira. São Paulo: Saraiva, 2018; e

VASCONCELLOS, Marco Antônio S.; GARCIA, Manuel Enriquez. Fundamentos de Economia. São Paulo: Saraiva, 2002.


*GERUSA COUTINHO RAMOS













Mestre e  Bacharelado em Ciências Econômicas, nas áreas de economia, terceiro setor, políticas públicas e meio ambiente pela Universidade Federal da Paraíba ;

-Pós  graduação latu sensu ;
-Consultora  em gestão de negócios, estudo de viabilidade econômica e projetos.e 
-Professora em universidades públicas e privadas e pesquisadora do GerarConhecimento & Ação e do NEPECCAS.

Nota do Editor:

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