Com a evolução (ou in..) das comunicações individuais
vejo que não mais conhecemos ou mesmo sabemos quem são nossos vizinhos,
acredito ainda que nem sabemos se temos ou não vizinhos.
Morando em casas, chamadas casas de rua, casas em
condomínio, em condomínio predial ou em condomínio com mais de um prédio,
sabemos que há pessoas morando ao redor sem saber quem são ou o que fazem.
Em cada conjunto de moradia haverá um comportamento
próprio. O que mais chama atenção diz respeito aos moradores em condomínio seja
ele qual for.
Para sairmos do apartamento primeiro verificamos se há
alguém no hall de elevadores, aguardamos para não encontrar seja lá quem for.
Na espera do elevador torcemos para as luzes se apagarem para verificar se há
alguém no elevador. No escuro ninguém nos vê. Queremos entrar sozinhos no
elevador.
Para quem vai trabalhar de carro está protegido pelo
insulfilm dos vidros. Para os que vão de condução o anonimato das feições é a
grande proteção.
Cumprimentamos porteiro e faxineiro, mas nada de
vizinhos. Se eventualmente e coloca eventual nisto encontramos alguém,
cumprimentamos e não sabemos quem são, para onde vão, se são moradores ou não.
Mas .... há reunião de condomínio. Caso seja sorteio
de vaga de garagem vai lotar e esvaziar na mesma velocidade do sorteio. Eleição
de síndico? Melhor não ir. Votar em quem? Você conhece?
Nossos vizinhos passam a ser as janelas pequenas ou
grandes, algumas varandas. Sempre vazias. Em cada janela há uma estória, uma
vida, mas não vemos, não sabemos e pior não compartilhamos. E aqui não se trata
de compartilhar algo das redes sociais, mas vida.
Nas janelas pequenas uma vida uma estória, na janela
grande a estória de todos. A varanda com mesa e cadeira, com vasos, com roupa a
secar, vazia de vida.
Como as senhoras que conversavam na rua com as
vizinhas e cuidando da vida dos outros, estou hoje a especular sobre janelas e
varandas. Movimento somente à noite, luzes se acendem e se apagam como por
encanto. De onde vêm? Falam sobre o que?
É possível distinguir uma televisão ligada sem
distinguir a programação. O que assistem? Não há ninguém assistindo? As janelas
pequenas sem luz. A varanda vazia. Movimento durante a semana somente de prestadores
de serviço e pessoal da faxina. É quando se vê alguém nas varandas. Nas
janelas.
Câmeras de segurança em todos os lugares. Entrada de
pedestre, áreas comuns, garagem, elevadores, salão de festas, sala das
crianças, área externa e sabe-se lá onde mais. Nessa nova ordem de comunicação
temo em imaginar como bem escreveu Aldous Huxley, se poderia ser ¨O grande
Irmão¨ nos vigiando.
Vou sugerir aos desenvolvedores de tecnologia a
criação de um avatar holográfico que ficaria andando pela casa com as janelas
abertas cumprimentando os demais vizinhos. Na varanda se sentaria, tomaria um
suco ou uma outra bebida demonstrando a alegria de ver os vizinhos.
Quando lhe perguntarem sobre a solidão dos tempos
atuais inclua a absurda indisponibilidade de vontade de se interessar por
pessoas. Em princípio negamos a todos a possibilidade de cumprimentar com
disposição de conversar.
As conversas limitam-se ao local de trabalho e as
refeições com os colegas. O assunto? Trabalho. Conversar, como se dizia, jogar
conversa fora, talvez eventualmente com um desconhecido enquanto espera o carro
no estacionamento, no ônibus, no metrô, no supermercado ou seja lá onde mais,
desde que não seja com o vizinho.
A impressão que fica é que o vizinho vai se intrometer
na vida, fazer comparação com o carro, a casa e seus bens, além da fofoca. A isto se dá o nome do grande mal que nos
assola, insegurança. Não se sabe mais conviver com pessoas. Somos maravilhosos
nas redes sociais.
Em pouco tempo depois do avatar holográfico teremos o
Face Screem, que junto com a inteligência artificial, irá permitir a todos
voltar a interagir com todas as pessoas falando diversos assuntos e utilizando
as mais variadas feições, sem gerar insegurança.
Quem viver verá.
Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.
Concordo com muita tristeza essa realidade. Embora eu o conheça apenas no blog. tenho a esperança de um dia fazê4-lo pessoalmente.
ResponderExcluirObrigado pela leitura e comentário. Um dia quem sabe poderemos nos encontrar. Abs.
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