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segunda-feira, 7 de outubro de 2024

O Custo Brasil e o Fardo dos Juros Altos


 

Autor: Haroldo da Silva (*)

Trabalho desenvolvido pelo Boston Consulting Group, atualizado pela Fundação Getúlio Vargas, revela que produzir no Brasil é R$ 1,7 trilhão mais caro do que na média de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No estudo são apontados 12 vetores, responsáveis por essa desvantagem que atinge as empresas brasileiras. Um desses itens é o custo de financiar os negócios. Dito de outra forma: o custo de capital, no Brasil, está entre R$ 220 bi e R$ 260 bi, a mais do que na OCDE. O Movimento Brasil Competitivo (MBC) se ocupa da missão de articular instituições para diminuir essa anomalia, que é denominada de Custo Brasil[1].

A má notícia é que este problema só tem aumentado, especialmente em relação ao custo de financiamento. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), 18 de setembro de 2024, a taxa básica de juros brasileira foi aumentada de 10,5% para 10,75% ao ano. Os juros reais brasileiros (que é a diferença entre o juro nominal descontada a taxa de inflação projetada) estão ao redor de 7% ao ano. Isto dá ao Brasil a segunda posição global em termos de juros reais, perdendo apenas para a Rússia que, como se sabe, está em guerra. Aliás, também estamos, só que numa "guerra de narrativas".

Entre os economistas, as visões sobre o atual patamar de juros aplicados à economia brasileira estão divididas. Para aqueles que se autointitulam "de mercado", os mesmos que, geralmente são ouvidos pelos grandes meios de comunicação: os problemas fiscais perfazem a mola propulsora da política monetária restritiva. Assim, justificam os juros exorbitantes. Na outra vertente, os economistas ligados ao "setor real da economia", dentre os quais me incluo, não há elementos técnicos substantivos, nos fundamentos macroeconômicos, que amparem tamanho disparate.

Cabe um alerta: no Brasil, temos a maior política pública padrão Robin Hood às avessas do mundo. Nos últimos 12 meses, o custo dos juros para a economia brasileira chegou a R$ 900 bilhões. Isto sim tem impactos severos sobre a dívida pública e afeta a capacidade de rolagem dela, especialmente a longo prazo. Trata-se de uma espécie de "Bolsa Faria Lima", algo que não se lança luz, uma vez que concentra renda na parcela mais abastada da sociedade brasileira. Em termos comparativos, o Bolsa Família tem uma verba estimada em R$ 168,6 bilhões, para 2024. O que se paga em juros anualmente é cerca de 5 vezes o que se investe na mitigação da miséria, no Brasil. É esse o País que queremos, enquanto sociedade?

Carregando um pouco na ironia, e nas tintas, como no famoso caso de Joseph Climber: "a vida é uma caixinha de surpresas"[2], e ela pode piorar. Na Super Quarta-Feira, enquanto o Federal Reserve (FED), banco central dos Estados Unidos, reduziu em 0,50 p. p. os juros lá, o COPOM resolveu, por unanimidade, aumentar aqui em 0,25 p. p. a SELIC. E na próxima caixinha de surpresas, que mais parece a de pandora, devemos observar novas elevações em patamares maiores, sempre com a "justificativa" dos problemas fiscais.

No dia seguinte ao aumento da SELIC, os jornalões (aqueles que os políticos e empresários leem) traziam os representantes dos bancos defendendo novas subidas, agora num patamar de 0,50 p. p. Com isto, não restam dúvidas, estamos forjando um novo voo de galinha para a economia brasileira. Impossível crescer e gerar oportunidades de emprego e de renda com tanta atratividade nas aplicações de renda fixa. De outro lado, é inviável tomar dinheiro para investir em atividades produtivas, ou comprar um carro ou uma casa financiada.

Como se vê, o Custo Brasil só tende a piorar, ao menos no vetor relacionado ao custo de financiar um negócio. E pouco se faz. As reações da sociedade são tímidas. No livro Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, a Coragem vem antes da Justiça, não creio que seja ao acaso[3]. Normalizou-se um verdadeiro absurdo, travestindo-o de verniz técnico e de legitimidade legal. Para pensar: o fato curioso é que o mítico herói inglês, Robin Hood, era considerado um fora da lei. No Brasil, subtrair, em proporções injustificáveis, os recursos financeiros de todos, inclusive dos que não tem, para concentrar em quem tem, é legal. E tem sido pouco questionado.

REFERÊNCIAS

[1] BRASIL – MDIC – Custo Brasil atinge R$ 1,7 trilhão e MDIC prepara plano para redução. Brasília. 17 de maio de 2023 – 
Disponível online em
 acesso em 20 de setembro de 2024;

[2] GLOBO – Altas Horas. Disponível online em:  https://www.tiktok.com/@adail1966/video/7210279841076202757 . Acesso em 29 de setembro de 2024; e

[3] COMTE-SPONVILLE, André. Pequeno tratado das grandes virtudes. Martins Fontes: São Paulo, 1999.

*HAROLDO DA SILVA











- Graduação em Economia  pela UNIB (1999);

 -Mestre em Desenvolvimento Econômico pela UFPR (2002);

-Doutor em Ciências Políticas (PUC-SP); 

Autor do livro : A ilusão Neoliberal da Industria: Veronópolis - Lemniscata-2024

Disponível na Amazon em https://a.co/d/c29UU6k

Nota do Editor:


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