Autor: Luiz Eduardo Corrêa Lima(*)
Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que, profissionalmente, eu só tenho feito aquilo em que acredito e assim, tenho desenvolvido coerentemente o meu trabalho de Professor. Por óbvio, fico contente de conseguir agradar a grande maioria dos meus alunos e alguns colegas de profissão, com quem convivi ao longo desses mais de 48 anos felizes de minha vida profissional como Professor.
Deste modo, já vou começar dizendo que,
nessa minha experiência como profissional da Educação e do Ensino, vi de quase tudo
e posso afirmar que existem vários tipos de sujeitos que se põem à frente de
uma sala de aulas para professorar. Então, a grande parte desses sujeitos,
infelizmente deixam tanto a desejar no exercício da função de Professor, que
não podem ser realmente considerados como professores. Então, eu vou me restringir
a falar apenas de alguns sujeitos especiais, que estão aí pelas escolas e os
quais prefiro chamar de "Bons Professores".
Ultimamente os "Bons Professores" estão cada vez mais raros nas diferentes populações, particularmente, nos
países mais pobres ou em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Entretanto,
certamente, ainda existem muitos que se mantêm vivos e ativos, como se fosse
uma força que se opõe ao forte movimento contra a Educação que se instalou pelo
mundo afora, numa marca de falência quase total dos valores éticos nas
sociedades. Ainda bem que esses sujeitos existem e se constituem numa
verdadeira resistência a favor dos interesses maiores da Educação e
consequentemente da humanidade.
Os "Bons Professores" são aqueles
sujeitos que conseguem realmente inspirar e servir de bom exemplo, não só aos seus
alunos, como também aos seus colegas de profissão. Talvez, eles só consigam
inspirar muitas dessas pessoas, exatamente porque são uns sujeitos objetivos,
claros e realmente verdadeiros nas suas maneiras de agir e principalmente, nas suas
efetivas tarefas de ensinar e formar outras pessoas.
Costumo dizer, em minhas aulas, que o "Bom
Professor" tem que possuir, principalmente, três características fundamentais:
Conhecimento, Amor pelo seu Trabalho e a Capacidade Argumentativa. Em suma, o "Bom
Professor" tem que apresentar bom conhecimento, tem que possuir Cultura, tem
que gostar muito do que faz e tem que saber usar bem o idioma pátrio. O uso devido
e concomitante dessas características é que leva o aluno ao convencimento. Os
alunos sabem, quando o Professor está na categoria de "Bom Professor", porque
ele consegue convencer sem impor.
Eu acredito que o "Bom Professor"
seja aquele sujeito que agrada e que convence os seus alunos, usando apenas e
tão somente a palavra, oriunda do conhecimento que ele possui da sua matéria, de
sua cultura geral, do amor por aquilo que ele faz e da argumentação lógica, clara
e convincente. É óbvio que a parafernália instrumental ajuda, mas, tenho
certeza de que esses instrumentos, embora possam ser muito úteis, não são as
coisas mais importantes no processo de ensino-aprendizagem. Entretanto,
fundamental é o "Bom Professor".
O "Bom Professor" faz uso da
parafernália com ferramenta adicional e complementar, se quiser, porque ele não
precisa dela. Já outros tipos de professores usam a parafernália como verdadeiras
muletas, porque sem esses instrumentos adicionais eles, simplesmente, não
conseguem ministrar suas aulas e assim são incapazes de convencer, encantar e ensinar.
Assim, como já foi dito, eu não consigo considerar esses sujeitos nem como
professores, quanto mais, como “Bons Professores”. Ao contrário, eu entendo que
eles atrapalham e prejudicam a Educação.
Em outras palavras, o "Bom
Professor" tem que ser um sujeito carismático e capaz de arrastar
multidões através da verdade de sua fala e de sua expressão profissional,
independentemente do apoio instrumental que ele possa ter à sua disposição. Os
alunos querem e têm prazer em assistir a aula do "Bom Professor", haja vista
que ele convence muito mais pelo que diz, do que pelo que pode ser capaz de
demonstrar através de instrumentos. Todavia, no que se refere aos outros tipos
de professores, a situação varia em diversas maneiras, as quais não cabem serem
discutidas neste momento.
O "Bom Professor" parece conseguir
fazer uma espécie de "transplante", durante a sua aula, no qual ele coloca o
cérebro no lugar do coração ou vice-versa e argumenta de forma soberana e eficaz.
Sua aula muitas vezes é uma preleção que emociona os expectadores. Obviamente
isso só é possível se ele tiver conhecimento de causa, isto é, que ele saiba do
que está falando, tenha excelente leitura do idioma e seja capaz de mostrar
toda sua sabedoria. Quando essa "mágica" acontece, o aluno fica encantado e o "Bom
Professor" passa a ser uma entidade especial no pensamento daquele aluno.
Eu, me considero um "Bom Professor",
porque ao longo de quase 50 anos como profissional do magistério, acredito que
consegui convencer e fascinar a grande maioria dos meus alunos. Sempre fui
bastante homenageado pelos meus alunos e congratulado por colegas. Mas, eu não
sou melhor que ninguém, sou apenas mais um ser humano que também habita esse
planeta de provas e expiações, e que trabalha duro no seu ofício de ensinar, tentando
acertar mais e fazer o bem.
E por fim, quero lembrar que: "fazer o bem, realmente faz muito bem" ou se você preferir,
"mais se beneficia, quem melhor serve", haja vista que estamos aqui
para servir aos nossos semelhantes, tanto biofísica, quanto espiritualmente. Sou
suspeito, mas acredito que a condição de estar Professor nesta vida, talvez
seja a melhor maneira que o ser humano possui, para servir às pessoas
individualmente, às comunidades localmente, às sociedades amplamente e à
humanidade como um todo.
Esse ano, no dia 15 de outubro ("Dia
do Professor"), aquele profissional que interfere na vida de todos os demais
profissionais, na minha mensagem aos meus colegas de profissão, eu disse o
seguinte: "Parabéns, para todos nós, que assumimos o compromisso de melhorar as
pessoas, através da Educação". Muito obrigado, por me permitirem refletir e falar
sobre isso, além de tornarem meu dia mais agradável e mais interessante. Eu vou
aproveitar o momento para fazer algumas considerações adicionais, que julgo
importantes sobre nós, os "Bons Professores".
Há uma metáfora famosa que o seguinte: "o "Bom Professor" é um anjo sem asas", mas eu entendo que nós, já que estamos
aqui na Terra, não podemos ser comparados com anjos. Como "Bons Professores" somos
seres humanos bons, bem-intencionados e sobretudo éticos, cientes de que temos
direitos, deveres, defeitos e que, acima de tudo, queremos que todos os seres
humanos no futuro, os quais, talvez, até possam vir a ter asas e a partir daí,
quem sabe, possam voar livremente. Se isso pode realmente acontecer, o nome do
processo que poderá permitir aos seres humanos a aquisição dessas asas para
voar e se desenvolver, sem dúvida nenhuma, só pode ser Educação.
Os "Bons Professores" são seres
humanos proativos, rebeldes e especiais que lutam e se apegam nesse processo
(Educação), porque querem melhorar os seres humanos e acreditam piamente que,
ao contrário do que diz a metáfora, eles não são anjos, são pessoas (seres
humanos) que têm cérebro, coração, braços, pernas e que sonham com um mundo
melhor. Por isso mesmo, os "Bons Professores" têm absoluta certeza de que,
somente a Educação pode levar a humanidade a uma condição melhor e superior,
quem sabe, até com asas verdadeiras.
Contudo, antes de sonharmos em ganhar
asas, precisamos ter os pés no chão e devemos entender, de uma vez por todas,
que "a Educação é a única solução para a humanidade" e que o "Bom Professor" é
o principal caminho para levar a humanidade à solução de todas as suas mazelas psicológicas,
sociológicas, emocionais e espirituais. Trabalhar pela Educação dos demais
seres humanos é uma obrigação de toda humanidade, que se profissionalizou como
tarefa dos Professores, ainda que esse não seja o interesse de alguns governos
e certos dirigentes pelo mundo afora.
Quando escolhemos o nosso ofício de
Professor nos tornamos responsáveis por travar essa luta e nós não podemos
desistir dela, enquanto estivermos por aqui, até, porque, somos cientes de a
Educação é o que diferencia e identifica o ser humano. A capacidade de aprender e ensinar, acumulando, transmitindo,
ampliando conhecimento e agregando cultura ao longo das gerações são características
quase que exclusivamente humanas.
O ser humano do futuro só existirá, se
a humanidade continuar aprendendo e aprimorando, cada vez mais, o seu conhecimento.
Temos que garantir que essa possibilidade não seja uma utopia e que continue se
mantendo como possível, por isso mesmo e que nós precisamos qualificar mais
nossa profissão e formar novos "Bons Professores".
Hoje, a "festa" do Dia do Professor, já
está quase acabando, mas, a missão do "Bom Professor", nesse mundo de poucos
valores e muitos interesses indevidos e nefastos, está apenas começando.
Trabalhemos, pois, para manter a Educação como uma referência pessoal, comunitária
e social, apesar de certos dirigentes e alguns governos. Nossa "festa" pela
melhoria educação deve continuar acontecendo, independentemente de outros
interesses, pois somos cientes de nossa missão.
Não importa qual seja o sistema
político do país, desde que haja educação efetiva e de qualidade no propósito
do sistema, certamente haverá melhora nas pessoas. Todos os países do mundo que
deram ou que estão dando certo, assumiram a Educação como prioridade e o
Professor como agente fundamental desse sucesso. Infelizmente, nessa questão
específica, o Brasil ainda não acordou e continua "deitado eternamente em berço
esplêndido".
Historicamente, o nosso país tem dito e
repetido que deseja sair da "rabeira" nos "rankings" internacionais de Educação
e que vai trabalhar para isso. Entretanto, por outro lado, o que se observa é
que praticamente nada de concreto tem sido feito para mudar essa situação
vexatória. Para que saiamos das últimas colocações nos ranqueamentos, será
preciso que, doravante, todos os dias sejam "Dias dos Bons Professores" e que
trabalhemos com afinco na direção de manter uma Educação de qualidade no país.
Para que isso possa efetivamente acontecer,
será fundamental que tenhamos um incremento significativo no número desses "Bons Professores", pois só desta maneira, nossa tarefa poderá ter êxito. Assim,
já sabemos da nossa necessidade prioritária, que é formar novos "Bons Professores".
Todavia esses "Bons Professores" necessitam estar verdadeiramente comprometidos
com a tarefa de produzir seres humanos melhores para o futuro.
Enfim, necessitamos trabalhar para formar "Bons Professores" no Brasil e tornar esses sujeitos em profissionais realmente
atuantes dentro das escolas e influentes nas ações de suas comunidades. Pensem muito
seriamente nisso, meus amigos.
*LUIZ EDUARDO CORRÊA LIMA
Biólogo (Zoólogo);
Professor;
Pesquisador;
Escritor;
Revisor; e
Ambientalista
Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.
Investir na formação de bons professores é investir no futuro do Brasil. É necessário um esforço conjunto de governos, instituições educacionais e a sociedade em geral para garantir que os professores sejam preparados de forma adequada e atuem como agentes transformadores em suas comunidades. Refletir sobre isso, como você disse, é um passo crucial para a construção de um sistema educacional eficaz e inclusivo.
ResponderExcluirBons professores! Hoje são diamantes!
ExcluirUm paradoxo!
Sim!
Nossos atuais professores, entram nessa vibe instigados pela tal estabilidade de emprego.
Reclamam por décadas contra governos de qualquer definição por melhores salários. Nenhum,por mais amplo que seja o seu conhecimento abre mão do emprego.
Na relação de consumo, a demanda por professores é alta, a oferta também; então nada há de mudar.