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sábado, 29 de outubro de 2016

Notório Saber


A educação passa por transformações constantes, é uma máquina de produzir ideias e ideais que se movimenta a todo vapor. Em algumas situações, em passos de tartarugas, em outras de maneira tão assustadora e surpreendente que nem mesmo acreditamos.

Nosso presidente nos trouxe algumas novidades que estão sendo pleiteadas para direcionar o ensino médio no Brasil. Dentre elas, uma em específico chamou minha atenção e quero refletir aqui com vocês. A expressão “notório saber”.

Na proposta atual, uma pessoa que não tenha uma formação de professor, ou seja, que não tenha feito uma licenciatura, mas tenha uma boa formação e um “notório saber”, poderá ocupar o cargo de professor.

Assim pensando, um advogado, por exemplo, poderá lecionar aulas de história; um engenheiro, de matemática; um farmacêutico, de química, e por aí vai... Bem a pergunta é : O que faremos com os professores que cursaram suas licenciaturas? Bem, essa é apenas uma pergunta que diz respeito à análise política e social da decisão. A outra pergunta, a meu ver, mais específica e preocupante, é: Como o dono do “notório saber” irá “saber” lecionar, se ele não teve a preparação para isso?

Não quero aqui questionar, em nada, a competência técnica dos profissionais acima citados. Preciso apenas refletir e convido vocês a refletirem comigo, uma outra competência: a do SABER FAZER.

Ter o conhecimento em tempos em que todo o saber do mundo cabe na palma da mão de qualquer pessoa, seja ela da idade que for, bastando apenas que tenha um celular conectado à internet, não garante a ninguém o aprendizado. Esse, para acontecer, precisa de muitos outros aspectos.

O professor foca seu objetivo não no ensinar, ele foca no aprender. Ele precisa garantir que o aluno aprenda. Essa “garantia” passa por um saber específico do professor, que tem em sua formação disciplinas como psicologia, sociologia, filosofia, história da educação, dentre outras tão importantes e necessárias para se compreender o pensar do aluno, em suas diversas faixas etárias.

É preciso ter uma formação completa para saber compreender como o aluno pensa e chega ao aprendizado, como fazer para que aconteça esse aprendizado, com significado, para esse aluno. É indispensável ter ciência de seu desenvolvimento motor, psicológico, moral, social, saber como lidar com suas emoções , como constrói seu conhecimento, etc.

O curso de formação de um professor o capacita para lidar não apenas com o conhecimento, que hoje circula fácil por aí, mas para lidar com o aprendizado, com as diversas possibilidades de se aprender a aprender. São metodologias , caminhos a serem desvendados para que o aluno consiga aprender. Aprender com significado, aprender com competências e habilidades que lhe permitirão ir além do simples saber acadêmico.

A presença de um professor com sua FORMAÇÃO ESPECÍFICA é tão importante quanto necessária, não apenas para dar significado ao conhecimento, transformando-o em APRENDIZADO, mas para fazer com que o aluno-aprendiz tenha desejo pelo conhecimento, prazer pela ato de saber. Ensinar é uma tarefa desafiadora, que para se consolidar precisa de uma mágica chamada sedução. É preciso criar um encanto pelo ato de aprender e esse encanto nasce de uma formação com vários olhares sobre o ser humano.

Ser professor é poder ter, no palco da sala de aula, o comando da vida de muitas pessoas, é saber criar atalhos para a vida e alinhavar o viver com doçura, sabedoria e encanto.


Me perdoem os donos de “notórios saberes”, mas saber ser professor, não é para qualquer um.

POR JACQUELINE  CAIXETA FIGUEIREDO











-Pedagoga;
-Autora de material didático;
-MBA em gestão estratégica de pessoas;
-Pós graduada em:
  -Psicopedagogia;
  -Alfabetização e construção de pensamento e
   -Inclusão escolar;
-Especialista em alfabetização e inclusão;
-Palestrante na área de educação e -Diretora Pedagógica na Colégio São Miguel Arcanjo do Sistema Escolápio de Educação

Um comentário:

  1. Excelente reflexão! O reflexo da formação sem a Ditdática, por exemplo, que implica no aprofundamento das teorias do conhecimento, das tendências pedagógicas, da necessária reflexão sistemática sobre a prática, dos conceitos e posturas de avaliação, da estrutura e contextualização de métodos, gera, inevitavelmente, um professor com sérias lacunas de formação. Gera um professora que, muitas vezes, confunde informação com conhecimento, Este é um sério problema no Ensino Superior, principalmente no bacharelado, que possuem professores com saberes técnicos específicos, mas não dominam competências afeitas ao professor em todos seus aspectos.

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