Autora: Maria Cristina de Oliveira(*)
Em pleno século XXI ainda
nos deparamos com muitas situações em que o Coronelismo persiste em várias
esferas públicas da política brasileira.
Esta prática teve início
ainda no século XIX, na República Velha, em que o abuso de poder era garantido
pela imposição, coercitividade. O coronel era uma figura de destaque local,
exercia poder por meio de imposição pelo medo, pela violência, ou ainda pela
troca de favores. Naquela época as eleições eram totalmente manipuladas, o povo
não tinha liberdade de escolher, o voto era de cabresto, porque o coronel
acompanhava a eleição de perto e o vitorioso era sempre o coronel ou quem ele
indicava. Em algumas situações até os mortos votavam, para forjar alguma
vitória eleitoral.
Hoje, em tempos de
tecnologia, de tudo estar conectado, o mandonimo político persiste visivelmente
nas cidades urbanas. Lembro de uma
história recente, de um grupo de amigos, que na época de confraternização,
decidiu fazer algo diferente. Ao invés de presentearem as crianças que escrevem
cartinhas para o Papai Noel, pedindo um presente de Natal e enviam para o
Correio, o grupo resolveu fazer uma festa para as crianças, passar o dia com
elas, proporcionando atenção, brincadeiras em conjunto, teatrinho, fornecendo brinquedos
de pula-pula, cama elástica, pipoca, algodão doce...
Tudo foi planejado e
escolhido o local. Entraram em contato com uma instituição de bairro e a
assistente social que recebeu o grupo, aprovou a ideia da recreação para as
crianças, que estavam em férias escolares.
Dois dias antes do evento,
conforme combinado, o grupo foi até o bairro para distribuir cartazes da festa
em alguns pontos do comércio local, para lembrar aos pais de levarem as
crianças para o divertimento. Terminada a distribuição dos panfletos, o grupo
já estava indo embora, quando recebem uma ligação da assistente social.
"- Alô, aqui é a Sra...
Estou ligando para avisar que não poderemos mais fazer a festa. A pessoa que
manda aqui na região proibiu e avisou que se a festa ocorrer, eles farão retaliação
aqui na instituição, podem botar fogo, roubar, depredar e destruir o que já
conquistamos."!
Diante desta chocante
situação, de que o bairro tem dono e é um tal político, o grupo cancelou a
festa. Lamentou-se pelas crianças que ali perderam esse tempo de carinho,
recheado de brincadeiras e realizou o evento com sucesso, tranquilamente, em uma
outra comunidade. Não foram só as crianças que perderam a festa, também
perderam os comerciantes do local, porque o grupo fez questão de comprar no próprio
bairro do evento tudo que seria gasto e utilizado na festa.
Não distante desse
acontecimento, lembro que até eu já passei por situação semelhante, em que
estava na praça da minha cidade, divulgado um evento de palestra, quando fui
abordada por uma senhora que me avisou que aquela praça pertencia a um político
e que tudo primeiro teria que ser autorizado por ele. Fiquei estarrecida,
paralisada por alguns segundos para tentar entender como uma praça pública,
criada e sustentada com o dinheiro de impostos dos munícipes, tinha um novo
proprietário, o tal "coroné" que vem sobrevivendo no país democrático.
Isso me levou a uma
reflexão: Quem sustenta esses cães de guarda do político? A resposta é simples.
É a sociedade que arca com as despesas, quando o político se utiliza dos cargos
comissionados.
E o que isso afeta na
economia do município, e o que nos afeta também?
A má gestão do serviço
público, o excesso de gastos, o desequilíbrio das contas públicas, mais a
corrupção, acarretam o abandono da saúde pública, não há verba para uma
educação de qualidade e a segurança se torna muito precária, porque não sobra
dinheiro para investimentos. As dívidas públicas crescem e a solução mais fácil
para pagar os gastos, é cobrar mais tributo e lá vem o aumento do IPTU.
O trabalhador é obrigado a
tirar mais uma fatia do seu salário para socorrer as finanças públicas. Também ele é levado a pagar um convênio médico
para ser atendido em um momento de enfermidade, porque o serviço público está
lotado. Terá que arcar com os gastos de uma escola particular para o filho,
porque a pública não tem estrutura, terá que fechar as ruas do seu bairro, caso
queira um pouco de segurança, porque não tem policiamento.
Por isso precisamos ser
mais participativos na política, para exigir uma melhor economia e utilização
do dinheiro público, porque ao invés de recebermos uma boa prestação de serviço
do Estado, acabamos por servir ao um governo inchado e ineficiente.
Estamos livres para
analisar e escolher bons candidatos, porque agora a lei nos dá garantia "A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal
e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos e, nos termos da
lei...".
Este é o caminho atrelado a uma educação de qualidade para
todos e que seja baseada em valores, ética, moral para andar juntos, de mãos
dadas, com a nossa política, a fim de que o rumo do Brasil seja de crescimento,
investimentos e nós então poderemos surfar nesta onda da prosperidade.
*MARIA CRISTINA DE OLIVEIRA
-Professora;
-Formada em Letras na PUCCAMP;
-Bacharel em Ciência Política;
Atualmente funcionária pública federal.
E-mail: cris.olive@gmail.com
E-mail: cris.olive@gmail.com
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Pagamos tudo de tudo neste país em que coronés mandam, desmandam ...
ResponderExcluirHoje ainda temos a evolução destes trastes; traficantes de drogas...
Desnudou a prática mais canalha. Parabéns
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