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segunda-feira, 9 de março de 2020

Uma questão de rótulos


Luis Lago (*)

Os cientistas Albert Einstein e Stephan Hawking revolucionaram a física e a mecânica com suas teses (já não mais teorias) sobre a relatividade. Ambos alcançaram o ápice de seus estudos com 65 e 70 anos respectivamente. A história desses dois expoentes da ciência poderia bastar para se contrapor à tão batida dicotomia Idade cronológica e Improdutividade psíquica/mental. 

Neste ponto, e a título de uma melhor análise, abriremos um parêntese para abordar (ainda que em rápidas pinceladas) alguns aspectos no contexto das duas clássicas espécies (a nossa e a dos nossos companheiros de jornada, rotulados de "irracionais"). 

Uma equipe de neurocientistas estudou, ao longo de seis anos, cérebros “humanos” com idades entre 50 e 70 anos em um grupo, enquanto uma outra equipe paralela estudou os cérebros de um grupo entre 15 a 20 anos. Ambos estudos puderam estabelecer que temos 86 bilhões de neurônios independente das idades dos indivíduos estudados. Em 2005, outro grupo de neurocientistas, da Universidade de Oxford, após estudos conclusivos, apontaram um número entre 85 a 90 bilhões de neurônios em cérebros de chimpanzés com idade média de 5 anos, e outro com idade média de 25 anos (a título de informação complementar, ressaltamos que o tempo de vida da espécie desses macacos em seus habitats é de 35 anos). 

Fechamos o cansativo parêntese acima, chamando a atenção das estimadas leitoras e caríssimos leitores, quanto à similar quantidade de neurônios encefálicos de "jovens" e de "idosos". nas duas espécies estudadas. Fica o registro para reflexões. 

Agora, retornemos ao ponto de partida desta nossa modesta escrita. Ou seja, ao seu início, quando foram apresentados os dois gigantes da ciência: Einstein e Hawking e suas "avançadas" idades. Vejamos, agora, alguns outros caminhantes, em outras áreas do conhecimento "humano", enfocando suas diferentes efemérides. 

Na música, enquanto Mozart compunha sua primeira sinfonia com apenas 8 anos de idade e, até sua morte aos 37 anos, compusera 10 concertos e 21 sonatas, 12 sinfonias e 2 óperas , Beethoven, entre 45 e 56 anos de idade, arreganhava ao mundo sua primorosa genialidade em suas 9 sinfonias,12 concertos, 46 sonatas, e 7 óperas. Já o russo Tchaikovski, produziu 12 concertos, 15 sinfonias, 5 balés, e 16 sonatas, entre seus 44 e 53 anos. Bem antes desses, Bach, considerado na esfera musical como "o mestre supremo dos mestres", antes de falecer aos 65 anos, deixou uma gigantesca e inigualável herança musical , a qual não teríamos espaço (além de nos tornarmos excessivamente enfadonho, ) para descrevê-la. 

Passemos para outras formas de produção artística. PINTURA, por exemplo. Aqui não vamos encontrar a precocidade de Mozart quando dos seus 8 anos. Nem a majestosa produtividade de Bach entre os seus 55 e 65 anos de idade. 

Mas, citaremos alguns que, por suas criações artísticas em suas chamadas TERCEIRAS IDADES, têm nos deleitado os olhos e a alma, sempre. 

Na PINTURA: Da Vinci, Michelangelo, Rafael, Monet, Degas, Picasso, etc, etc. E os nossos Di Cavalcanti, Portinari, Anita Mafaldi... etc, etc, etc. 

Na LITERATURA, vejamos alguns dos que nos deixaram, em suas rotuladas "IDADES SENIS" , obras fundamentais para o nosso enriquecimento cultural. São dezenas, centenas, Impossível enumerá-los. Registremos, pois, esses poucos, por uma questão de espaço e não desejo de enfadar: Dostoiévski, Gothe, Dante, Cervantes, Camões, Victor Hugo, e os nossos conterrâneos Machado de Assis, Clarisse Lispector, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade... Etc, etc, etc. Entre esses "monstros sagrados" deixemos registrado o nome do "jovem" escritor e ensaísta sueco Franz Kafka. Possuidor de um patológico comportamento anti-social, viveu de forma absolutamente recluso em sua modesta residência. Após sua morte, aos 40 anos, o seu único amigo vasculhou seus parcos pertences e descobriu os escritos de 7 obras, entre as quais os imortais "Metamorfose", "O Processo", e "O Castelo". 

Depois desses despretensiosos fragmentos, voltamos a nos questionar sobre o conceito de "MELHOR IDADE". Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) é "a fase em que o indivíduo tem mais de 60 anos de idade". Ponto final! 

Alguns veem o envelhecimento "como algo extremamente negativo". Já outros, consideram que "os anos vividos projetam uma vasta estrada pavimentada por alegria, tristeza, fraqueza, infortúnios, com suas margens enfeitadas por flores e por espinhos". 

Para esses 2 grupos acima, resta uma certeza absoluta: o fim. Enquanto ele não chega, seja por um infarto relâmpago, ou por um Alzheimer lento e suave, vivamos, sempre, o melhor de nossas vidas. Criando, sonhando, amando. 

*LUÍS LAGO
















-Psicólogo graduado pela Universidade Santo Amaro(1981);
- Especialização  em Terapia Comportamental; e 
- Atuação clínica por 15 anos. 
-Atualmente é Jornalista e  Fotógrafo (Não necessariamente nessa ordem); e
-Autor dos livros "O Beco" (poesias) Editora e Livraria Teixeira e "São tênues as névoas da vida" Âmbito Editores (ficção desenvolvida no estilo literário denominado "Realismo mágico")

Nota do Editor:

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