Estudos
correlacionam o aumento de diagnósticos de depressão e o aumento do uso (e
abuso) das redes sociais. Permanecer conectado de forma excessiva
às redes sociais gera a falsa sensação de proximidade com as outras pessoas, o
que mascara o real sentimento de isolamento relatado pelos usuários. Parece
irônico que nos sintamos tão solitários numa época onde a capacidade de fazer contato
com qualquer amigo de infância ou reencontrar parentes que há muito tempo não
vemos esteja, literalmente, na palma da mão. É que o contato virtual não atinge
nossos sentidos da mesma forma que o contato presencial. Bater papo com uma
pessoa querida envolve muito mais do que os poucos estímulos sensoriais
proporcionados por uma tela. Entretanto, este tipo de comunicação se torna mais
prático, e muitas vezes nos damos por satisfeitos com os limites que isso nos
impõe. A conveniência de se conectar quase instantaneamente a um amigo que mora
longe de você gera uma concorrência desleal contra os custos da socialização “à
moda antiga”: Atravessar a cidade para uma entrevista ou reunião com amigos
exige mais tempo, algum dinheiro e esforço físico. Além disso, quando chega a
hora de encerrar a reunião, é muito mais prático e rápido desligar a tela do
que atravessar a cidade, pegar trânsito, arriscar ser assaltado, gastar com
combustível, tomar chuva, etc. A proposta parece boa demais para recusar.
Além do isolamento
e o contato social distanciado fisicamente, outro ponto importante que pode
facilitar o desenvolvimento de transtornos depressivos tem a ver com a
constante comparação com o outro que fazemos ao consumir o conteúdo das redes
sociais de forma excessiva. Nestas redes, todos parecem perfeitos, com dentes
excessivamente brancos, um bom automóvel e uma boa casa para morar, além de
fazer muitas viagens e jantares em ótimos restaurantes. É claro que ninguém vai
publicar um vídeo de discussão com o marido ou alguma besteira que fez no
trabalho, aparentemente ali só há espaço para a perfeição. E quando a gente
compra essa ilusão e comparamos a vida dos outros com a nossa, podemos ficar
abatidos pois ali vemos somente o show e não vemos o que acontece por detrás do
palco. Já em nossas próprias vidas, temos acesso completo, tanto aos momentos
bons quanto aos momentos péssimos, e inevitavelmente acreditamos que a vida
daquelas pessoas se resume somente ao que é bom e bonito. Precisamos sempre nos
lembrar de que no palco não se expõem as dificuldades técnicas, e que aquelas
imagens dizem respeito somente a uma pequena parte da vida daquelas pessoas.
Inclusive muitas delas podem até estar infelizes pela maior parte do tempo, e
utilizam aquele espaço como forma de receberem aprovação dos outros e
sentirem-se um pouco melhores com as próprias vidas (estudos indicam maior
atividade cerebral no sistema de recompensas do cérebro quando o usuário da
rede recebe uma curtida ou comentários em suas publicações, o que pode vir a
causar dependência das redes sociais similar a outros tipos de dependência).
Também nas
redes sociais a desigualdade social se torna escancarada. A esmagadora maioria
da população mundial vive com poucos recursos (quase metade da população
mundial vive com menos de 6 dólares por dia), mas nas redes sociais os usuários
podem visualizar todo tipo de produto e serviço, especialmente aqueles dos
quais nunca poderão usufruir. Essa desigualdade pode gerar no indivíduo o
sentimento de que ele possui menor valor na sociedade (o que não é verdade)
pois o mesmo possui menor poder de consumo, trazendo também a frustração de
sempre desejar e nunca poder ter.
Ao utilizar
meios cibernéticos para se comunicar, o ser humano espreme a amplitude de suas
percepções e sentimentos para que se enquadre no formato de máquina e seja
enviado com um clique. Reduzir nossa forma de comunicação a texto, áudio e
video é um movimento em direção a nos tornarmos tão iguais quanto as máquinas
que utilizamos para nos comunicarmos (e ao mesmo tempo em que isso acontece, os
setores de pesquisa e desenvolvimento das inteligências artificiais buscam
tornar as máquinas tão iguais quanto os seres humanos). É ficção científica no
mundo real, debaixo dos nossos narizes.
Precisamos
limitar nosso consumo diário destas ferramentas da mesma forma como limitamos o
consumo diário de certos alimentos ou atividades. Retomar certas práticas e
costumes não é ser antiquado, mas prezar pela naturalidade e espontaneidade da
condição humana em proveito de nossa saúde mental.
Gostei muito
ResponderExcluirMuito obrigado!
ExcluirMuito bem colocado. Só nos falta ficar sensível, e tentar mudar...o mais dificil
ResponderExcluirMudar os hábitos é sempre difícil mesmo, mas fazendo um pouquinho por dia a coisa acontece 😌
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