Música:
uma paixão
A música é uma combinação harmoniosa de sons que nos traz alegria, tristeza, mexe com nosso corpo e nossa alma.
Sem fronteiras, nos dá prazer, libera a dopamina, une as pessoas, desperta lágrimas e lembranças.
Ainda criança, no interior de São Paulo, gostava de ouvir as modas de viola ou os artistas que vinham da Capital cantar no circo.
Tentei aprender piano, mas não deu certo: era muito precipitado, já queria compor sem saber tocar. Participava do canto orfeônico, mas era desafinado. Só mesmo minha avó Bibina adorava me ver cantando: “Pela estrada afora eu vou bem sozinho levar estes doces para a vovozinha”. Por gostar tanto de música, acho que fui levado de forma inconsciente para o setor da produção musical.
Quando entrei na Faculdade, em 1966, já estava casado com a música, razão pela qual faltava às aulas, mudava de período pra me ajustar à agenda de shows. Adorava a aula teatral do Mestre Goffredo e me interessava pela matéria do Professor Antonio Chaves, mas a música me afastou do Direito.
Em
todos os cantos
Ela é onipresente. O ritmo, a harmonia e a melodia nos encantam, em todos os cantos da Terra. Seja a popular, com suas letras normalmente românticas e refrões que nos atordoam e grudam em nossos ouvidos; a erudita, mais elaborada; a folclórica, que simboliza tradições, a identidade de um povo, sempre ligada às festividades com danças típicas, todas estas manifestações estão nas rádios, tvs, filmes, games, publicidade, igrejas, crematórios, elevadores, parques, nas alegres comemorações e tristes despedidas, até no caminhão de gás. É relaxante, traz equilíbrio, bem estar, agitação.
Difícil imaginar um mundo sem música, ainda mais agora com tanta facilidade de acesso.
A Origem
A primeira música e letra de que temos conhecimento é o Hino Hurrita nº 6, uma ode à deusa Nikkal, na Mesopotâmia.
Há indícios que desde a pré-história já se produzia música, advinda dos sons da natureza: o assovio dos ventos, o ruído dos trovões, os gritos dos animais, as ondas do mar, as batidas do coração.
As mudanças
É de cerca de 60.000 a.C o vestígio de uma flauta de osso.
Pitágoras revelou as notas e os intervalos musicais, criou a conexão da música com a matemática. O Papa Gregório no Séc VI compilou as regras para o canto gregoriano
Da mesma época, são as cantigas de Santa Maria, num total de 427 composições.
A polifonia com expressão mais universal veio no Renascentismo.
No Séc. XVIII, o surgimento de óperas e orquestras de câmara, com Vivaldi e Bach, entre outros.
No
Classicismo, entre 1750 e 1830, novas estruturas musicais são criadas: a
sonata, o concerto, o quarteto de cordas, o piano tomando o lugar do cravo.
No
Romantismo, Séc. XIX, o vigor emocional inaugurado por Beethoven com a Sinfonia
nº 3.
No
Séc. XX, surgem as novas tecnologias, o rádio e os suportes de gravação.
A evolução começou com o lançamento do primeiro cilindro de gravação em cera em 1877 (Thomas Edison), substituído pelo disco em 78 rotações na década de 1920.
Em 1940, foi introduzido o disco de 33 1/3 rotações, com maior duração.
Em
1980, os CDs, com tecnologia óptica para reprodução e armazenamento, botando
fora os discos de vinil, que agora voltaram à moda.
A primeira música gravada no mundo é "Au clair de la lune", com voz feminina, em 10 segundos, captada por um fonoautógrafo, em 1860.
O primeiro disco no Brasil foi gravado em 1902, por Manuel Pedro dos Santos, o Bahiano, feito em cera, com 3 faixas, pela Casa Edison.
O primeiro registro de um samba foi "Pelo Telefone", de Donga e Mauro Almeida, em 1917.
Em 1980, eu estava na Continental, empresa brasileira, que tinha um grande acervo das músicas regionais do país, com uma amostra bem rica e variada da nossa cultura.
Em 1986, na 3M, acompanhei a chegada das fitas cassete.
Com
o advento da Internet e das Redes Sociais, o processo de lançamento mudou
completamente.
Desaparecimento
da distribuição física, sem necessidade de armazenamento, transporte,
divulgadores de rádio e lojas, e eliminação do "jabá", caracterizado por
propina disfarçada, para promoção das músicas.
O
custo de gravação vai depender do tipo de estúdio, horas de gravação, músicos,
arranjos, mixagem, masterização.
Gravação
de qualidade, estratégia de marketing digital, presença marcante nas Redes
Sociais e nas plataformas de streaming de música são algumas exigências para o
novato iniciar a trajetória.
O
artista tem que criar seu próprio caminho: escolher ou compor a música, gravar
e distribuir sua obra da forma mais
inovadora possível.
Hoje,
a visibilidade nas Redes Socias é a base para o sucesso: até os programas de
televisão se utilizam deste mecanismo para programar o artista.
O
mercado brasileiro teve um crescimento de 13,1% em 2019, atrás da Índia e da
Grécia. É um país com grande diversidade cultural, com produção de inúmeros
gêneros: samba, pagode, rock, bossa nova, MPB, funk, forró e tantos outros
Em
2020, segundo a FGV, a indústria da música movimentou 5,6 bilhões em receitas
diretas e indiretas, com shows, bilheterias, streaming e direitos autorais e
empregou aproximadamente 54 mil pessoas.
A
Covid afetou significativamente este setor, talvez o mais prejudicado na
pandemia, com cancelamento de espetáculos, alterando de modo repentino a
empregabilidade do segmento.
Isto
trouxe enormes desafios para os profissionais, que tiveram que buscar novos
empregos
ou se reinventar através de eventos on-line, transmissões ao vivo em
plataformas como Instagram e You Tube para se manterem conectados com seus fãs.
Com restrições de viagens, o foco passou a ser o público local. Isso trouxe um
aumento do consumo da música digital, criou novos hábitos.
O
retorno às práticas normais está voltando gradualmente.
Os
festivais estão atraindo milhares de pessoas que se encantam com esse
reencontro coletivo e mágico.
Muitos
artistas se mudaram para outros países; mais do nunca, há a necesidade de criar
espaços e criar parcerias.
Não
temos acesso ao número de lançamentos, mas uma matéria da Revista Exame de 2019
informava que cerca de 30 mil novos artistas são registrados no Ecad a cada
ano, novos talentos e consagrados.
O
Ecad, nesse mesmo ano, arrecadou R$ 1,5 bilhão e distribuiu cerca de R$ 1,2
bilhão aos titulares de direitos autorais no Brasil e exterior.
As associações de direitos autorais
O Ecad é a maior associação, responsável pela arrecadação e distribuição dos valores devidos pela utilização pública das criações.
Entre
as outras mais importantes que representam compositores, intérpretes, músicos,
arranjadores, regentes, editoras e produtores fonográficos estão Abramus, UBC,
Sbacem, Amar, Socinpro.
O
Brasil ocupa, segundo dados de 2020, da Federação Internacional Fonográfica, o
10º lugar no ranking dos maiores mercados em termos de receita.
As principais gravadoras
A
maior é a Universal, que controla 40% do mercado, seguida por Sony e Warner e
pelas brasileiras Som Livre, Deckdisc e Biscoito Fino.
Não
há um número exato de gravadoras e estúdios, mas segundo a ABMI existem
aproximadamente 200 gravadoras e, em 2019, o Governo Federal divulgou pesquisa
que apontava 3.400 estúdios no país.
As
Plataformas
Por ordem de importância: Spotify, com mais de 356 milhões de usuários; Apple, com mais de 70 milhões, e Amazon, com mais de 55 milhões.
O
artista precisa contratar uma distribuidora digital ou fazer o upload da música
diretamente nas plataformas, que se transformaram em ferramenta crucial para
promover a música.
A Inteligência Artificial (Chat GPT)
O autor que tem o direito sobre sua obra deve entrar em pânico diante da impossibilidade de prever o futuro, que é de muita incerteza.
Ele
que precisa garantir que a utilização do seu trabalho seja feita de acordo com
sua vontade e que receba uma compensação justa pelo uso da obra. No momento
atual, ele não tem nenhuma garantia de que isso vá ocorrer.
A
capacidade de absorver e distribuir informações da IA é monumental, instantânea
e irreversível.
Para
escrever este artigo, fiz consultas a esse mecanismo e prontamente recebi as
respostas, de forma detalhada.
Outro
dia, por curiosidade, passei um tema e pedi um texto teatral que me chegou na
hora com todos os personagens; parecem textos que são de terceiros, sabe lá de
quem, talvez indevidamente coletados e vendidos através de uma assinatura, sem
que os autores invisíveis nada recebam por isso.
Sei
que todas estas conquistas são importantes, necessárias, mas é imperativo
criar-se um limite legal para a devida proteção do sagrado direito do autor.
*GENILDO GONSECA
-Advogado graduado pela Faculdade de Direito da USP(1972) e produtor musical;
- Diretor da Circuito Musical
-Empresário artístico de Toquinho
Genioso, obrigado pelo artigo. Aprendi muito. Belíssima pesquisa. Parabêns! Luiz Arruda Barbosa
ResponderExcluirParabéns, Genildo! Que seu texto, tão bem fundamentado, possa incentivar que outros venham à público.
ResponderExcluirGrande relatorio Mestre Genildo. Tbm na Europa vivenciamos esses novos acontecimentos A.I. mas estamos confiantes. Abraco. Da Italia. R.M.
ResponderExcluirArtigo excelente e super esclarecedor. Obrigada Ge!
ResponderExcluirBravo Genildo ! Artigo interessante .
ResponderExcluirGenildo, excelente trabalho. Pormenorizado e abrangente. Traz a história da música, sua modificações estruturais e alteração estética.
ResponderExcluirMuito bom. Parabéns. Abraço fraterno do amigo Roberto Mello
Agora sim. Foi uma aula. Obrigado
ResponderExcluirRelevante!
ResponderExcluirParabéns.
Só quem é do ramo para escrever com propriedade, a lucidez dos iniciados a nos iluminar o caminho. Esperamos ser agraciados com novas publicações em breve, grande abraço Genildo.
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