Não sou um bom cronista em que
pese já ter escrito algumas crônicas. Sou emotivo e amoroso, sensibilizo-me com
as coisas humanas e tenho por muitos que não vejo tanto amor como tenho por
aqueles que comigo estão. Certamente meu maior amor é o que tenho pela Humanidade,
um amor coletivo que não vê caras, mas que quer ver corações. Sinceramente não
sei odiar e aprendo muito com meus inimigos, se é que os tenho, embora eles
digam que sim.
Posso emocionar-me por opera, mas o jazz me encanta tanto quanto a música caipira que erroneamente muitos chamam sertaneja; nada melhor que um bom sambinha ou um bolerão de fim de noite, para encantar um amor perdido na mesa de um bar que nessa hora é todo o universo. Cultivo a beleza da mulher da minha principalmente; o "black is beatifull"; me fascinam as rainhas de sabá, que hoje, estão no Brasil por todos os lados. Mas é apenas uma questão cultural porque sou feliz no amor e no sexo monogâmico.
Aí é que digo não sou um Rubem Braga nem um João do Rio, para cronicar como se fosse Rui Castro; entretanto ultimamente com o mundo virando de ponta cabeça, estou mais para compreender a cibernética ou a inteligência artificial e aí alguém dirá, cadê a poesia seu babaca?
Vão lá umas horinhas do Pessoa, muito do Castro Alves e do João Gilberto, sem ser muito do Vinicius, de um pouco que vira muito. Mas as crianças sempre me encantaram pela naturalidade delas e pela maneira como enfocam a realidade.
Certa feita, um neto brincava com uma prima, ainda lá nos seus cinco anos. Ela tivera um pai que os desvios da vida o levara alemão de volta para a Alemanha, sem jamais ver a família. A menina amava o pai, sentia lhe falta, como se fosse um espírito. No auge de uma disputa, sei lá se por um folguedo ou brinquedo, o cara sacou: Ah! Volta lá para a Alemanha!
Uma vez, minha casa foi assaltada; os ladrões no clássico exemplo da Medicina Legal, do larápio que não encontra o que procura, deixou seu registro fecal sobre a mesa da sala de jantar. Vinda a Polícia, chamada para a perícia do seguro, subíamos eu e minha filha, então, com cinco anos, as escadas da casa para adentrá-la. O policial virou-se para mim e disse, doutor, isto é ladrãozinho. Minha filha atalhou-o – ladrãozinho? – Vá ver o que ele fez lá em cima...
Outra neta, já moça bonita, ainda com dois anos, sacava o mau humor da mãe e a desarmava (tá bava?) e a mãe dela se derretia em amor. Mais tarde, aos dez anos, brincava de cirquinho com as amigas e eu perto, quis entra no picadeiro e ela me disse, careca não entra...
As crianças assim têm a sutileza de retratar a realidade em suas palavras com singela simplicidade, mas impactadas por realidades concretas, que a ver as manifestações delas, me fazem crer em duas coisas.
Primeiramente, no Direito Natural e segundamente, na transcendência na alma porque existe uma sintonia do ser humano com o natural que a criança exprime com muita acuidade, sem ter a vivencia social de que nós que já estamos velhos.
Não sei se isto é uma crônica? Talvez falte nela a fluidez da ternura. Mas isto tem a ver com nosso espirito de cada dia. Hoje, Advogado briguento, estou furioso com um magistrado injusto.
Aqui, sim, está uma crônica com tudo!
Obrigado pela chance de escrever!
Como dizia o Pessoa, escrevo para me desopilar, mas nunca fui mal-educado como
ele, que arrematava, leiam-me os que queiram.
Eu, sempre quis ser lido...
* LUIZ ANTÔNIO SAMPAIO GOUVEIA
Crônica é escrever o que vai na alma. Todos somos capazes.apenas olhando prá dentro. Gostei
ResponderExcluir