Plagiando, a maravilhosa canção de Belchior, “Pequeno perfil de um cidadão comum” vou demonstrar a iniciação estudantil de uma criança de 6 anos e toda as experiências vividas por ela, seus sentimentos, pensamentos, atitudes e os “mundos em que vive dentro de uma escola”.
Uma criança aos 5 anos de idade é um verdadeiro e puro filósofo pois dentro da sua natureza humana começa a interpretar, analisar e indagar sobre o mundo em que vive, faz perguntas de tudo aquilo que vem a sua mente. Essas questões são, ou deveriam ser respondidas primeiramente pelos seus pais ou responsáveis, mas muitas vezes é tratado como uma criança “chata” que não para de perguntar.
Juntamente com essa filosofia transbordando, a criança tem uma vida totalmente ligada aos pais, pois até a essa idade, praticamente, em todos os seus afazeres está literalmente “grudada aos pais”, seja em um clube, na igreja, em um restaurante, no shoppings, etc.
Ao completar 6 anos, é nesse momento que a vida dessa criança é transformada, pois ela é levada pelos pais para a escola sendo entregue para o “tio do portão” e inicia assim a sua vida autônoma, pois pela primeira vez ela não está mais “grudada aos pais” e mesmo sem saber vai enfrentar sozinha esse mundo que não é o mundo dela. Ao se despedir dos pais, algumas crianças viram para trás e abanam a mão, outras mandam beijos, outras correm ao encontro de um amiguinho e até esquecem os pais e muitas choram, querendo voltar aos braços dos pais, que com o coração apertado diz à criança:
- Vai meu filho, lá é muito legal, tem amiguinhos, brincadeiras, a professora é boazinha e o papai vai ficar aqui te esperando tá?”
Ao adentrar em sala de aula, essa criança e mais 29 (número médio nas escolas públicas), trazem 30 mundos diferentes, 30 visões, sentimentos, interpretações; agora são 30 “filósofos” com uma quantidade infinita de questionamentos a espera de respostas. E é nesse exato momento que ela chega, a PROFESSORA, um ser humano contratado profissionalmente para resolver essas questões.
Começa agora então, o maior erro pedagógico, a transformação dos “30 mundos”, em um único mundo, o mundo da professora, onde os “problemas” são criados por ela, assim como os questionamentos desses “problemas”. Ao sentir que o seu mundo não tem mais significado e que agora é obrigado entrar no mundo escolar, a criança inconscientemente começa a se defender de diversas formas, ficando em silêncio, chorando, gritando, aceitando naturalmente e criando juntamente com outras crianças um mundo próprio dentro da escola.
Fazendo agora um relato das escolas públicas do Estado de São Paulo, são diversos os motivos que geram o desanimo escolar da criança: a falta de estrutura e de materiais, um planejamento desorganizado, a não participação da família no processo escolar, mas principalmente um conteúdo didático altamente demagógico (o qual vou exemplificar).
Em uma aula intitulada “Os alimentos e seus benefícios” a professora se utilizando de um livro didático do governo explica através da fotografia de uma prato de comida (onde há arroz, feijão, bife, batata frita e salada) as proteínas e vitaminas nele contido e a forma como esse alimento deve ser mastigado e ingerido. E então vem a grande demagogia, muitas dessas crianças não possuem esses alimentos em casa e outro fato que passa despercebido, é que a professora orientou os alunos que antes de se alimentar a criança deve lavar as mãos, a mastigação deve ser feita de forma tranquila para facilitar a digestão e que após se alimentar, a criança deve escovar os dentes. Mas incrivelmente após essa aula a criança irá para o intervalo e não fará nada do que foi dito minutos atrás, aliás, receberá uma ordem no refeitório, de uma funcionária da escola, para que a criança não enrolasse, pois logo teria que voltar para a sala de aula, sem lavar as mãos e sem escovar os dentes.
Vou citar uma frase de Paulo Freire: “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática”.
Para demonstrar apenas mais um exemplo, cito um chavão escolar “a escola prepara o aluno para o mundo” e eu sempre me pergunto, que mundo é esse que enviaremos nossas crianças, sendo que nas escolas, computadores, televisores não existem e aparelhos celulares são proibidos?
Finalizando, venho aqui demonstrar toda a minha indignação e tristeza por todas as medidas demagogas e absurdas tomadas pelo governo, como: a unificação do conteúdo, a reorganização escolar, a reforma do ensino médio e tantas outras que não possuem o real objetivo que o governo passa para a sociedade, citando mais uma vez Paulo Freire: “Seria uma atitude muito ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que permitissem as classes dominadas perceberem as injustiças sociais de forma crítica”.
-Professor na rede pública do Estado de São Paulo;
-Professor de História, Sociologia e Filosofia nas Escolas Técnicas e
-Educador na faculdade F.A.M.A (Faculdade Aberta da Maturidade Ativa)
Muito bom, Geraldo! É o retrato da Educação em muitas escolas desse nosso Brasil. E me fez lembrar o contexto de aula de Paula Freire: alunos com ambiente socio cultural precário, inexistência de recursos materiais e sabese-lá mais quantos obstáculos. Mas havia o mais importante: o professor. O recurso humano com ânsia de transformação. Seu foco: o aluno, acima de tudo.
ResponderExcluirSempre que posso digo que educação no Brasil é uma farsa. Alunos não querem nada e professores (alguns??) querem metade. E os políticos espertalhões se aproveitam deste vácuo onde os pais se eximem da responsabilidade de educar seus filhos e nos lançam nesse biombo nefasto onde as ideias e ideais canhestros são impregnados na mente de todos.
ResponderExcluirO texto expõe o iniciar da vida estudantil. Devo lembrar que o ensino Infantil: É dividido em Maternal que vai de 0 a 3 anos, onde tem o Berçário de 0 a 1 ano e os maternais 1, 2 e 3 um para cada ano de vida; e Educação Infantil de 3 a 5 anos que são divididos por períodos conforme a idade, portanto aos seis anos a criança já teve o contato com a (o) professora (o).
Nesta fase, nós só temos o problema da falta de vagas, pois as crianças nestas idades ainda estão imunes à ideologias e estão com a mente limpa da falta de respeito com professores e não são adeptas da destruição da escola.
Carlos Magno executou uma reforma na educação. A partir do ano 787, foram emanados decretos que recomendavam, em todo o império, a restauração de antigas escolas e a fundação de novas. Essa reforma ajudou a preparar o caminho para o Renascimento do século XII. (isso aprendi com o filho da alma mais honesta do Brasil, Ctrl "C" na internet...
Digo isso, porque o mundo evoluiu, foram feitas descobertas, chegamos à lua, inventamos meios de voar, de falar a longas distâncias, de nos fotografar, de nos locomover, enfim a modernidade onde conforto e a tecnologia, pelo menos até o início dos anos oitenta, não dispunham de computadores, estrutura e outras possibilidades e gratuidades nunca antes vistas.
Eram somente os professores. Sim, PROFESSORES. Hoje é uma falácia tremenda dizer que os governantes se recusam a educar a nação. Não que a queiram, mas paradoxalmente nossos alunos depois da quarta série vandalizam as escolas, desrespeitam os professores, o corpo docente e funcionários, detróem os materiais aos quais pagamos com o suor de nosso trabalho, mantem uma baixa frequência entre tantos desperdícios.
Dito isto só me cabe dizer que os professores abriram mão de sua autoridade dentro da sala de aula, na busca insana por melhores salários ( não que não devam, é um dever lutar por melhorias) mas que a forma manipulada por sindicatos orquestrados por um partido da trevas municiados de jargões exaustivos, destruíram o elo professor X aluno x pais onde era formada a divina tarefa de educar, aprender e respeitar .
Oi Stela.
ResponderExcluirA demagogia está reinando entre aquilo que se necessita e aquilo que se oferece.
E vocé disse muito bem, o aluno é o foco.
Muito obrigado pelos comentários.
Oi Alvaro
ResponderExcluirMuito obrigado pelos comentários e pelas preciosas informações , que me levantaram mais questões e reflexões
Vou expor duas:
A primeira de forma didática...Se eu estivesse ministrando uma aula de História em 1998 e no meio da explicação esquecesse o nome de um Rei durante a Rev. Francesa, diria para meus alunos.
_ Gente , infelizmente esqueci , me deu um branco, peço desculpas, mas na próxima aula daqui 3 dias, trago o nome para vcs.
Agora a mesma aula ministrada em 2015, no momento que eu dissesse que traria a resposta daqui 3 dias , os alunos com certeza iriam rir de mim, pois eles obteriam a resposta sem minha ajuda em poucos segundos.
Essa mudança é altamente significativa e as escolas ainda não entenderam.
E outro ponto citado por voce é sobre a autoridade do professor , que hoje só consegue através da pressão psicológica , e dos poucos meios que ainda possuem para reprimir os alunos , e aí passar a ser autoritarismo.
É triste ver que muitos ( pais,professores, diretores etc ) ao andar pela escola, ainda acreditam que a verdadeira educação só acontece ao ver uma sala repleta de alunos sentados em ordem numérica , em silencio e total submissão ao professor.