Autora:Claudia Oliveira(*)
Dificuldades no relacionamento interpessoal são
queixas frequentes nos consultórios de psicologia, sejam elas na vida pessoal
ou profissional. O ser humano é gregário, necessita dos grupos para desenvolver-se
e para ser feliz. Portanto, relacionar-se bem é uma necessidade inerente na
vida. É nas relações que evoluímos.
Para melhorar a qualidade das relações e sentir-se
melhor diante das pessoas presentes no cotidiano, primeiramente, é preciso se auto-observar.
Atentar-se aos conteúdos dos pensamentos e das nossas palavras é fundamental. As
palavras tem um poder imenso. Podem ser usadas para criar e libertar, ou para
escravizar e destruir. Tudo depende da qualidade de seu conteúdo.
Palavras vãs, tomadas como verdade absoluta, alimentando
crenças limitantes e criando uma falsa visão sobre nós mesmos, limitando
habilidades e aprisionando a criatividade.
Ao aceitar cada palavra tóxica que ouvimos, firmamos
um compromisso com nós mesmos, estabelecendo comportamentos que reiteram essas
falas. Aos poucos vamos nos envenenando e destilando esse veneno às pessoas à
nossa volta. Reclamar, maldizer, fofocar são formas de disseminar veneno.
Sendo assim, desenvolver um vocabulário amoroso,
respeitoso e compassivo auxilia a si e a quem está ao seu redor.
Outro ponto importante para aprimorar as relações é
lembrar-se que a opinião emitida por cada pessoa é filtrada por sua realidade
subjetiva. Ela é um reflexo de seu interior, uma projeção de como ela vê o
mundo. Portanto, quando assumimos a opinião alheia como verdade e levamos para
o lado pessoal, geramos sofrimento desnecessário.
Filtrar o que chega aos nossos ouvidos permite que
tenhamos tempo para processar e compreender o que está por trás de cada fala,
comentário e opinião. Esse filtro melhora a qualidade da comunicação, que é
base para a saúde das relações.
A teoria da Comunicação Não-Violenta (CNV), criada
pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg, cita quatro passos
importantes para aprimorar a comunicação interpessoal. Para ele, diante de cada
situação, devemos:
- Observar sem julgar: ouvir em escuta plena e neutra, se abstendo de conclusões e impressões.
- Identificar como nos sentimos ao observar aquela ação: descobrir como isso nos afeta e nomear os sentimentos presentes.
- Identificar quais as necessidades pessoais que estão ligadas aos sentimentos identificados acima.
- Formular um pedido claro e coerente baseado nas reflexões acima.
Um exemplo simples disso é uma esposa que, após um dia
exaustivo, chega do trabalho e encontra a casa bagunçada. Ela sente-se
irritada, pois necessita de organização nos espaços comuns para sentir-se bem.
Observando a situação, sua irritabilidade e sua necessidade de organização, ela
pode comunicar-se: "Você poderia encaminhar as roupas sujas para o cesto e
liberar o espaço comum?".
Existem diversas maneiras de comunicar o pedido acima.
Mas frequentemente, esse pedido vem contaminado com reclamações, julgamentos,
mágoa e rancor, palavras pesadas e colocadas fora de contexto que vão formando
uma névoa em volta do simples pedido, tirando a objetividade da fala, causando
dificuldades na relação.
Identificar, diferenciar e comunicar os sentimentos
causados em cada situação faz com que eles sejam liberados paulatinamente,
evitando explosões emocionais e discussões desgastantes.
Os passos da CNV contribuem para uma relação mais
equilibrada e empática, pois quando cada necessidade pessoal é identificada,
podemos nos autorresponsabilizar pelos nossos sentimentos e comunicá-los de forma
pacífica, sem disputa de poder, sem querer obter razão diante do outro.
Uma comunicação clara e pacífica constrói pontes nos
relacionamentos, diminuindo distância e aumentando o senso de pertencimento.
Outra postura que causa grande frustração nos relacionamentos
é quando tiramos conclusões precipitadas sobre algo ou alguém.
Quando analisamos rapidamente uma situação e tiramos
conclusões de forma precipitada, sem o devido conhecimento, corremos o risco de
nos magoar de forma desnecessária, pois em diversas vezes essa conclusão será
infundada.
Tiramos conclusões, pois temos a fantasia de que as
pessoas pensam e sentem como nós e isso não se aplica.
Uma alternativa é procurar esclarecer a situação
através de perguntas claras e diretas, diminuindo a falha de comunicação. Com
isso, é possível reconhecer o outro em sua individualidade, compreendendo como
ele é, diferente de mim. Reconhecer e respeitar suas qualidades e também seus
limites.
Para se
ter relações saudáveis é necessário se comprometer a dar o seu melhor. Muitos
esperam uma mudança de atitude do outro, sem assumir sua própria
responsabilidade diante da relação.
Relacionamentos
envolvem a postura de ambas as partes e quando todos se responsabilizam a
deixar orgulho, ego e vaidade de lado, tudo fica mais fácil.
Fazer o melhor de si, reconhecendo limites e
disponibilidade. Nosso melhor varia de acordo com nossa disponibilidade, saúde
(física e emocional), criatividade e diversos outros fatores. Reconhecer isso
sem julgamento e culpa é a base para a entrega, livre de cobranças e
arrependimentos, construindo uma convivência harmônica.
Ao nos aproximarmos da liberdade da consciência,
podemos ser benevolentes, empáticos. Respeitar a própria liberdade permite
respeitar a liberdade do outro, reconhecer que cada um caminha em seu próprio
ritmo e assim deve ser. Quem caminha sozinho pode até chegar mais rápido, mas
aquele que vai acompanhado, com certeza chegará mais adiante.
*CLAUDIA RIBEIRO OLIVEIRA
-Psicóloga;
-Especialista em Psicologia Junguiana pela Paeeon/UNISAL;
-Facilitadora Pro do método PSYCH-K® de transformação de crenças;
-Experiência em atendimento psicológico na abordagem junguiana em consultório particular;
-Experiência como docente em Ensino Superior; e
-Experiência em palestras sobre temas na abordagem junguiana
Nota do Editor:
Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.
Excelente!!!
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