Ao pensarmos os espaços educativos, vem-nos em mente uma educação para a sensibilidade. Se retomarmos ao grego skholé, palavra que proporciona nos dias atuais a derivação para dar origem à escola, significa tempo livre, distanciado do trabalho e da ocupação da vida adulta (MASSCHELEIN; SIMONS, 2014).
A Educação que queremos hoje supõe a educação como formação humana plena, na qual a compreensão da cultura, da sociedade, a habilidade de manejar os conhecimentos de todas as áreas da atuação humana se completa com a formação técnica, tecnológica e operacional.
Não queremos formar uma geração de crianças que dominem aparelhos digitais e não saibam história, nem tenham a sensibilidade artística ou solidária, nascida da convivência, da educação dos sentidos em relações humanas institucionalizadas. Não bastam os computadores, smartphones e as redes sociais.
Queremos conquistar uma educação e uma escola de direitos! O tempo e os espaços escolares poderão ser constituídos na direção de reconhecer e conviver com os novos sujeitos sociais, a criança, o adolescente e os jovens brasileiros.
Muitos discursos pobres e estreitos são produzidos sobre a Educação. Populistas desarvorados, jornalistas de pouca formação no campo da educação, economistas tendenciosos ou arrogantes, parece que todos têm a fórmula mágica para produzir uma educação formadora do caráter do aluno.
Outra abominável construção argumentativa: a acusação genérica de "conteudista" para a identidade da escola e educação generalista e integral, e a proposição de currículos baseados na web e reduzida à dinâmica da revolução digital. Temos pensado que as novas tecnologias de produção, transmissão e reprodução de dados são hoje fundamentais ao processo educacional e escolar, mas não se contrapõem assim tão simplistamente. Se a tecnologia é todo artefato produzido pelos grupos humanos, a escrita, o livro, a fantasia, a brinquedoteca e a hemeroteca são tão importantes para nossa emancipação como os computadores, os tablets, os smartphones e similares. Cada um a seu tempo.
Ninguém será sujeito da computação, da cultura digital, da comunicação global, se não for educado a integrá-las à Literatura, às Ciências Humanas, à História, à Geografia, à Filosofia, às Artes, ao universo lógico-matemático, entre outras tantas possibilidades. Descurar da formação clássica e do papel orgânico da educação e da escola seria deixar que os produtos tecnológicos transmitissem a identidade descartável, operacional e consumista que neles está embutida pela lógica da propaganda e da fetichização da tecnologia, tão comuns em discursos empresariais e economicistas primários.
A escola e a educação que queremos construir é a escola dos novos direitos sociais, da criança do adolescente, do cuidar e educar, do Estatuto da Criança e do Adolescente, da Agenda 21, da sustentabilidade, da pluralidade cultural, das políticas emancipatórias de Gênero, da Educação do Campo, das culturas afrodescendentes e indígenas negadas, da política de cotas, das práticas de reparação, da continuidade da demarcação de terras indígenas e quilombolas, da inclusão das pessoas com deficiência, do respeito ao Idoso e a seu estatuto, do respeito à igualdade de gênero, da lei Maria da Penha e da superação do patriarcalismo, do machismo, do feminicídio necrófilo, do reconhecimento pleno da dignidade de toda orientação sexual, na atualidade necessária do Estatuto da Juventude, da Sustentabilidade e da generosidade, esperanças de um país superando todas as dominações.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional. Lei 9394/1996. Brasília: Imprensa Oficial,
1996;
______. Plano Nacional de Educação. Lei 13.005/2014. Brasília: Imprensa
Oficial, 2014;
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil. O Longo
Caminho. 5.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004;
GOERGEN, Pedro. Pós-modernidade, ética e educação. 2. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.
(Coleção Polêmicas do nosso tempo; 79);
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre
facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997;
IASI, Mauro Luis. Ensaios sobre consciência e emancipação. 1. ed. São
Paulo: Expressão Popular, 2007;
MASSCHELEIN, J.; SIMONS, M. Em defesa da escola: uma questão pública.
2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2014;
NUNES, César. FEITOZA, Ronney. Os movimentos sociais e as políticas educacionais
diante da questão da emancipação humana: as tendências reais e as novas ilusões
respostas. Quaestio: Revista de Estudos de Educação. 1-2 ed. Sorocaba:
UNISO, 2008;
SADER, Eder. Quando novos personagens entram em cena. São Paulo:
Paz e Terra, 1988; e
SANFELICE, J. L. O compromisso ético e político do educador e
a construção da autonomia da Escola. Quaestio, Uniso, vol.1 nº 2.
*MÔNICA FALCÃO PESSOA
Educação se tornou um tema político, e onde há políticos, principalmente os tiriricas e bandidos em família para elaborarem estratégias e fundamentos para a educação , não teremos sucesso na empreitada.
ResponderExcluirNa atual conjuntura, o primeiro passo seria restabelecer a disciplina no ambiente escolar em TODOS os níveis. Retroceder aos anos cinquenta e sessenta onde ditados e decoreba da tabuada formava cidadãos capazes de nos trazer a evolução tecnológica ao qual temos hoje...
Devemos aprender com o passado para construir um futuro melhor.
ExcluirParabéns, Mônica Falcão! E que tenhamos instituições escolares e também os colegiados em sintonia nessa tarefa. Paz e Bem. Profa Marina Franco.
ResponderExcluirObrigada, Marina.
ExcluirObrigada pelos comentários, Álvaro e Marina. Temos realmente que olhar para trás para fazermos uma análise profunda de quando nossa Educação começou a degringolar. Aprender com os erros não significa retroceder, mas formar uma base sólida para construir uma nova educação realmente formadora, sempre dentro das necessidades atuais. Não é repetir o passado, mas aprender com ele.
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