Autora:Bruna Araújo(*)
Atualmente vivemos em uma sociedade na qual o que importa é sempre o melhor. A melhor marca, o melhor produto, a melhor descrição de alguma coisa, a melhor verdade. Um dos resultados disso que podemos ver nitidamente, talvez não tão nítido para alguns, é a exclusão de tudo aquilo que não se encaixa no padrão normativo.
Frequentemente nos pegamos em situações em que estamos tentando fazer este "melhor", sem mesmo considerar todo nosso esforço já realizado. Acontece que quando tentamos fazer isso, deixamos de lado o que realmente importa, nós mesmos. Devemos nos lembrar sempre de nossa singularidade. Somos todos singulares, únicos. Parece que ser autêntico é algo que não cabe muito bem pra "sociedade", pois quando você faz algo diferente ou é diferente, seja lá em qual aspecto, vai ter alguém que vai dizer algo negativo sobre isso e pode ser que você se sinta excluído de um padrão normativo.
Quando falamos de ciência, temos que levar em consideração que o conhecimento humano, tal qual se apresenta hoje, em sua maior parte está catalogado como "a melhor descrição sobre algo". Essas descrições ficam como verdades e nós as utilizamos em nosso dia-a-dia. Até certo ponto, essas descrições fazem sentido, mas o conhecimento humano não está limitado à isto.
Trago aqui uma outra vertente, outra forma de pensar na "descrição da realidade".
O método fenomenológico vai dizer que é impossível pensar um mundo em que o objeto observado possa ser suspenso de tudo aquilo que abarca em si e ser descrito com neutralidade pelo observador. Isso quer dizer que, ao ser descrito, o objeto não acaba ali, ele não se reduz à descrição apenas e unicamente. Podemos nos usar como exemplo, eu não sou apenas a descrição que as pessoas fazem de mim, sou a minha historicidade e tudo que me torno a cada dia. Logo, a descrição da realidade se torna apenas um ponto de vista sobre algo e não a verdade absoluta.
O autor e filósofo Merleau-Ponty vai nos dizer que a descrição da realidade é melhor feita através de um desenho, de uma pintura do que através de uma fotografia, pois ao desenhar ou pintar, estamos de frente para o desconhecido, não sabemos o que sairá do outro lado. E com fotografias, vemos a "cópia" de algo. É preciso ressaltar aqui que a realidade que nós descrevemos envolve todos os nossos sentidos, pois nós sentimos o mundo, literalmente. A nossa percepção da vida acontece através de nosso corpo, pelos nossos sentidos, não só através da compreensão lógica das coisas.
Há um ano mais ou menos eu ganhei um caderno, metade com itens para preencher e metade em branco, para preencher da forma como eu bem entendesse. Pensando no que fazer com a parte em branco, eu decidi que seria um caderno para desenhos e fixei duas regras. A primeira, não posso deixar nenhum espaço em branco, a folha tem que ser utilizada por inteiro. E a segunda, não existe "desenho feio", existe o meu desenho.
Antes disso, sempre que eu desenhasse algo, eu me julgava e pensava: "podia ter feito isso melhor, não ficou como eu imaginava". Porém, depois que passei a desenhar com essas duas regras em mente, minha visão sobre isso mudou drasticamente. O meu desenho não tem que ser o melhor desenho, ele é apenas a expressão de alguma realidade, seja um pensamento, alguma coisa que sonhei, alguma coisa que aconteceu comigo, não importa. Com o desenho eu transfiro dos meus sentimentos para o papel, e frequentemente passo por transformações, no que diz respeito às minhas emoções. Desde então, desenhar tem sido como uma válvula de escape.
O que eu quero concluir com este texto é que sempre que pensamos que devemos fazer o melhor para os outros, nos esquecemos de fazer o nosso, o que está de fato em nosso alcance.
O melhor pra quem? Quem é esta pessoa que vai fazer o julgamento se está bom ou não, certo ou errado?
Outra coisa que gosto sobre os desenhos que faço é que no fim eu sempre me surpreendo, porque eles nunca saem da forma como eu "planejava". Isso passou a ser algo bonito, legal.
Posso dizer também que isso afetou outras áreas da minha vida, pois passei a aceitar mais as coisas que eu tenho, como por exemplo roupas. Há alguns anos eu sentia dificuldade em decidir que roupa usaria para sair, pensando no que os outros iriam achar, tentando ser boa para alguém. Hoje o que me importa é que eu estou usando uma roupa que me representa.
O molde, o padrão normativo que rege muitos de nossos comportamentos individuais e em sociedade, na verdade é uma ilusão. Eu acredito que nunca será possível se encaixar em padrões assim sem deixar questões que nos fazem individuais, de fora.
Deveria nos ser ensinado nas escolas e em todos os lugares, que nós devemos buscar nossa autenticidade, que fazer as coisas pensando em nós mesmos não é errado, que se colocar em primeiro lugar é mais importante do que se encaixar num padrão. Certa vez ouvi dizer que se eu me colocar em primeiro lugar na minha vida, ninguém mais terá essa responsabilidade. E você, está tentando ser o melhor para alguém ou está fazendo algo para seu crescimento e desenvolvimento pessoal?
*BRUNA SILVA DE ARAÚJO - CRP - 06/1869
-Psicóloga graduada pela Universidade Anhembi Morumbi (2017);
-Atualmente estuda
a abordagem Fenomenológica Existencial;
-Realiza atendimentos clínicos na Estrada do Capuava, 4421, sala 210 – Vintage Offices / Cotia
Tel/WhatsApp:(11)966104949
Nota do Editor:
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Sou uma personagem e após essa linda e rica leitura pude perceber que a minha essência, da a mão e interage constantemente com todos os meus "eus".
ResponderExcluirObrigada por você existir.