segunda-feira, 25 de novembro de 2019

A Geração Híbrida






Autora: Denise Tremura(*)

Pertenço a uma geração muito peculiar: a das pessoas nascidas antes dos anos 90. Conhecemos o mundo antes da internet e hoje vivemos dentro dela. 

Híbridos entre analógicos e digitais, fomos testemunhas oculares de algumas das maiores transformações em tecnologia na história da humanidade. Sabemos que é possível uma vida fora da internet, ainda que, mesmo pra nós, isso pareça impossível.

 Acompanhamos o surgimento dos primeiros computadores caseiros, com o antigo sistema operacional MSDOS, que tinha uma janela preta em letras verdes luminosas e um cursor que piscava. Fomos apresentados à dona Internet como a tecnologia capaz de nos fazer trocar informações em tempo real com qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo, contanto que ela também estivesse diante de um computador conectado a uma linha telefônica. 

Me lembro de chegar na UNESP, onde eu cursava Letras, e ver alguns computadores instalados no pátio da universidade. Repórteres da TV anunciavam como uma grande novidade sobre o uso dos computadores. Quando a gente chegava, monitores nos mostravam textos trocados ao vivo com pessoas que estavam em outros lugares do planeta. Troquei algumas palavras com um jovem brasileiro que vivia no Japão. A princípio, não dei muita importância para aquilo. O telefone já não fazia isso, falar com as pessoas em qualquer lugar do mundo? Por que escrever, como em um telegrama? BIPs já trocavam mensagens em texto, afinal. Eu não entendia a dimensão daquilo tudo.

Alguns poucos começaram a ter computadores domésticos e entrar na web. De repente a internet começou a se popularizar. Quem não tinha um computador conectado em casa conhecia alguém que tinha e eventualmente usava para ver alguma coisa. Me lembro até hoje do meu primeiro computador, quase dois anos depois de lançada a tecnologia, quando já havia PCs a preços populares. Em minha memória, consigo ouvir perfeitamente o barulho de sinal de fax nas conexões em acesso discado. A internet era cobrada por minutos e esses sim, eram caros. Nós, os humildes, esperávamos dar meia-noite, quando a conexão custava apenas "um pulso telefônico" .

O princípio de tudo foi o e-mail, tecnologia utilizada até hoje para comunicação. Para navegar era preciso criar um endereço eletrônico. Depois veio o ICQ, o primeiro dos mensageiros instantâneos, hoje representados por Messenger e WhatsApp. Não havia Google; se você quisesse acessar um site, tinha que digitar o endereço correto dele, com o www  e tudo. Para ter internet precisava de um “provedor”, e estes se tornaram grandes portais de notícia, como Terra e UOL, que permanecem fortes até hoje, e AOL, que encerrou suas atividades no Brasil. Surgiram os chats, depois vieram os blogs, depois os fotologs. O Google com seu mecanismo de busca revolucionou a já revolucionária web e finalmente o Orkut trouxe a novidade de agrupar os amigos e formar uma rede social, ali mesmo, na internet. 

O restante da história todo mundo já conhece. As redes sociais vieram para mudar completamente a forma como nos comunicamos e a internet, de certa forma, constitui um universo paralelo onde temos uma extensão da nossa própria vida real. Vi surgir e desaparecer muita coisa desde a minha infância: o vídeo cassete, o walkman, a vitrola. Vi acabar o telefone público de ficha e vi aparecer o telefone celular, mas, sem dúvidas, de todas as mudanças e transformações que vi no mundo, a internet foi a mais impactante de todas elas.

*DENISE TREMURA


-Atriz e escritora;
Atualmente é considerada uma importante web influencer brasileira.










Nota do Editor:


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