Adriano da Silva (*)
Desde que comecei a trabalhar na rede estadual no ano passado, percebi que as propostas metodológicas para o trabalho em sala de aula muitas vezes são tratadas de forma superficial. Apesar das demandas e ações a serem desenvolvidas seguindo uma lógica de resolução de problemas — como "para o problema X, utilizamos a ferramenta A" —, o que observei ao longo desses dois anos é que poucas práticas eficazes de desenvolvimento têm sido implementadas de fato.
Foi nesse contexto que surgiu o termo "Metodologias Ativas", sugerindo que os professores deveriam reformular suas práticas pedagógicas e incorporar métodos ativos, mas sem instruções claras sobre como essas práticas deveriam ser aplicadas. Isso gerou um cenário de confusão, onde a responsabilidade de entender essas metodologias recaiu sobre os professores, enquanto a cobrança pela implementação vinha dos superiores.
As Metodologias Ativas (MAs) consistem em abordagens pedagógicas que colocam o estudante no centro do processo de aprendizagem, tornando-o o principal responsável pelo seu desenvolvimento, enquanto o professor assume o papel de mediador. De modo geral, as MAs oferecem diversas estratégias para que os alunos desenvolvam projetos escolares, e cabe ao professor escolher o caminho mais adequado. Entre essas estratégias, destacam-se a sala de aula invertida, o ensino híbrido, a gamificação, o aprendizado baseado em problemas ou projetos, entre outros.
Uma pesquisa rápida em artigos científicos revela a relevância dessas metodologias: no acervo de periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), há 3.501 produções nacionais sobre MAs em diversas áreas do conhecimento. Isso demonstra a importância dessas estratégias, que estão sendo incorporadas em diferentes níveis de ensino, desde a educação básica até o ensino superior.
É encorajador pensar que novas estratégias de ensino estão sendo desenvolvidas com base na visão do ser humano como um produtor cultural que transforma os ambientes que ocupa. Nesse sentido, a escola precisa ressignificar o processo de ensino-aprendizagem, conectando a realidade social às identidades dos estudantes.
A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) reforça essa necessidade ao definir as aprendizagens, habilidades e competências que os estudantes devem desenvolver ao longo de sua trajetória escolar, levando em consideração aspectos sociais, socioemocionais e curriculares. Para alcançar essas metas, é necessário investir em desenvolvimento, tecnologia e formação docente.
Portanto, o desafio não é apenas inserir novas estratégias de ensino, como as Metodologias Ativas, mas também garantir que os professores sejam adequadamente informados e formados para aplicá-las, já que essas mudanças interferem diretamente em sua prática diária.
Atualmente, a Secretaria da Educação oferece um ambiente virtual de formação (EFAPE), com vídeos semanais sobre temas diversos, além do projeto "Multiplica", que incentiva a troca de experiências entre professores da rede estadual. Embora esses projetos sejam importantes, eles não podem ser vistos como soluções completas. É essencial que o Estado invista em aumento salarial, plano de carreira, e cursos de especialização para os professores.
As metodologias ativas podem ser uma resposta às defasagens de ensino enfrentadas pelas escolas hoje, mas é fundamental que o diálogo entre os órgãos superiores e as escolas seja alinhado. Somente assim os planos poderão ser desenvolvidos, implementados e avaliados de forma eficaz, garantindo o sucesso dos projetos educacionais.
*ADRIANO DA SILVA
-Graduado em Pedagogia pela Universidade de São Paulo FEUSP (2020);
Pós graduado em Gestão de Projetos pela Universidade de São Paulo -ESALQ-USP (02/2024)e
Atualmente é professor da rede pública do Estado de São Paulo nas séries iniciais de ensino.
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