domingo, 15 de novembro de 2015

A dor e a delícia de ser quem se é


Como você trata a si mesmo na maior parte do tempo? Como você trata os outros? Como os outros te tratam? Você é capaz de notar as diferenças entre esses modos de tratamento? E com relação a uma falha ou a algo que você não gosta em si, como você lida? Como lida com as falhas dos outros? E eles, como lidam com as suas? Percebe alguma diferença agora?

A maioria de nós critica muito mais a si mesmo do que aos outros, aceita e convive melhor com as falhas e defeitos dos outros do que com os próprios. Isso acontece porque aprendemos que se não formos duros com nós mesmos, não vamos evoluir, se não nos criticarmos e nos punirmos, vamos nos tornar pessoas relapsas.

Paradoxalmente, porém, falamos o tempo todo sobre a importância de cultivar e desenvolver a autoestima, que é a forma como o indivíduo se sente e se avalia em relação a desempenho, características físicas, relacionamentos, personalidade, entre outros aspectos pessoais. O modo como as pessoas se avaliam está muito ligado a comparações com os outros: meu emprego é melhor que o de fulano, sou mais bonita que sicrano, minha nota é melhor que a de beltrano, e por aí vai.

Enquanto nos avaliamos como melhores do que os outros, conseguimos nos sentir bem com nós mesmos, então, é fácil ter autoestima. Mas o problema começa quando algo dá errado e descobrimos que falhamos ou que alguém é melhor que nós em um ou mais aspectos. Nesse momento, a autoestima nos abandona, a auto-crítica e a auto-punição entram em ação, e passamos a nos sentirmos como o pior dos seres humanos.

Então, a saída é cultivar e fortalecer algo que é anterior e está por trás da autoestima: a autocompaixão, ou seja, a capacidade de tratarmos nós mesmos como tratamos os outros, porque, diferente do que acreditamos, se cuidarmos bem de nós mesmos, se nos dermos carinho e afeto, isso vai nos motivar muito mais a passar por coisas difíceis e a nos tornarmos pessoas melhores.

Lembre-se de que você deveria ser sua melhor companhia, pois é você a pessoa que está consigo o tempo todo, que te conhece profundamente e sabe tudo o que você pensa e sente. O que você pensaria de um amigo que deixa o outro na mão quando ele mais precisa? Pois bem, é justamente isso o que fazemos com nós mesmos quando nos colocamos para baixo porque falhamos ou nos defrontamos com algo em nós com o qual e difícil lidar.

Quando nos criticamos por nossas falhas ou defeitos, isso é, no mínimo, injusto, porque somos seres humanos. Perfeição não existe, é ilusão querer alcança-la. Então, se você quer se tornar uma pessoa melhor, e apenas isso, porque para ser perfeito você terá de deixar de ser humano, o caminho passa por você começar a tratar a si mesmo como trataria a um amigo. Isso é autocompaixão. Portanto, na hora que você estiver passando por uma dificuldade e se pegar se criticando por isso, pare tudo e se pergunte: o que eu diria a um amigo que estivesse na mesma situação.

Se você ainda não está convencido dos benefícios de agir assim, as referências abaixo falam de pesquisas que comprovam que autocompaixão ajuda a diminuir o estresse e os riscos de doenças mentais, entre outros benefícios.

E não se preocupe, pois ao tratar bem a si mesmo, você não se tornará arrogante ou egoísta, muito pelo contrário: fazendo isso você vai desenvolver ainda mais sua capacidade de ver os outros como seres humanos iguais nas diferenças; e vai conseguir cultivar a verdadeira autoestima, que é a capacidade de continuar a se sentir bem consigo mesmo apesar dos seus defeitos e falhas.

Para finalizar, um alerta muito importante: cuidado para não confundir auto-compaixão com auto-piedade, pois o objetivo é que você aceite suas falhas e defeitos como partes suas, e não que você ache que é só isso e sinta pena de si mesmo.

REFERÊNCIAS:

autocompaixao-como-voce-trata-a-si-mesmo-3-dicas-uteis.html

http://super.abril.com.br/blogs/como-pessoas-funcionam/como-desenvolver-a-autocompaixao-e-diminuir-o-stress/

http://www.papodehomem.com.br/cultive-mais-autocompaixao-ao-inves-de-mais-autoestima/

Por RENATA PEREIRA


-Psicóloga formada pela Universidade Prebsteriana Mackenzie;
 -Especialista em Terapia Comportamental Cognitiva pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP;
-Atende adolescentes e adultos em psicoterapia individual e em grupo.

CONTATOS:
Email: renatapereira548@gmail.com

Twitter:@Repereira548

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