domingo, 11 de setembro de 2016

Racismo: Humilhação e Sofrimento Psíquico


Em nossa sociedade têm-se a falsa ilusão que vivemos numa “Democracia Racial”. Enquanto isso, assistimos cotidianamente manifestações implícitas e explicitas de racismo. As redes sociais e o anonimato proporcionado pela internet fizeram cair por terra esta ideia fantasiosa que não existe racismo no Brasil. Numa frequência cada maior, vemos famosos e anônimos serem objetos de insultos racistas dos mais diversos tipos. O fato é que o racismo e suas consequências são promotores de humilhação e sofrimento psíquico. 

O sofrimento psíquico começa desde a infância, quando é negada a criança o conhecimento da sua própria origem, ao ser-lhe oferecida apenas a história europeia, ao se reproduzirem ideias, costumes e padrões europeus. As experiências de racismo na infância podem deixar sequelas irreparáveis. Nesta fase da vida se iniciam os primeiros “tapas” na identidade, autoestima e no sentimento de pertencimento das crianças negras. Afinal, não haverá identificação com as histórias e os valores europeus que lhes são transmitidos, daí o sentimento de inadequação.

Estas marcas são levadas para vida adulta, somadas, ainda, a outras situações de racismo vivenciadas no seu dia a dia, no trabalho, na pouca representativade na mídia e na arte e nas relações em geral. Além de lidar com o racismo no seu dia a dia, precisa lidar com as suas marcas trazidas da Infância, assim, o adulto negro precisa ser resiliente e se fortalecer. A quem recorrer? A psicologia tem poucos estudos na área e tem se mostrado ainda pouco efetiva no atendimento às pessoas em suas questões raciais. A psicologia precisa realizar uma autocrítica séria e buscar uma efetiva contribuição nesta área, para assim, cumprir com o seu papel de cuidar da saúde mental de todos aqueles que precisam.

A falsa crença de que não existe racismo no Brasil, dificulta a resiliência das pessoas negras, pois é posto em dúvida o seu sofrimento e as suas feridas. Eles mesmos se questionam se o seu sofrimento é genuíno, o que aumenta o sentimento de impotência, menos valia e abate ainda mais a sua autoestima. Ainda assim, há quem diga que o mundo está ficando “chato”, porque “tudo agora é racismo”. A sociedade não está acostumada a pensar criticamente, pois se analisarmos esse “tudo”, perceberemos o quanto de racismo há em nossa volta e os que não o sofrem, logicamente não o sentem e não o notam. Vamos exercitar um sentimento chamado “empatia” e vamos imaginar o quão chato é o mundo para os que sofrem na pele o racismo dia após dia e carregam suas consequências ao longo da vida. É preciso sim conversar sobre o racismo em todos os espaços, sobretudo, quem trabalha com saúde mental, buscando compreender esta realidade que se arrasta por séculos e enfrentando-a de frente. A psicologia não pode se eximir da sua responsabilidade nas questões raciais. Enquanto a empatia, ah, esta deixarei para falar no próximo artigo.

Por TÂMARA MELO AZEVEDO












-Mestre em Família na Sociedade Contemporânea;
-Professora universitária e
-Psicologa clínica.​ 

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