Eles caminhavam pela alameda desolada e úmida por um chuvisco persistente em entristecer os paralelepípedos e os neons dos outdoores, antes ásperos e hostis. Eles caminhavam cabisbaixos, os cabelos encanecidos a lhes ajudar a encharcar, ainda mais, suas roupas já por demais grudadas nos corpos.
Então, ela atravessou a alameda, desviando-se das poças e das buzinas frenéticas dos carros, e se acercou dele. Carregava consigo um sorriso disfarçado nos lábios, e só neles porque os olhos estavam tristes, quase lacrimosos. E ele lhe respondeu com um olhar não menos triste, mas sem riso algum.
Nenhum nem outro buscavam disfarçar a melancolia. De quando em quando, os dois falavam pouco ou nada, mas logo tornavam a calar-se, o silêncio dizendo mais que as palavras.
O pensamento de um passado ainda próximo penetrava em um e no outro, e foi andando com eles alameda abaixo.
Ao longo de 20 anos, a vida fora excessivamente benévola para com eles. Conheceram-se numa noite de muita música, de muita dança, de muito folguedo e de muitas gargalhadas soltas. A partir daí, a amizade farta que nasceu entre os dois, acabou por se transformar em algo mais que comoção, mais que amor, e muito mais que a paixão que ele e ela concebiam eterna.
No início, nada faziam que não fossem juntos e como se fossem um só. Comiam em um prato único. Bebiam em um copo único. Enrolavam-se em uma toalha única. Adormeciam sobre um travesseiro único. E acordavam em um corpo único, depois de sonhos e mais sonhos únicos.
O tempo passou, porém, sem que dele se dessem conta.
O envelhecimento que esvaece todas as coisas, não lhes foi menos implacável e impiedoso, Começou, indomitamente, pelo que lhes era mais vital: a doçura de suas palavras. Elas foram, assim, se definhando e se cerrando, até findarem-se em algumas poucas e raras sílabas.
Nos últimos meses, a marcante felicidade de outrora foi se desvanecendo, e a alma dele e a alma dela passaram a verter lágrimas silenciosas, as quais eles mal cuidavam de enxugá-las.
Neste exato momento, ao caminharem pela quebrantada alameda, só lhes resta olhar para longe. Para muito longe. Para onde tudo se esvai, e para onde jamais poderão consolar a saudade de si mesmos.
POR LUÍS LAGO
- Acriano, por criação ─ Paulistano, por adoção ─ Cearense, por paixão;
- Cronista, por obsessão ─ Artista plástico e fotógrafo, por distração ─ Psicólogo, por formação e
- Cronista, por obsessão ─ Artista plástico e fotógrafo, por distração ─ Psicólogo, por formação e
-Autor de "O Beco" (poesias) e de "São tênues as névoas da vida" (romance EM estilo de "realismo fantástico")
Nota do Editor:
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Seu blog é muito bom, bem escrito, textos maravilhosos.
ResponderExcluirParabens meu irmao, eu indico e compartilho!!
Texto fantastico!!