sexta-feira, 28 de julho de 2017

A Inversão de Valores e os Reflexos na Segurança Pública


A constante insegurança que enfrentamos nos últimos tempos têm nos deixados preocupados, e por conta disso buscamos alternativas para nos proteger da violência urbana. Não se trata de falar que esta não está presente na zona rural, mas sim, que não será abordada neste artigo.

Sabemos que a segurança pública é dever do Estado, óbvio que, com nossa colaboração. Como também é sabido que o Estado é falho no oferecimento destes serviços á população, prova disso são os altos índices de violência e de impunidade. Diante do exposto, e como já dito anteriormente, buscamos por conta própria uma forma de nos sentirmos mais seguros, isto vai desde a construção de muros com cerca elétrica, contratação de seguranças particulares, até a abstenção de ocupar espaços públicos a noite, a renúncia de hábitos comuns ao lazer e até mesmo adequação á novos meios de realizar tarefas comuns, tais como pagamentos de contas e funcionários, preferimos fazer tudo via aplicativos eletrônicos, transferência bancária. Tudo para evitar uma situação de perigo.

Ocorre pois, que estamos nos tornando reféns da violência ao tentarmos fugir dela, estamos atribuindo á nós mesmos a responsabilidade que é do Estado. Me chamou atenção um caso de latrocínio ocorrido na cidade que moro, Campinas, interior de São Paulo. O dono de um restaurante foi morto durante um assalto, no momento em que realizava o pagamento de seus funcionários. O que se ouvia da sociedade eram comentários do tipo: “ mas também, nesses tempos vai ficar pagando funcionários em dinheiro vivo”; “mas porque ele não fez transferência bancária, pagar em dinheiro é pedir pra ser assaltado hoje em dia”.

Como assim estão transferindo pra vítima a responsabilidade? Essa inversão de valores não tem e não pode ter cabimento, assim como bradamos aos quatro cantos do país que, a culpa do estupro não é da roupa que a mulher usa, também não é culpa do dono do restaurante que paga seus trabalhadores, com a renda de seu trabalho. Ora, não é culpa minha, o assalto em que o assaltante me ver com o celular na mão. Não podemos inverter os valores, tem que punir quem tira a vida, o patrimônio do outro e não quem perdeu a vida ou o patrimônio.

Estamos isentando o Estado de cumprir com seu papel que é nos oferecer segurança, quando culpamos a vítima invés de indignar-se pela falta de segurança, transferimos pra nós uma responsabilidade que não nos pertence.

Muito se investe na polícia ostensiva, PMs, Guardas Municipais, estas que cuidam de evitar que o crime aconteça, mas muitas vezes isso não é possível, e depois que ele ocorre o bandido sabe que se conseguir fugir da polícia preventiva, muito dificilmente ele será punido, ouvimos sempre : “a investigação prossegue”, e ninguém é punido, raras vezes há punições.

Essa certeza de impunidade estimula a violência, faz com que o crime se torne compensatório. É preciso investir na Polícia Repressiva, na investigação, e não tão somente naquela que está ali pra evitar, porque nem sempre isso é possível.

É preciso que haja uma indignação coletiva por parte da sociedade, que se cobre de quem é responsável pela garantia da segurança, e não de quem foi vítima da falta dela. É necessário que não façamos esta inversão de valores, temos liberdade de ir e vir, direitos garantidos pela Constituição Federal de 1988, não podemos deixar-nos contaminar pelo medo e pelo individualismo, não podemos nos tornar reféns da violência a ponto de nos condenarmos pelo crime do qual somos vítimas.

POR ALINE S. TELLES












-Bacharelanda em Direito na Universidade Paulista;

-Estagiária da Defensoria Pública do Estado de São Paulo;
-Natural de Alagoas, hoje residente e domiciliada em Campinas-SP;
São suas palavras: Como anseio por um Brasil melhor, no sentido político e social, escolhi cursar direito para a partir do judiciário contribuir para que essa melhora deixe de ser utopia.
Nota do Editor:


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