Vocês já ouviram falar sobre o Pré-Natal Psicológico (PNP)? É um conceito novo em atendimento perinatal voltado para maior humanização do processo gestacional e do parto e da parentalidade. O programa pioneiro em Brasília, propõe uma integração da gestante e da família a todo o processo gravídico-puerperal, num ambiente de encontros temáticos em grupo, com ênfase psicoterápica na preparação psicológica para a maternidade e paternidade e prevenção da depressão pós-parto (DPP).
Complementar ao pré-natal tradicional, tem caráter psicoterapêutico oferecendo apoio emocional, discutindo soluções para demandas que podem surgir no período gravídico-puerperal, como aquelas relacionadas aos mitos da maternidade, à sua idealização, à possibilidade da perda do feto ou bebê, à gestação de risco, à malformação fetal, ao medo do parto e da dor, aos transtornos psicossomáticos, aos transtornos depressivos e de ansiedade, às mudanças de papéis familiares e sociais, às alterações na libido, ao conflito conjugal, ao ciúme dos outros filhos, ao planejamento familiar, além de sensibilizar a gestante quanto à importância do plano de parto e do acompanhante durante o trabalho de parto e parto (Cabral e col., 2012, apud ARRAIS e col., 2014).
A gravidez pode ser sobrecarregada por muitos transtornos do humor, em particular, podemos destacar a depressão.
Ao contrário do esperado, têm-se na literatura e na prática com a maioria das gestantes e puérperas, especialmente as de classe média e baixa, a vivência na maternidade de algum nível de sofrimento psíquico, físico e social no período pré e pós-parto. Nesses momentos, geralmente, observa-se nas mães uma vivência relativamente de continuada tristeza ou de diminuição da capacidade de sentir prazer, a qual poderá ser transitória ou se tornará crônica, vale ressaltar, caso não sejam assistidas adequadamente (Santos, 2001, apud ARRAIS e col., 2014).
Infelizmente, essa informação segue no sentido contrário ao de uma crença popular muito difundida de que a gravidez é um período de alegria para todas as mulheres.
Define-se depressão pós-parto como um episódio depressivo não psicótico que é classificado assim sempre que iniciado nos primeiros doze (12) meses após o parto (Frizzo e Piccinini, 2005, apud ARRAIS e col., 2014). Infelizmente, esse tipo de depressão apresenta uma incidência no Brasil de até 20% dos casos após o parto, mas este índice aumenta para cerca de 30 a 40% se considerarmos as mulheres com perfil socioeconômico baixo e atendidas no SUS. Por isso, é possível afirmar que a prevalência de sintomas depressivos no pós-parto no Brasil encontra-se acima da média mundial.
A depressão pós-parto manifesta-se igualmente às depressões em geral (Baptista e col., 2004, apud ARRAIS e col., 2014), sendo que a pessoa sente uma tristeza muito grande de caráter prolongado, com perda de autoestima, perda de motivação para a vida, é incapacitante, requerendo na maioria das vezes o uso de antidepressivos (Rosenberg, 2007, apud ARRAIS e col., 2014).
Sabe-se que a depressão pós-parto ocorre em mulheres de todas as idades, classes sociais e de todos os níveis escolares. Ela pode acontecer com mulheres que desejam muito ter um filho, assim como com aquelas que não aceitam o fato de ter engravidado. Ainda, podendo ocasionar-se no nascimento do primeiro filho, do segundo, do terceiro, ou de outros.
Alguns fatores de risco ou fatores predisponentes para DPP são: ser primípara, conflitos e falta de apoio conjugal, evento de vida estressante, falta de apoio familiar e social, histórico pessoal ou familiar de doença psiquiátrica, mas principalmente a existência de episódios depressivos anteriores e durante a gestação e também, complicações obstétricas durante a gravidez ou imediatamente pós-parto; parto traumático; parto múltiplo e prematuro, abortos anteriores, partos de natimorto ou síndrome de morte súbita infantil.
É importante ressaltar que, caso a mãe apresentou alguma dessas histórias, ela requer mais atenção dos familiares e profissionais de saúde desde a gestação (Botega e Dias, 2002, apud ARRAIS e col., 2014), o que raramente é feito pelos obstetras que as acompanham no pré-natal.
Já em relação aos fatores de proteção são considerados o otimismo, elevada autoestima, suporte social adequado e preparação física e psicológica para as mudanças advindas com a maternidade (Cantilino e col., 2010, apud ARRAIS e col., 2014), boa relação conjugal e suporte emocional do companheiro (Frizzo e Piccinini, 2005; Arrais, 2005, apud ARRAIS e col., 2014). O estudo de Cruz e colaboradores (2005, apud ARRAIS e col., 2014) também observou que, quanto maior o suporte social do marido, menor a prevalência de DPP. Ou seja, a percepção da presença de suporte social, sobretudo do marido funciona como um protetor sobre a presença de DPP (Konradt e col., 2011, apud ARRAIS e col., 2014).
O mais importante é que o Pré-Natal Psicológico - PNP associado a fatores de proteção presentes na história das grávidas pode ajudar a prevenir a depressão pós-parto - DPP. A assistência psicológica na gestação, por meio da utilização do PNP, é uma importante ferramenta psicoprofilática que poderia ser implementada como uma política pública em unidades básicas de saúde, maternidades e serviços de pré-natal em todo o mundo.
REFERÊNCIA ELETRÔNICA
http://www.scielosp.org/pdf/sausoc/v23n1/0104-1290-sausoc-23-01-00251.pdf (ARRAIS, A. R.; MOURÃO, M. A.; FRAGALLE B. O pré-natal psicológico como programa de prevenção à depressão pós-parto. Saúde Soc. São Paulo, v.23, n.1, p.251-264, 2014.
POR MARCELA ALCANTARA HENRIQUE DA ROCHA - PSICOLÓGA CRP SP
06/118780
-Bacharel em Psicologia
- Unicastelo - Universidade Camilo Castelo Branco SP;
Atuação em Psicologia
Clínica - atendimento psicoterápico individual para adolescentes, adultos e
idosos. Orientação Vocacional;
Formação Complementar
em Projeto de Extensão: "Plantão Psicológico" - Centro de Formação de
Psicólogos - Unicastelo (2014);
Publicações em
Brazilian Journal of Health - artigo: "Depressão Ocupacional: Impacto na
Saúde Mental do Colaborador" (2015) (Fabio Pinheiro Santos, Marcela
Alcantara Henrique da Rocha) - disponível on-line no endereço eletrônico http://inseer.ibict.br/bjh/index.php/bjh
Telefone: (11)
98370-7839 (whatsapp)
E-mail: marcelarochapsi@gmail.com
Nota do Editor:
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A depressão pós-parto é uma condição clínica comum que apresenta sérias implicações para a mãe e para seu recém-nascido, um caso na minha familia foi trágico. Há indícios de uma possível ligação entre o hormônio de liberação de corticotropina (CRH) placentário e a incidência de depressão pós-parto, mas faltam evidências. Aqui no RS estão realizando um estudo com o objetivo de avaliar se aumentos progressivos do CRH placentário durante a gestação estão associados com sintomas de depressão pós-parto.
ResponderExcluirObrigada por essa tão importante publicação.