quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Breves Anotações sobre a Doutrina Espírita



Uma das coisas que sempre me intrigou diz respeito à nossa finalidade na Terra. E nunca poupei questionamentos a esse respeito. Nascido, criado e educado na fé católica apostólica romana, estudei em colégio mantido e dirigido por padres jesuítas, na cidade de São Paulo. Tive, inclusive, ainda no curso primário, como catequista, um padre dessa mesma ordem religiosa, boníssimo, mas que ao meu perguntar sobre alguns mistérios daquela fé, me respondia: "Meu filho, esses são dogmas da fé católica e deveis acreditar neles sem nenhum questionamento."

Para uma criança de sete/oito anos, isso nada esclareceu. Muito mais tarde, ao estudar as mais diversas religiões, vim a saber o que é um dogma, definido como um ponto indiscutível sobre qualquer fé religiosa. Ou seja, deveríamos ter sobre o tema a fé cega, indiscutível. E sempre a fé não esclarecida. É como dizer que a religião é um conjunto de regras dogmáticas, enquanto a espiritualidade te convida a raciocinar, a questionar sobre aquilo que não te convence. Enquanto as religiões falam de pecado e culpa, a espiritualidade, em especial a doutrina espírita, diz-nos para aprender com os erros.

Pois bem, correu o tempo, anos se passaram e a questão sempre a me preocupar. Como já mencionei, iniciei o estudo das religiões (quase todas ainda que de forma perfunctória) e me deparei com a Doutrina Espírita com a sua visão reencarnacionista ocidental, a me mostrar algumas das respostas que sempre estive a procura. E me aprofundei nos estudos sobre essa doutrina, na leitura de livros de inúmeros autores, sempre esclarecedores com suas redações rebuscadas, mas incisivas, o que me proporcionou a solução de questões até então insolúveis, as quais sempre olhei sob a ótica dos dogmas da fé católica.

É bom que se diga, nada tenho contra nenhuma religião, seja ela tradicional ou esotérica, respeitando-as e a quem com elas comunga. Me considero um universalista e espiritualista, aberto a todas as interpretações, sem nenhum sectarismo, preconceito ou proselitismo, mas, naturalmente, tenho as minhas convicções, decorrentes da minha vivência, razão mor pela qual reverencio quem pense diversamente de mim.

Convidado por este blog a externar comentários sobre a doutrina que abracei, me vi compelido a trazer ao conhecimento daqueles que tenham a mente aberta, alguns conhecimentos sobre a doutrina espírita, seus fundamentos, técnicas espirituais e outros que tais. Claro que sem a pretensão de esgotar a matéria, muito longe disso. Até porque, neste opúsculo, não cabem longas dissertações sobre o assunto.


Sem medo de equívoco, podemos dizer que a Doutrina Espírita repousa sobre um tripé:



Ela é Filosofia, quando, inserida no contexto filosófico tradicional, embora de cunho evolucionista e metafísico, pontua a necessidade de o homem ir em busca de seu autoburilamento, estimulando-o à averiguação de respostas às questões magnas da Humanidade: sua natureza, sua origem e destinação, seu papel perante a Vida e o Universo. Diz Kardec, "nascer, viver, morrer e renascer de novo, progredindo sempre, tal é a lei."

Ela é Ciência, porque se trata de um conjunto organizado de conhecimentos relativos a certas categorias de fatos ou fenômenos analisados empiricamente, catalogados e relatados por seus pesquisadores, representado pelo O Livro dos Médiuns. Diz Kardec, "a fé sólida é aquela que pode encarar a razão, face a face."

Ela é Religião, porque tem o dom de unir os povos em um ideal de fraternidade, preconizado por Jesus de Nazaré, permitindo, dessa forma, que o homem se encontre com o próprio Criador. Diz Kardec, “fora da caridade não há salvação.”

Talvez para muitos, o que quer que eu diga em nada mudará suas convicções, principalmente porque não é essa a intenção. Mesmo porque só o tempo e a vivência são os fatores que podem nos levam às mudanças. Este breve ensaio não deseja fazer prosélitos, adeptos ou arautos para a doutrina espírita. O que me anima e impulsiona é exatamente evitar que se continue a pronunciar aquele jargão: “Não conheço e não gosto”. Os leitores podem até não gostar, mas isso não se dará por uma absoluta ignorância.

Prosseguindo, duas são as formas existentes para abraçarmos essa doutrina: pelo amor ou pela dor. A grande maioria, na qual inclusive me incluo, nela adentra pela dor. Mas que Pai impiedoso é esse que obriga seus filhos ao sofrimento?
A Codificação de Allan Kardec, através das inúmeras obras por ele produzidas (o “Evangelho Segundo o Espiritismo”  e outras obras como o “Livro dos Espíritos”, o “Livro dos Médiuns” e tantas mais), nos traz a compreensão de nossa destinação na Terra, mostrando-nos uma imperiosa necessidade de reforma de conduta, nos fazendo repensar a máxima que notabilizou um famoso jogador de futebol que, fazendo propaganda de uma marca de cigarros, dizia o bordão “eu gosto de levar vantagem em tudo”. Pois bem, essa reforma íntima que a doutrina espírita espera de nós, seus adeptos, é notável e levará, se encampada por todas as religiões, a uma paz interior agradabilíssima, tirando de nossas costas um peso imenso que carregamos aleatoriamente.

Para saber a razão de tanto sofrimento dos espíritos encarnados aqui na Terra, temos de levar em conta qual a destinação que lhe é dada na escala evolutiva dos mundos. Ela está situada apenas no segundo degrau evolutivo, tendo abaixo dela apenas os mundos primitivos. A Terra está classificada como um mundo de Provas e Expiações, ou seja, a felicidade (felicidade é muito mais do que alegria) não é deste mundo. Nós, os seus habitantes encarnados, estamos em sintonia vibracional com esse mesmo estágio evolutivo. Eis aí a razão de tantas dores, culpas e sentimentos negativos que nos cercam, uma vez que viemos, sponte própria, resgatar os nossos erros pretéritos acumulados ao longo de nossas múltiplas encarnações, considerando a eternidade do espírito que nos anima sempre. Vivemos milhares de reencarnações e já passamos em mundos semelhantes à Terra, e anteriormente a isso, nos denominados primitivos. Muitas vezes, nossa reencarnação, em razão de nosso livre-arbítrio, não avança, mas também não regride. Parte-se do princípio de que tudo evolui, sempre.

Se fizermos aos outros aquilo que gostaríamos que nos fosse feito, não teremos justificativa alguma para eventual erro de conduta ou procedimento. Isso é o Evangelho de Jesus, na sua autêntica prática e vivência diária. Algumas passagens desse relicário de ensinamentos, nos mostra, de forma bem perceptível, as assertivas acima expostas. “A CASA DE MEU PAI TEM MUITAS MORADAS” significa dizer que existem muitos mundos na imensidão infindável do Universo, iguais à Terra, também piores e melhores. “A FELICIDADE NÃO É DESTE MUNDO” significa que podemos ter alegrias na Terra, mas não dispomos de felicidade como concebida em mundos mais elevados.

Segundo o meu pensar, a Terra está em fase de transição e passará de um mundo de provas e expiações para um mundo de regeneração. O tempo, ah, o tempo! Ele não se mede como nas mentes humanas terrenas. A ideia de Céu e Inferno revela-se, na doutrina espírita, como um estado de alma (espírito). Aquele que segue os preceitos de amor ao próximo, enaltece a fraternidade e age como um bom ser humano, seja ele fiel a religião que for, não sofre com as aguilhoadas da consciência, o verdadeiro inferno que vive em nós. E como se identifica o bom ser humano? Perceba naquele que vivencia a Lei do Amor, que substituiu, com a vinda de Jesus, a lei Mosaica, onde sempre predominou a máxima “olho por olho, dente por dente”. Portanto, encontramos espíritos encarnados com o rótulo de cristãos entre os que comungam de outros credos, desde que norteados pela lei de amor ao próximo.

E, se somos estimulados a viver a Lei do Amor, temos necessariamente que albergar em nossos corações o PERDÃO. Como disse Jesus ao ser questionado por Pedro, o apóstolo, se ele deveria perdoar seu irmão sete vezes. Disse Jesus, em resposta: “Não, Pedro, não deveis perdoar seu irmão sete vezes, mas sim setenta vezes sete vezes”.  Sublime resposta que nos deve servir sempre de lição.

Mas perguntarão alguns: como executar isso? Nosso alcance espiritual ainda está muito longe de seguir à risca as recomendações de Jesus. Mas é exatamente isso que pretendemos dizer com a reforma íntima: abdicarmos, o quanto possível, dos sentimentos como o orgulho, o egoísmo, a avareza, a maledicência, a cupidez, a intolerância, respeitarmos aos que pensam diversamente de nós, dos que odeiam; abraçarmos, o quanto possível a tolerância, a indulgência, a benevolência, a humildade, a paciência e o perdão, dentre tantos outros predicados que nos foi por Ele exemplificados.

A mim parece evidente que a grande maioria de nós ainda está no estágio inicial dessa procura, outros nem mesmo a veem. Ainda predomina, entre os terrícolas, o pendor à maldade. Nos chegam diariamente informação sobre atos de corrupção, assassinatos e massacres selvagens, enfrentamentos, ódios fraticidas e tantas outras mazelas tão próprias dos seres humanos ainda no início de suas caminhadas. Passados mais de dois mil anos de sua vinda, o império do Amor preconizado por Jesus está anos-luz distantes de nossas aspirações, imantados por pensamentos escusáveis residentes em nossas mentes poluídas pelas sensações carnais, pelo prazer mórbido, pelos sentimentos menores. Sim, verdadeiramente, convivemos com espíritos encarnados de variados níveis de evolução.

E é de nossa ação, sem nos arvorarmos como alguém superior, olhar para esses espíritos com misericórdia, porque ainda envoltos nas sombras da ignorância espiritual. E a doutrina espírita vem como um farol luminoso no mar encapelado da vida humana, trazendo esses espíritos para um porto seguro, no constante rodar da evolução.

Em suma e na minha opinião, a doutrina espírita veio como a Revelação prometida por Jesus para a melhoria e evolução da Terra e de seus habitantes.

POR SERGIO LUIZ PEREIRA LEITE
















-Advogado militante;
-Eterno aprendiz da Doutrina Espírita e
-Trabalhador na seara da Apometria.

Nota do Editor:

Todos os artigos publicados no O Blog do Werneck são de inteira responsabilidade de seus autores.

3 comentários:

  1. Caríssimo, minha bisa dizia que futebol e religião são temas que não se discute.😁

    Penso que a fé é algo que não apenas professado mas seriamente vivido.

    No contexto 🇧🇷 infelizmente não podemos afirmar que seja qual for a religião professada ela está sendo vivida. Como destaque aponto as palavras de Kardec
    " Nascer, viver e morrer e renascer de novo, progredindo sempre, tal é a lei"; mas onde está o progresso do povo brasileiro seja qual for a sua fé? Vejam as pesquisas e os aeroportos... esse povo tem fé em algo?

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  2. Caríssimo, minha bisa dizia que futebol e religião são temas que não se discute.😁

    Penso que a fé é algo que não apenas professado mas seriamente vivido.

    No contexto 🇧🇷 infelizmente não podemos afirmar que seja qual for a religião professada ela está sendo vivida. Como destaque aponto as palavras de Kardec
    " Nascer, viver e morrer e renascer de novo, progredindo sempre, tal é a lei"; mas onde está o progresso do povo brasileiro seja qual for a sua fé? Vejam as pesquisas e os aeroportos... esse povo tem fé em algo?

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  3. Explanação e comentários perfeitos sobre religião, filosofia e ciências. Comungo de mesma opiniao. O espiritismo desde os tempos de Cristo expandiu-se de maneira pródiga, apesar de ainda mostrar-lhe para muitos como atos perniciosos a religião por não terem fundamentos sobre o mesmo. Acredito ser toda religião, espírita, usando como exemplo os católicos. Os padres em suas palestras proferem sentimentos perfeitamente espirituais, mas não podem e nem lhes é permitido dizer. Por isso estou plenamente de acordo com a matéria escrita. Parabéns.

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