domingo, 21 de outubro de 2018

A Relação Fraterna: a Importância do Irmão na Estrutura Familiar


Não é fácil escrever sobre a importância do irmão na estrutura familiar, para a constituição da sociedade e para a estrutura de personalidade de um indivíduo. Essa dificuldade ocorre, pois não há disponibilidade de material sobre o assunto.

Vários são os questionamentos que faço diante das relações fraternais:  O que me torna igual a eles? O que me diferencia deles? Observo comportamentos e vejo as contradições e semelhanças existentes  em sujeitos que tiveram a mesma origem, os mesmos princípios éticos e morais.

Considero importante expandir o conceito de relação fraternal, não apenas para indivíduos  com vínculos consanguíneos, mas também das relações fraternais que foram eleitas, aquelas as quais escolhemos um irmão para estar conosco na jornada da vida.

Na Grécia antiga a palavra PHATER era utilizada para designar "aqueles amigos que ofereciam  sacrifícios aos  deuses, e juntos se banqueteavam.” Com isso é assertivo dizer que fratria “refere-se desde o seu princípio, aqueles tidos como iguais, que nutrem laços identificatórios entre si." (Guimarães, 2014).

É dentro da fratria (digo, da relação fraterna) que são expressos sentimentos de inveja, ciúmes,  ódio e de agressividade. Mas, também  entramos em contato com o amor, com o companheirismo, com o sentimento de alteridade.  Essa relação nos possibilita o contato com sentimentos ambíguos, sendo essa uma característica muito importante, pois é a partir dessa incongruência que nos tornamos sujeitos singulares. Os irmãos são importantes para a constituição de nossa psique.

Para Kehl (2000) é necessário o outro semelhante (digo, o irmão) para que o processo de torna-se sujeito, com personalidade única e própria,  seja efetivado.  

No contexto social é possível afirmar que a defrontação de sentimentos faz com que o indivíduo aprenda, desde cedo,  a solucionar conflitos, a conviver em grupo e a compartilhar. Além de aprendermos a nos relacionar de forma horizontal, sem hierárquica, diferentemente, do que ocorre na relação parental.

Os estudos feitos com os "Orfãos de Terezin[1]" mostrou que a relação horizontal fraterna substituiu a relação parental. Neste contexto específico não foi observado a presença de rivalidade e agressividade entre as crianças, mas evidencia a desconfiança dos mesmos com os adultos.

Uma das estruturas principais das funções familiares é a função fraterna, pois quando a  estrutura familiar falha  no suporte para desenvolvimento do sujeito, a fratria dá assistência diante das dificuldades enfrentadas pelo individuo. 

Downing (1991) diz:

"Embora nossa cultura pareça consentir a liberdade de deixar os irmãos para trás, afastarmo-nos dessa relação, nossa tendência é regressar a ela nos momentos de celebração – casamentos e nascimentos – e nos de crise – divórcios e mortes." 

Diante de várias leituras, pesquisas e vivencias, posso afirmar que  as relações fraternas  são aquelas que permitem com que nos tornemos sujeitos únicos,  que nos propiciam enfrentar adversidades com mais força e resiliência e que nos ajudam a escrever nossa história de vida. Deixo aqui minha gratidão aos meus irmãos de vínculos consanguíneos e os irmãos que elegi na caminhada da vida. Hoje a certeza é que tenho muito de vocês em mim e um pouco de mim está em vocês.
Desejo que mais relações fraternas sejam estabelecidas. Acredito que com isso teremos um mundo mais acolhedor.

REFERÊNCIA

 [1] Grupo formado por 6 crianças que perderam seus pais assassinados pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Os estudos foram feitos por Anna Freud e Sophie Dann.

Bibliografia

DOWNING, C. Espelhos do Self. As imagens arquetípicas que moldam a sua vida. Irmãs e Irmãos. Trad. Maria Silvia Mourão Netto. São Paulo: Cultrix, 1991; 
BARCELLOS,G.  O irmão – Psicologia do Arquétipo Fraterno. 2. ed. Editora Vozes, 2010; 
GUIMARÃES, Jonathan Araújo. O Reflexo do complexo: Fraternidade, Personalidade e Psicanálise. Campina Grande – PB, 2014.


POR KEITY TEIXEIRA FONSECA VALIM













-Psicóloga Clínica;
-Especialista em Neuropsicologia pelo CEPSIC-ICHC/FMUSP;
Especialista clínica na abordagem analítica – Unicamp;
Experiência como coordenadora pedagógica, formação de professores e assessoria educacional;
contato: keityteixeirafonseca@yahoo.com.br

Nota do Editor:

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4 comentários:

  1. Lindo seu artigo, é concordo plenamente que teremos um mundo melhor quando as pessoas passarem a olhar o próximo com um olhar fraternal, ou seja, teremos mais amor e respeito em nosso meio.

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  2. Feliz e aquele aue alem da familia dos irmãos tem amigos pra chamar irmão.parabens

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