Marilice Mello(*)
Mais uma vez estou aqui para falar sobre inclusão e em especial a inclusão escolar de crianças com TEA, e fazer uma reflexão de que forma cada um de nós podemos contribuir. No artigo anterior escrevi sobre a inclusão de pessoas com Autismo, por meio do Surf com o projeto Onda Azul. Trata-se de uma inclusão ampla pois contempla muitas áreas, ou seja, a área social assim como da aprendizagem.
Diante disso podemos dizer que se faz necessário para a qualidade e eficiência da inclusão escolar de crianças com TEA, um trabalho prévio a fim de que sejam desenvolvidas as habilidades básicas para a aprendizagem.
Defendemos que para a inclusão escolar de qualidade a criança com TEA tem a necessidade de ser atendida por vários profissionais a fim de adquirir tais necessidades básicas para frequentar a escola e dessa forma os profissionais devem ter um trabalho na mesma linha a fim de alcançar melhores resultados e que sejam práticas baseadas em evidências.
Pensando nisso em abril deste ano, 2019, realizamos pelo segundo ano consecutivo em Piracicaba a semana de conscientização do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) com o tema da Inclusão escolar e as ações que podem ser realizadas na busca da qualidade desse atendimento dentro e fora da escola.
Para nossa surpresa a participação de pais e comunidade escolar, nos deixou muito animadas, e acreditamos que o interesse da sociedade em discutir a inclusão escolar de crianças com TEA está aumentando, com isso a qualidade da inclusão tende a melhorar, pois a partir do momento em que o conhecimento aumenta, aumenta a cobrança para com os órgãos públicos e a qualidade do atendimento também melhora.
Em 2018 o evento foi marcado por um baixo índice de participação, porém iniciou-se uma nova fase na cidade em que muitos profissionais sentiram a necessidade de também se pronunciar e em 2019 os eventos de conscientização, assim como cursos foram oferecidos em grande número e qualidade altíssima para a população.
Nossa equipe foi formada com diferentes profissionais, entre eles, pedagoga, psicopedagoga, psicóloga, fonoaudióloga, neurologista, advogada, odontóloga e uma mãe de uma criança de 10 anos com TEA, que realizaram as palestras de acordo com o tema proposto dentro de suas linhas de atendimento com diversas metodologias, ou seja diferentes olhares para a prática. Tivemos a parceria de dois locais para a realização das palestras, o SENAC Piracicaba e a Faculdade Salesiana Dom Bosco Piracicaba com alunos e professores do curso de pedagogia.
Trouxemos uma inovação que é a odontologia contribuído para a aprendizagem da criança com TEA, que está diretamente relacionado à qualidade do sono da criança. Crianças com TEA geralmente tem um sono superficial o que leva a ter ainda mais dificuldades no aprendizado. Criança que tem um sono profundo consegue aprender com maior facilidade, conforme estudos científicos. Em alguns casos é necessário o uso de um aparelho específico para a melhora do sono. Foram muitas perguntas, a plateia se mostrou interessada em conhecer mais sobre o assunto.
Pensando na importância dos atendimentos serem com profissionais especializados em atender as crianças com TEA, e estes com práticas baseadas em evidências, trouxemos também para falar com os pais e comunidade escolar, uma advogada com vasta experiência em planos de saúde, para esclarecer dúvidas a respeito dos atendimentos conveniados. Foi muito bom, e diante das respostas as perguntas feitas, o público pode entender muitas coisas sobre os diretos de seus filhos e alunos.
Por sua vez a neuropediatra orientou sobre as características das crianças com TEA, e a necessidade de um diagnóstico precoce a fim de iniciar o tratamento de uma forma mais certeira. O Transtorno do Espectro do Autismo é um conjunto de transtornos neurológicos que afeta o cérebro, são déficits persistentes na comunicação, interação social e no comportamento em vários contextos. Em alguns casos se faz necessário além das terapias o uso de medicamentos específicos para cada criança.
A psicóloga, especialista em Análise do Comportamento Aplicada (ABA), trouxe sua contribuição alertando as famílias sobre a importância de os atendimentos, mais uma vez, estarem pautados em práticas com evidências e apresentou algumas delas como sugestão para os ouvintes. Profissionais que trabalham coerentemente com seus objetivos e caminham juntos para o bom desenvolvimento de seus clientes. Sua prática baseia-se em evidências pautada na Análise do Comportamento Aplicada (ABA) para crianças com TEA.
A pedagoga, especialista em ABA, enfatizou a importância do trabalho voltado ao desenvolvimento das habilidades básicas como pré-requisito para a alfabetização como: atenção (sentar, esperar, contato visual); imitação (movimentos, gestos, sons e outros); linguagem receptiva (seguir instruções, identificar partes do corpo, identificar pessoas familiares, objetos, figuras); linguagem expressiva (apontar em direção a itens desejados, produzir sons com função comunicativa, nomear pessoas familiares, nomear objetos, nomear figuras); pré acadêmicas (coordenação olho mão, emparelhar objetos, emparelhar figuras, emparelhar figuras e objetos, usar o lápis, usar a tesoura).
A partir daí o professor monta seu planejamento com o objetivo de conseguir fazer com que o aluno aprenda.
Em seguida a fonoaudióloga nos mostra a importância da comunicação para as crianças com TEA e como vem trabalhando de forma funcional a fala, e em alguns casos a comunicação alternativa. É importante pensar que o ato de falar vai além e busca uma fala funcional para a aprendizagem. Seu trabalho se baseia em D.I.R.- Floortime, assim como a psicopedagoga.
A psicopedagoga e mãe de um adolescente de 17 anos com TEA, falou sobre suas experiências como mãe e como profissional. Deu seu depoimento sobre as diferentes etapas da vida de seu filho, com ênfase na inclusão escolar.
A mãe da criança de 10 anos, contou-nos como foi o processo de inclusão de seu filho nas escolas que frequentou. Uma das grandes conquistas foi trazer as professoras e coordenadora da escola para participar das atividades da semana de conscientização do TEA, isso faz com que cada vez mais os profissionais conheçam a síndrome e possam trabalhar com mais propriedade com seus alunos.
As orientações para os profissionais e em especial para os professores presentes para o trabalho de sala de aula foram: não se alterar e não valorizar as reações excessivas da criança; redirecionar a atenção e a ação da criança; falar baixo, manter o mesmo tom de voz e o contato visual; corrigir ensinando, com modelos; penetrar nos afetos da criança; concentrar-se no contato visual; trazer sempre o olhar da criança para as atividades que ele está fazendo; entreter-se com as suas brincadeiras; procurar sempre enriquecer a comunicação; mostrar a cada palavra uma ação e a cada ação uma palavra; tornar hábitos cotidianos agradáveis; fazer tudo com serenidade, mas com voz forte e firme; executar uma atividade de cada vez; trabalhar a função simbólica por meio de livros, contação de histórias, música, artes e outros canais sensoriais; privilegiar os vínculos afetivos; estimular uma boa alimentação; disciplinar a atividade e não imobilizar o aluno; ele precisa confiar no seu professor.
Para uma verdadeira inclusão existe a necessidade de se formar grupos de estudos nas escolas, para a discussão e a compreensão dos problemas educacionais, à luz do conhecimento científico e interdisciplinarmente. Grupos organizados espontaneamente pelos próprios professores, no horário em que estão nas escolas. Essas reuniões têm como ponto de partida, as necessidades e interesses comuns de alguns professores de esclarecer situações e de aperfeiçoar o modo como trabalham nas salas de aula com crianças com TEA.
Para finalizar deixo aqui um questionamento: Como está a inclusão de crianças com TEA em sua escola? *MARILICE PEREIRA RUIZ DO AMARAL MELLO
-Pedagoga, doutora e mestre em educação;
-Consultoria em assuntos educacionais e
-Dirigente de Escola de Educação Infantil
Nota do Editor:
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