Autora: Cinara Ferreira (*)
É muito comum ouvirmos pessoas dizendo que gostariam de ler mais. Embora se verifique um aumento significativo na venda de livros no Brasil, o país ainda tem baixos índices de leitura, estimando-se que o brasileiro, em média, lê 5 livros por ano, segundo uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro.[1] Essa média é baixa se levarmos em conta a de outros países, em que se lê em torno de 25 livros ao ano, ou seja, 5 vezes mais.
O paradoxal é que nunca se teve tanto acesso a textos como temos hoje. Há uma diversidade de gêneros textuais disponíveis na internet que podem ser acessados a qualquer hora por todos, incluindo textos jornalísticos, literários, científicos, filosóficos, religiosos, entre tantos outros. Então, por que ainda é comum a queixa de que se lê pouco?
De fato, as pessoas leem muito na rede. No entanto, o que acontece é que, em geral, são leituras superficiais, que nem sempre são planejadas por quem lê. As redes sociais induzem ao consumo de conteúdos diversos, que encaminham a outros conteúdos, resultando numa atividade de leitura repetitiva e fragmentada, que leva muito mais à exaustão do que à satisfação.
Esse tipo de exercício de leitura acaba sendo frustrante para muitos, que gostariam de ler mais e melhor. Ler artigos, notícias e postagens aleatórias nas redes sociais é diferente de ler um romance, um livro de contos ou poemas. Ao ler uma obra literária, desenvolvemos o pensamento contínuo, ou seja, não fragmentado, pois somos levados a acompanhar o enredo de narrativas e a decifrar a linguagem poética. Além disso, exercitamos nossa capacidade de imaginação e interpretação, o que aumenta nossa criatividade, o senso crítico e a sensibilidade estética. A identificação com o eu lírico do poema ou com personagens de ficção promove ainda a catarse, ajudando-nos a lidar melhor com nossas questões existenciais.
Não se trata de demonizar a internet que, afinal de contas, nos possibilita o acesso ao conhecimento de modo nunca visto, e isso não tem preço. Trata-se de investir tempo e energia em ações voltadas à formação de leitores exigentes e qualificados, que não se contentem com o que os algoritmos determinam para a sua leitura. Ler demanda esforço e disciplina, mas garante o prazer de descobrir mundos novos e de entender melhor a si mesmo e aos outros. Vamos ler mais?
Referência
[1] Os dados foram recolhidos em pesquisa divulgada na 5ª edição dos "Retratos da Leitura no Brasil", desenvolvida em março de 2019, pelo Instituto Pró-Livro.
-Doutora em Letras na área de Literatura Comparada, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (2004) e
-Docente do Instituto de Letras, da UFRGS.
-Docente do Instituto de Letras, da UFRGS.
Nota do Editor:
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Ótimo texto.
ResponderExcluirImpossível de acreditar que o brasileiro realmente leia cinco livros por ano! Sim, temos um arcabouço imensurável de temas lançados, mas; acreditar que nosso povo de maneira geral leia cinco livros é um paradoxo!
ResponderExcluirLer é um hábito como tomar banho, ou fazer exercícios, todo mundo sabe que é importante, mas adotar hábitos saudáveis não faz parte dos planos dos tapados.
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