sábado, 27 de agosto de 2022

Ensino Superior: num semestre, três modelos!


 Autor: Rodrigo Prando(*) 



Nas universidades temos, quase sempre, a discussão de que suas atividades se encontram alicerçadas sobre um tripé: ensino, pesquisa e extensão. A pandemia nos colocou desafios em todas as dimensões da vida universitária, contudo, a mais impactada foi aquela ligada ao ensino. Em grande parte das IES – Instituição de Ensino Superior – a sala de aula, presencial, com alunos e professores ainda é essencial e a sociabilidade, naquele espaço, transcende a mera transmissão de conteúdo.

Num cenário pandêmico, o primeiro choque foi a interrupção das aulas. Ninguém, ninguém mesmo, tinha consciência de como lidar com uma situação extraordinária. De uma hora para outra, professores e alunos estavam em suas casas e angustiados se perguntando em como se daria o prosseguimento do processo educacional. Infelizmente, a grande maioria das crianças, jovens e jovens adultos padeceram – no Brasil, especialmente – com a impossibilidade de continuidade das aulas presenciais e da ausência de recursos tecnológicos que poderiam auxiliar a equacionar ou resolver parte do problema. Não nos enganemos: os prejuízos à educação serão sentidos e mensurados durante um bom tempo e, ainda, aprofundaram problemas estruturais já bem conhecidos em nosso país.

Dos vários desafios vividos no bojo da pandemia a manutenção das aulas foi o principal. Num primeiro momento, as aulas foram gravadas, bem como as atividades acadêmicas (trabalhos, provas etc.) eram enviados para os alunos. Na universidade que trabalho, temos uma plataforma educacional, o Moodle, e ali disponibilizamos aulas e materiais. Depois, com mais prática, apoio pedagógico e tecnologia as aulas passaram a ser assíncronas e síncronas. As aulas assíncronas, ou atividades, eram gravadas ou postadas e os alunos as realizavam num dado tempo determinado pelo professor. Houve, entretanto, as aulas síncronas, nas quais alunos e professores, de suas casas, usavam uma sala de aula virtual. Nesse momento, os professores com suas câmeras abertas, usando seus computadores ou celulares, ministravam o conteúdo e buscavam interagir com seus alunos. Estes, os alunos, majoritariamente, com as câmeras fechadas e interagiam pelo chat escrevendo durante a aula ou, então, usavam o áudio. Quando um aluno ou grupo de alunos de uma turma usava câmera e microfone abertos era, ao menos para mim, uma enorme alegria, já que ministrar aula para uma tela de notebook e vendo sua própria imagem durante meses era, não raro, enfadonho.

Foi no primeiro semestre de 2022 que, na universidade, vivenciamos três modelos distintos: 1) aulas on-line (alunos e professores em suas casas); 2) aulas híbridas (os alunos que quisessem poderiam vir à universidade e, ainda, outros ficariam em casa, pois as salas de aulas foram equipadas com modernas câmeras – a aula era, ao mesmo tempo, presencial e on-line; e, por fim, 3) aulas totalmente presenciais, como sempre foram, alunos e professores na sala de aula. Graças à ciência, à vacinação e à curva de aprendizado dos profissionais de saúde o número de mortos e doentes graves despencaram. Assim, aos poucos, com receios e alegrias, o campus da universidade voltou a ter vida: jovens conversando, rindo, professores se encontrando e se abraçando e tomando aquele café no intervalo das aulas.

Tendo a crer, prezado leitor e prezada leitora, que, nestes meus quase 20 anos de docência, no ensino superior, o primeiro semestre deste ano foi o mais desafiador e impactante de toda minha vida acadêmica. Aprendi muito, confesso. Sofri bastante, confesso também. O saldo, enfim, mostrou-se positivo, ainda que a pandemia tenha nos tirado amigos e parentes queridos.

*RODRIGO AUGUSTO PRANDO
















-Graduação em Ciências Sociais pela Unesp - Araraquara (1999);
-Mestrado em Sociologia pela Unesp - Araraquara (2003);
-Doutorado em Sociologia pela Unesp-Araraquara (2009);
-Atualmente, é Professor Assistente Doutor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas;

-Desenvolve pesquisas e orienta nas áreas de empreendedorismo, empreendedorismo social, gestão em Organizações do Terceiro Setor, Responsabilidade Social Empresarial, história e cultura brasileira, Pensamento Social Brasileiro e Intelectuais e poder político e cenários políticos brasileiros.

Nota do Editor:

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2 comentários:

  1. Quiçá nossos políticos e nossa sociedade como um todo houvesse aprendido algo nesta pandemia. Poucos aprenderam...

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  2. Ontem, 29/8, assisti ao programa Direto ao Ponto do jornalista Augusto Nunes. O entrevistado foi Guilherme Fiúza (neto de Sobral Pinto). Neste livro, Guilherme Fiuza mostra que o mundo está mergulhando num totalitarismo disfarçado de proteção à vida humana. Com a habitual mistura de coragem, estilo e sarcasmo, ele projeta e explica como a chamada Agenda 2030 pode acabar com as liberdades individuais. Por que fiz essa conexão com seu texto? Os modelos de aulas que você citou já vinham, a passos lentos, imbricando-se no meio acadêmico. As plataformas de possibilidades de ensino (trabalhei também com Moodle - assíncrona, de início, em oficinas temáticas) possibilitaram transformações não só didático - pedagógicas , mas, também, legais quanto à estrutura de cursos, porcentagem da carga horária on line e tantas outras implicações na relação professor/ aluno/ instituição. Como você citou, foi a pandemia que, a toque de caixa, rs, provocou tudo isso. E o livro que mencionei traz um aspecto intrigante sobre quais setores do contexto mundial lucraram com a pandemia. Parabéns pela pertinência do texto. Stela Carrinho

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